domingo, 9 de julho de 2017

ASCENSÃO DO CAPITALISMO

João Vitor Wrobleski

É de conhecimento de quem estuda minimamente história, ou está por dentro do desenvolvimento da sociedade, o fato de ao longo dos séculos, haver uma variação relativa dos sistemas econômicos, não necessariamente um extinguindo o outro, mas muitas vezes, em convívio simultâneo em temporalidade, apesar de em geral, distinto geograficamente.
Ainda assim, o sistema econômico mais comum contemporaneamente, em maior geografia mundial, é sem duvidas o Capitalismo, “Me pague mil reais e lhe explico o porque!” Essa filosofia comumente atribuída ao capitalismo, pague por tudo, é o que vemos desenvolvida hoje, mas não significa que realmente precise ser de tal modo, lembremos que toda teoria pode ser manipulada por fanáticos de modo a representar muito além do que os próprios teóricos atribuem a tal. Mas de fato, hoje vemos uma supervaloração e extremismo do capitalismo na maior parte do mundo, mas busquemos entender como isso se deu inicio de modo tão amplo quanto temos hoje.
É importante entendermos o sistema vigente anterior ao capitalismo, em determinado período, o “velho mundo” passou por ocasiões conturbadas com invasões barbaras, e decadência das cidades, o que levou os proprietários de terras e “nobres”, a se refugiar nos campos, construindo grandes feudos para sua proteção e de suas famílias. Obviamente não é comum aos “nobres” trabalharem, surgindo assim, o sistema de servidão, não tão distinta da escravidão, onde quem não possuía terras para se refugiar, ou tinha terras, mas não meios de se proteger dos bárbaros, acabavam se submetendo a servidão de senhores feudais em troca de proteção. Essa servidão consistia em trabalhar no feudo (Grandes propriedades agrícolas, muradas com exercito próprio e autossuficientes em relação ao seu consumo) em troca de alimento residência e proteção (nada diferente da escravidão). Nessa época, como os feudos eram autossuficientes e os servos proibidos de transitar fora deles, a economia era individual de cada feudo, e a forma de ação em geral era representada por trocas de produtos. Somente mais tarde, começaria o uso de moedas, que nessa época não representavam uma necessidade.
Como todo sistema tende a falir e ser substituído por um novo, mais de acordo com os contextos da época, conforme a história nos mostra, o sistema feudal também entrou em seria decadência, com o passar do tempo esse tipo de sistema se torna obsoleto, os povos migraram em sua maioria para os campos, deixando as cidades desertas, os bárbaros que invadiam as cidades em busca de pilhagem, agora já não tinham mais o que roubar em cidades desertas, os feudos eram muito bem protegidos para que eles tentassem, o que enfraqueceu estes, que seriam um dos motivos principais do inicio do sistema feudal, sem mais a existência tão presente da ameaça, o próprio feudo começou a não ser mais representação de segurança, mas sim de prisão. É como hoje, vivemos em casas muradas, com alarme, câmeras, cerca,... Se vivêssemos em uma sociedade onde a insegurança não fosse tão grande, nos soaria ridículo nos submetermos a esse tipo de “prisão”, o medo e insegurança é o que nos faz aceitar sermos reféns de nossa própria segurança. Mas vemos facilmente com breve analise, as diferenças entre cidades pequenas e grandes capitais, em cidades pequenas, onde em geral a criminalidade costumava ser menor, nem sempre, em geral em cidades com menos índice de criminalidade, é comum vermos casas de muros baixos, pessoas com residências abertas e sem medo de roubos. Ou seja, quando não há ameaça real, as pessoas dificilmente apresentam grandes temores, e em geral, quando existiu a ameaça, mas está desapareceu, pelo percurso histórico, as pessoas tendem a perder o medo, e o que outrora representou segurança, agora é visto como aprisionamento.
Obviamente uma grande mudança de sistema, não ocorre de um dia para o outro, e por um único motivador, mas sim, um conjunto de fatores, que ao decorrer de um longo tempo influenciam mudanças significativas. Nesse caso, em conjunto com o enfraquecimento da ameaça bárbara, incluímos os comerciantes, que por motivos favorecedores transitavam entre os feudos, as brechas de alguns senhores feudais, que começaram a permitir que seus servos comercializassem fora dos feudos, até mesmo por fins lucrativos do próprio feudal, tudo isso em conjunto fez com que os feudos fossem entrando no mesmo processo de decadência, que anteriormente as cidades, haviam experimentado.
Com a decadência dos feudos, as cidades começaram a ser povoadas novamente, se fortalecendo o comercio, em detrimento da produção agrícola. {Abrindo aqui um pequeno recorte, apenas para lembrar, que estamos falando da Europa, África e Ásia que nessa época, não eram denominadas desse modo, mas territorialmente estamos falando daquela região, porem em outras partes do mundo temos histórias totalmente distintas e de outros sistemas socioeconômicos; por exemplo, poucos estudos e valorização se têm de como era o sistema socioeconômico das Américas nessa época, nossa mania de estudar a cultura europeia nos faz cair em uma hipocrisia de ver o mundo a partir do “velho mundo” nos esquecendo de que representam metade do planeta, não mais que isso.}
Com o comercio se fortalecendo, ocorrem acordos entre a burguesia (comerciantes), para favorecerem suas necessidades, primeiro criando uma moeda única para o território, tendo para isso apoio do rei, mais um golpe nos feudos, já em decadência. Posteriormente virão mais medidas econômicas e politicas, que derrubam de maneira destruidora os feudos, fortalecendo cada vez mais o comércio, e repovoando as cidades.
O comercio se encontra cada vez mais forte, mas ainda bastante artesanal, o meio de produção completo está na mão de uma pessoa, exemplo, o sapateiro beneficia o couro, corta, costura e entrega o sapato pronto. Mas essa produção é demorada e de pequena escala.
Na segunda metade do século XVIII, segundo Divalte (2005) iniciou-se um intenso processo de mecanização, onde a produção começou a deixar de ser de pequena escala concentrada na mão do artesão, para se tornar de grande escala dividida entre funcionários de uma fabrica. Os processos de produção deixam de pertencer a um artesão e se tornam divididos e sem ligações, um funcionário, produz apenas parte de uma “coisa” e não mais uma arte completa, como antes.
Isso facilita a velocidade e quantidade de produção, possibilitando um lucro maior, isso em conjunto com o novo habito da moeda unificada, possibilitou o enriquecimento de proprietários de fabricas de um modo exorbitante. Dando ai o grande Boom do capitalismo, a concentração máxima de capital (nesse caso dinheiro nas mãos de “alguns”) (DIVALTE, 2005)
Por volta de mil setecentos e noventa, o povo francês revoltado com a exploração do rei ao povo, e com a situação econômica decadente do país, exige mudanças politicas. Não suportam mais sustentar uma família real patética que come às custas do povo sem utilidade alguma. Revoltados o povo inicia uma grande revolução politica. Essa revolução levará a alteração do sistema politico e irá não somente afetar a Europa, mas segundo Divalte (2005) afetará o mundo todo.
Uma revolução no modo de produção, que possibilitou uma maior produtividade e geração de renda alta (mesmo que para poucos), uma nova forma de politica que incentiva o acumulo de bens e a meritocracia, além de novas interpretações religiosas como a protestante de Martinho Lutero, que trazem o acumulo de bens como sendo algo digno e merecido, e não como pecado da forma que a igreja inquisitiva colocava. Tudo isso em conjunto serviu de solo fértil para a ascensão do capitalismo, que para muitos é uma arvore bela e cheia de frutos, e para tantos outros tratasse de uma erva daninha a ser eliminada.
Fica aqui minha critica pessoal, aos críticos do sistema econômico:
Durante a monarquia reis acumulavam bens de maneira absurda enquanto o povo passava fome, não sendo diferente, no período dos senhores feudais. Entre os macacos, no seu bando, sua forma de organização social, o alfa, é acumulado de benefícios, em relação a alimento, deleite das fêmeas e questões territoriais, restando aos outros do bando, se contentar com o que o alfa os permite. Por tanto, a concentração de lucro e benefícios nas mãos de poucos, é algo que vai para além da nossa espécie, englobando inclusive outras espécies animais. Então vamos para de hipocrisia de agir como se as coisas somente fossem desiquilibradas unicamente por culpa do capitalismo. “O Homem é o lobo do homem” (THOMAS HOBBES). Nicolau: Nós somos responsáveis pelas injustiças, desigualdades e maldades, não um sistema politico ou econômico, pois os sistemas são comandados por homens, não por maquinas, ainda! Ou seja, em uma perspectiva Sartreana, nós somos o que fazemos e decidimos ser. E nossos sistemas políticos, religiosos e econômicos são reflexos do que somos.

