quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A HISTÓRIA DE JOÃO E FABIO


WROBLESKI, J.V.

            João e Fabio nasceram no mesmo dia. A mãe de João foi atendida em um hospital público, ficou no corredor em uma cadeira, até poucos momentos antes do parto, quando finalmente foi levada para uma cama, pois o hospital sempre está lotado e tem dificuldades em disponibilizar leitos para toda a população.
            A mãe de Fabio foi atendida em um hospital particular, no qual seu marido trabalha como médico e é sócio. Teve um leito a sua disposição, desde o momento que sentiu os primeiros indícios de que era chegada a hora do nascimento do bebê.
            A mãe de João não foi tratada com muita atenção, pois a equipe médica é muito menor do que a demanda do hospital, fazendo com que tenham que atender várias pessoas ao mesmo tempo.
            Já a mãe de Fabio, foi tratada do melhor modo possível, pois apesar de a equipe não ser tão grande, dedicaram vários profissionais ao atendimento da esposa de um dos donos do hospital.
            Após o parto, a mãe de João ficou um tempo com seu bebê, durante a licença maternidade, mas logo teve que voltar para seu trabalho como funcionaria doméstica e precisou deixar o filho ainda bebê em um CEMEI, pois não contava com ninguém em sua família que pudesse cuidar do filho enquanto trabalhava. Ficar sem trabalhar seria inviável, ainda mais, tendo agora mais uma boca para alimentar, fraudas para comprar e todos os gastos comuns de um bebê.
            Precisavam da renda dela e do marido para sobreviver, pois somente com os novecentos e poucos reais do salário dela como doméstica e os mil e quinhentos reais do marido trabalhando como pedreiro, conseguem pagar os quinhentos reais de mercado, cento e cinquenta reais de luz, mais os cem reais de água e esgoto, roupas, que raramente compram, somente quando precisam, pois não podem se dar ao luxo de desperdiçar, as prestações dos moveis da casa para o recebimento do bebê, como berço, um carrinho de nenê, simples, mas ainda assim com um custo e por fim pagam oitocentos reais da parcela da casa própria que financiaram, para não ficarem desperdiçando dinheiro em aluguel, por fim acabam gastando por volta de mil e seiscentos reais por mês, sobrando menos de setecentos, que os pais de João guardam na poupança, pensando em ter um recurso caso tenham algum imprevisto, ou talvez mais tarde conseguirem negociar algum desconto quitando a casa antes do tempo.
            Já a mãe de Fabio trabalhou por algum tempo, mas ao engravida, decidiram que se dedicaria apenas a cuidar do filho, afinal com os ganhos de aproximadamente trinta mil reais por mês, do pai de Fabio, eles conseguem tranquilamente pagar todos os gastos, inclusive os novos referentes ao bebê.
            João e Fabio começaram a estudar na escola regular, João foi para uma escola pública, tinha trinta e cinco colegas de sala, a professora raramente conseguia explicar de maneira individualizada o conteúdo, mesmo João indo pedir a ela se poderia explicar melhor, ela o ignorava, algumas vezes afirmando que ele era “burro demais para entender”.
            Fabio foi para uma escola particular, tinha quinze colegas de sala e duas professoras, enquanto uma explicava o conteúdo para todos os alunos, outra ia de carteira em carteira esclarecendo as duvidas individuais.
            Aos doze anos a mãe de João foi chamada na escola, por causa das baixas notas do filho. A professora disse que se ele tirasse mais uma nota baixa em matemática seria reprovado de ano, pela segunda vez, já que ele havia reprovado a quinta série por não ir bem na mesma matéria, apesar de ter notas razoáveis em outras, e até mesmo um destaque nas notas da matéria de história. Mas o fato de ir mal em matemática, fez com que ele precisasse refazer toda a quinta série e agora aconteceria o mesmo na sexta série. A mãe de João ficou revoltada, pois o filho só tinha que estudar, ela se matava de trabalhar o dia todo para poder sustentá-lo, o pai a mesma coisa e ele nem para estudar prestava! Quando chegaram em casa, a mãe de João no auge de sua revolta, bateu no filho por várias vezes.
            A mãe de Fabio foi chamada na escola porque boa parte das notas de Fabio estavam baixas, a professora explicou para a mãe, que apesar de Fabio ir muito bem em artes e biologia, ele estava com notas muito baixas nas outras matérias. Ao chegarem em casa, a mãe de Fabio relatou a seu pai o que tinha ouvido na escola, ambos decidiram que a partir da outra semana, Fabio teria aulas particulares, para melhorar nas matérias que estava com notas baixas.
            João realizou uma prova de matemática, a matéria que precisava de nota, ao receber a avaliação corrigida, descobriu que sua nota era quatro pontos de dez, o que faria ele reprovar novamente de ano, mas João deu uma olhada na prova de um colega que se exibia pelo fato de ter tirado nove na prova e viu que o colega tinha respostas iguais a dele na maioria dos problemas apresentados na avaliação. Confuso se seria a forma de ele resolver que estaria errada, já que o resultado final era o mesmo, ele resolveu questionar sua professora a respeito, a resposta que ouviu da professora, foi que: “só um preto burro para querer me ensinar a fazer o meu trabalho.” Se revoltou com a afirmação, pois a essa altura da vida, já tinha sofrido vários episódios de racismo, que lhe davam plena consciência da agressão da professora. Sua resposta foi um murro no rosto dela, o resultado disso, foi à expulsão de João da escola. E uma notificação do conselho tutelar a seus pais. Novamente João é agredido pela mãe, mas ele não sente ódio da mãe, apenas fica confuso, como pode ele que foi agredido primeiro, ser punido por se defender, enquanto a professora racista, continuava em pleno exercício do seu preconceito na escola.
            Fabio após o acompanhamento com um professor particular, teve uma melhora nas notas, nada de grande destaque, mas o suficiente para ser aprovado de um ano para outro.
            João agora está pela rua, sem fazer nada além de jogar bola o dia todo, pois após ser expulso da escola, se recusou a ir para outra, seu pai depois de alguns meses, preocupado com as companhias que o filho estava andando, convenceu o mestre de obras a permitir que ele levasse o filho para o trabalho como seu ajudante. O mestre de obras de inicio ficou resistente, pela idade do menino, com medo de ser penalizado judicialmente, mas diante da angustia do pai com a possibilidade de o filho se envolver com o tráfico de drogas local, acabou aceitando, desde que se a fiscalização aparecesse, o pai de João dissesse que só o levou para o trabalho aquele dia, porque não tinha com quem deixar o menino.
            Fabio segue em seus estudos, agora já está terminando o primeiro grau, indo para o segundo e já começa a ser questionado por sua mãe e seu pai, a respeito do que ira fazer depois de terminar a escola.
            João já está com dezoito anos, trabalhando com o pai. O mestre de obras o sob de cargo, apesar de muito jovem, João é muito dedicado, que: “trabalha sem fazer corpo mole”, segundo o mestre de obras, ele acaba se tornando pedreiro ainda aos dezoito anos. Uma honra para seu pai, que tem orgulho em contar para todos os colegas, que ele próprio precisou trabalhar por mais de dez anos, como servente, antes de se tornar oficialmente pedreiro, enquanto seu filho, depois de cinco anos de trabalho, já ocupava o mesmo cargo que ele. Com a promoção, João, agora com um salário um pouco melhor, planeja voltar aos estudos e quem sabe até fazer uma faculdade, por que não? Talvez engenharia civil, já que parece levar jeito para a coisa.
            Enquanto isso, Fabio está no primeiro ano da faculdade de medicina, até preferia artes cênicas, mas sua mãe e seu pai lhe convenceram que era melhor estudar algo mais concreto, alguma profissão mais respeitada. Se fosse medicina, já teria emprego garantido, afinal, seu pai era sócio em um hospital, para conseguir uma vaga para o filho, seria muito fácil.