REFERÊNCIA:

DIVALTE, G. F. História. Ática, 2ª ed. São Paulo S.P. 2005.

2 comentários:

  1. Tive que rir na frase "Pague mil reais que explico", bem a natureza do capitalismo mesmo, muito bem escrito seu texto, me lembrou um pouco do que George Orwell escreve em 1984, realmente, no momento não enxergo outro sistema econômico mais viável do que o capitalismo, o comunismo é lindo na teoria, mas na prática por diversas vezes se mostrou impraticável, um pouco talvez porquê o homem sendo ser imperfeito, tendo a ser cego diante do poder.

    Talvez, caminhamos para um futuro onde haja um sistema misto, meio capitalismo e comunismo, onde que não haja um consumismo absurdo, mas também que seja respeitado a propriedade, o empreendedorismo e a liberdade de expressão.

    Ou então talvez seja um lugar estilo Admirável Mundo Novo.

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    1. Realmente meu caro, o capitalismo da forma que caminha está fadado a nos destruir e posteriormente colapsar, mas a ideia de comunismo me parece absurda para uma especie animal como a nossa, que desde a base aprendeu a ser egoísta e privilegiar a si e os seus, antes de qualquer outro. Creio que o ser humano não possui maturidade e despertar consciente o suficiente para viver em plena comunhão.
      Sua visão de um meio termo entre capitalismo e comunismo, ou ao menos um despertar de consciência para a falsidade da meritocracia em conjunto com um capitalismo mais humano e menos objetos inanimados, já é uma ideia que me satisfaz.

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