            João após cinco anos consegue concluir os estudos, em um sistema supletivo, muito contente, compartilha com a família sua vontade de fazer uma faculdade, seu pai e sua mãe, dizem que não tem sentido, que ele já está muito bem empregado, que deveria se dedicar ao trabalho ao invés de ficar procurando sarna para se coçar. Mesmo não tendo o apoio familiar, João não desiste de continuar estudando, pois no supletivo conheceu uma professora que o incentivou muito a nunca desistir de seus sonhos.
            Fabio já conclui sua formação na escola de medicina, e está em sua residência, planejando qual será sua especialização, após se formar clinico geral.
            João confere todos os cursos de engenharia civil próximos de sua cidade, teria que viajar, mas apertando um pouco seus gastos, até conseguiria pagar a van e ainda ajudar financeiramente em casa. Porém, todos os cursos de engenharia eram integrais, sendo que desse modo, João não teria como trabalhar. Desistiu dessa opção, mas não de estudar, então lembrou, que antes de ser expulso da escola, ele sempre teve boas notas na matéria de história, tentou o vestibular para esse curso, que afinal tem em sua cidade mesmo, e ainda é à noite, que lhe possibilita continuar no mesmo trabalho que está.
            Fabio agora formado médico, já iniciou sua especialização em pediatria, apesar do pai incentiva-lo a ir para a área cirúrgica que seria mais respeitado, dessa vez Fabio faz sua própria escolha, pois com sua paixão por artes cênicas, cativava facilmente as crianças. Quando as atendia, sempre ia vestido com alguma fantasia ou com nariz de palhaço, fazendo brincadeiras, era um dos poucos médicos que conseguia fazer procedimentos invasivos, sem que as crianças chorassem.
            João está em seu curso de história, estudando a escravidão, ele se revolta com o que seus antepassados foram submetidos. Ele e colegas da faculdade organizam um movimento de protesto contra o racismo e outros tipos de preconceitos. Nesse protesto João é preso pela policia acusado de vandalismo, mesmo que não tenha quebrado nenhum bem público ou privado, tudo que fez, foi informar a um policial que estava em seu direito constitucional de se manifestar contra um crime social. João não permanece preso, mas é fichado e vai ter que se apresentar perante um juiz para saber o que será feito do seu caso.
            Enquanto isso, Fabio já está concluindo sua especialização, e negociando com seu pai a entrada dele no hospital.
            João se apresenta ao juiz, que de algum modo fica sabendo que ele já teria agredido uma professora na adolescência, ao ter João em sua frente o juiz afirma: “Esse tipo de gente, só dá nisso, não sei porque se reproduzem como praga no mundo!” João não vai preso, mas é sentenciado a varias horas de serviço comunitário. Para não perder o curso da faculdade, João acaba precisando trabalhar meio período na obra, para poder na outra metade pagar as horas, já que seus sábados e domingos, ele precisava para fazer os imensos trabalhos dados pelos professores da faculdade.
            Fabio já assume uma vaga no hospital que seu pai trabalha e é sócio, não teve dificuldade alguma e atende na ala pediátrica do hospital. É tido por todos como um dos melhores médicos do hospital, as crianças são apaixonadas por ele. Todos o chamam de doutor sorriso, pois dizem ser impossível manter expressão séria em sua presença, mesmo uma das enfermeiras mais antigas do hospital, muito famosa por sua antipatia, sempre sorria quando ia falar com ele.
            O mestre de obras para o qual João trabalha, começa a passar por uma queda no número de construções, e não sendo possível manter todos os funcionários, muitos são demitidos, João é um deles, afinal, além de estar trabalhando somente meio período, ainda tinha tido problemas com a lei, o que não é muito bom para nenhum patrão. Apesar de a contrariedade dos pais, que afirmavam que a faculdade só tinha trazido dores de cabeça para a família, João consegue convencer os pais a ajudarem ele a se manter até o final do curso, que no meio de tantas conturbações, se estendia por um ano a mais do que o esperado, por causa das dependências.
            Fabio está com um salário bem generoso, e conhece uma moça, jovem médica do mesmo hospital, depois de alguns meses de namoro a pede em casamento, vão morar juntos em uma casa grande e luxuosa, parte bancada como presente de casamento dado pelo seu pai.
            A essa altura, João com grande dificuldade termina sua graduação em história, começa a fazer concursos públicos tentando uma vaga como professor, mas mesmo com muitas tentativas, não consegue passar em nenhum. João tem estado bastante irritado e triste, pois com quase trinta anos, ainda vive com os pais e não consegue um emprego, mesmo com uma graduação. Sua alternativa para tentar ajudar em casa e não ser um peso morto para os pais, é conseguir algumas aulas particulares, mas de maneira geral tem que se submeter a valores quase de esmola, e mesmo assim, quando se apresenta na casa do aluno, é muito comum que os pais deem alguma desculpa para dispensa-lo de imediato, ou logo após as primeiras aulas. João sabe que não diz respeito a sua competência como professor, mas sim, a sua cor de pele.
            Fabio já conseguiu reunir um bom dinheiro com seu trabalho, ainda mais com sua esposa trabalhando com ele e também ganhando um valor razoável, ele então aproveita uma oportunidade para comprar a parte da sociedade de outro sócio de seu pai, tornando assim a família dona de mais de sessenta por cento do hospital.
            João está cada vez mais angustiado, agora desistiu de procurar emprego em sua área de formação, está à procura de qualquer coisa que lhe de sustento financeiro, mas em empregos mais básicos, não o aceitam quando descobrem que ele é graduado. As empresas sabem que pessoas com graduação tendem a conhecer melhor seus direitos e não se permitem ser escravizadas tão facilmente, por isso tendem a evitar contratá-las.
            A essa altura, o pai de Fabio já está em uma idade avançada, e decide passar para o filho o domínio sobre toda a parcela do hospital que está na família, logo Fabio consegue condição financeira para comprar outra boa parte do hospital e sua esposa compra uma pequena parte que ainda estava sob domínio de outro sócio, tornando assim o hospital de total propriedade de sua família. O lucro mensal da família gira em torno dos duzentos mil reais por mês.
            João se queixa para um amigo de infância sobre sua condição desprivilegiada, o amigo fala para ele que tem um negócio muito lucrativo que precisa de um sócio. João afirma que não tem a menor condição financeira de investir em nada, o amigo afirma que o investimento, será meramente de mão de obra, não precisando nenhum dinheiro e que o retorno era de aproximadamente cem mil reais só para ele. João, homem já estudado e experiente o suficiente para saber que nada é tão bom para ser verdade, pergunta qual é a mutreta, o amigo explica que farão um grande empréstimo no banco, de mais ou menos um milhão e meio, mas ainda precisavam de mão de obra. João rapidamente entende que se tratava de um roubo, e responde que não foi educado para isso, que seria uma imensa decepção para seus pais. O amigo afirma que ele não tem motivo para se preocupar, seria como roubar doce do mercadinho local, não seria um assalto, não usariam armas, nem mesmo teria gente no banco quando entrassem, seria apenas um roubo, fariam um túnel até o cofre e depois retirariam os pacotes de dinheiro. Ele afirma que a experiência de João com a construção civil, seria bem vinda na construção do túnel, João se recusa e vai para casa. Depois de mais um mês procurando trabalho sem encontrar, ele reencontra o amigo, que informa que o plano ainda está em pé, que já providenciaram todo o equipamento, inclusive começariam a escavar o túnel naquela semana mesmo, disse para João, que ainda tem uma vaga na equipe. João olha para o nada, com um olhar morto, e pergunta: “Quando começamos?”
            Fabio junta dinheiro o suficiente para abrir mais uma clínica em uma cidade vizinha, desse modo, aumentando a renda familiar em mais de trinta por cento.
            Depois de um mês de trabalho, João e a equipe de ladrões, conseguem retirar como o prometido, um milhão e meio do banco, mas diferente do que o amigo prometeu, cada um deles fica apenas com oitenta mil, e não com os cem mil prometidos, mas ainda assim, João está muito contente, pois sabe que trabalhando de pedreiro, levaria cinco anos para ganhar esse valor, que consegui em um mês de trabalho. Ele usa parte do dinheiro para construir uma nova casa para seus pais, já que a que eles moram estava deteriorada pelo passar dos anos, João imaginou que comprar os materiais e pagar para construírem uma nova casa no mesmo terreno, chamaria menos a atenção, do que a compra de um imóvel novo. Mas o que João não contava, era com o fato de que a “lei” sempre tem uma dedicação toda especial quando se trata de um banco que foi roubado, afinal eles não assassinaram um negro em uma favela, se fosse esse o caso, nada aconteceria, talvez nem mesmo seria investigado. Mas um roubo a banco, roubar de quem tem dinheiro... isso é imperdoável. Quem de fato organizou o roubo, foi astuto e experiente o suficiente para não deixar vestígios, jogando assim a atenção, em cima da mão de obra, de quem fez a parte mais bruta do roubo, pois os que planejaram, nunca seriam descobertos, já João, depois de seis meses do roubo, foi preso. Depois de muito tempo, foi a julgamento, no qual foi constatado que ele já tivera problemas com a lei, desde a adolescência, o que não dificultou muito sua condenação, afinal, um negro com fixa criminal, o juiz não precisou nem mesmo pensar duas vezes. João foi para um presídio, naquela mesma noite um colega presidiário tentou violar seu corpo, ele reagiu e foi espancado até a morte.
            Fabio hoje é dono de uma rede de hospitais, que conta com um hospital de porte médio, um de pequeno porte e mais três clínicas de médio porte em cidades diferentes, seu lucro mensal limpo, passa de um milhão e meio.
            SEGUNDO O SISTEMA CAPITALISTA, FABIO E JOÃO TIVERAM AS MESMAS OPORTUNIDADES DE VIDA, FABIO HOJE É UM HOMEM RICO E BEM SUCEDIDO, PORQUE SE DEDICOU E SE ESFORÇOU MUITO PARA CHEGAR A ONDE ESTÁ, ENQUANTO JOÃO MORREU NO PRESIDIO, PORQUE ERA SÓ MAIS UM BANDIDO VAGABUNDO, QUE NÃO QUERIA TRABALHAR.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

NOTÍCIAS DIFÍCEIS


     As pessoas se enganam pensando que um psicólogo, psicanalista ou terapeuta psíquico em geral, consegue dar uma notícia difícil, como de um adoecimento ou morte, de maneira que não faça a pessoa sofrer. Pensar isso é uma tolice, se uma pessoa ama alguém, ou tem um forte vinculo com essa pessoa, não existe uma forma de dar uma noticia de morte ou doença grave, sem gerar nenhum sofrimento ao sujeito. A capacidade de um psicólogo em dar essa noticia, ou preparar alguém para dar esta, está mais na reação e compreensão do próprio psicólogo, do que nas palavras utilizadas, não existem palavras que isentem alguém da dor de perder um familiar, ou saber que a própria vida tem uma data marcada para terminar, mas existem sim palavras capazes de agravar isso, a tarefa do terapeuta, é não utilizar essas palavras e ensinar a quem tem a função de dar tais noticias que também não utilize tais palavras.
      O erro começa em você pensar que pode dar uma noticia difícil sem que o sujeito sofra, pois esse pressuposto já demonstra que você está desconsiderando o direito dele de sofrer e o sentido e função de seu sofrimento. Para humanos em geral, é tão difícil dar noticias de morte, ou de doença grave, porque nos deparamos com nossos próprios medos desses assuntos. Esse é o primeiro passo a ser superado, se esforçar para anular a nossa própria dor, a ponto de ser capaz de auxiliar o outro com a dor dele. Outro grave erro que cometemos, é partir do pressuposto da dor e não aceitar nenhuma reação diferente dela. Quando damos a noticia de que alguém morreu para outra pessoa, nossa construção social nos leva a acreditar que essa pessoa vai sofrer. Ainda mais se era um parente ou alguém próximo, e muitas vezes nos é inconcebível pensar em uma possibilidade de reação diferente, quando estamos tomando nossa própria história de vida, para determinar a reação dessa pessoa. Por exemplo, uma filha pode se alegrar muito com a morte de seu pai, ou ficar aliviada, comemorar por sinal e não cabe a nós julgar o porque ela está feliz do pai ter morrido, muito menos nos cabe afirmar que isso é errado ou ruim, porque o mesmo imbecil que afirma que ela não deveria se alegrar com a morte do pai, é o mesmo imbecil que irá lhe dar total apoio, assim que descobrir que o pai a espancou e estuprou por anos a fio, sem que ela pudesse reagir ou fugir. Nós não temos condição nem direito algum de julgar os sentimentos alheios.
      Mas porque psicólogos são considerados mais habilitados a dar essas noticias então? Justamente por ter a compreensão explicada no parágrafo anterior. Por o psicólogo saber, ou ao menos espera-se que saiba, quando é um bom profissional, por ele saber que seus sentimentos não são os mesmos do outro, e que diante desse, só os sentimentos do outro importam e tem valor, não cabendo a ele manifestar nenhum julgamento, ele tem condições de dar uma noticia que pode ser dolorosa, mas sabendo que ela também pode não ser. E desse modo respeitar a reação do sujeito, entendendo que se ele chora ou ri com a noticia que trago, é uma reação que essa pessoa tem a situação e é dela, não nem certa nem errada, é apenas dela. Isso possibilita um respeito aos sentimentos do outro, sejam eles, quais forem.
    Claro que existem palavras mais assertivas que podem ser utilizadas, mas a compreensão do exposto aqui anteriormente, é muito mais importante de com que palavras alguém irá dar uma noticia. Compreender que se noticia for dolorosa para a pessoa, ela vai sofrer indiferente como eu de essa noticia e que se ela não sofrer, ela tem o direito inclusive de estar alegre com uma noticia que para mim seria triste, esse passo é mais valioso que a escolha de palavras. Porém, existem palavras capazes de jogar sal em uma ferida aberta, evita-las é um bom começo na direção de um acerto.
    Qualquer manifestação do EU da pessoa que trás a noticia, é sempre ruim, pois a noticia não está sendo recebida por você, então fazer afirmação de eu estou sofrendo tanto quanto você, ou eu faria tal coisa, ou eu passei por isso, toda manifestação do EU é errônea, pois cada sujeito é único, não interessa o que você pensa e faria, porque a pessoa irá pensar e fazer por ela própria. Os sentimentos são dela e não seus, e será impossível para você saber como ela se sente, porque você não é ela.
      Frases clichês são outra coisa a se evitar manifestar, do tipo, ao noticiar a morte de alguém, afirmar: “Ah, ele foi para um lugar melhor!” — “Por que você não vai junto com ele, para esse lugar melhor então?”. Você não sabe se a pessoa acredita em qualquer tipo de vida após a morte, ou se ela segue qualquer religião, quem é você para dizer que uma pessoa que morreu, foi para um lugar melhor, se nem mesmo sabemos para onde nós vamos após morrermos? Se é que vamos para algum lugar. Partir de crenças minhas para falar da vida do outro, é sempre um grave erro.
      Qualquer outra frase pronta será ruim: “Vai passar”, “Nem foi tudo isso”, “não fique assim”... Você não sabe se vai passar, tem pessoas que recebem a noticia de uma doença grave e cometem suicídio, para ela passou, mas eu imagino que não era isso que você pensava quando afirmou que iria passar. Não de ao outro, certezas que você mesmo não tem.
      A escolha excessiva de palavras pode trabalhar mais contra do que a favor de uma noticia difícil, pois o sujeito ficará cada vez mais irritado e produzindo mais fantasias a respeito e nossas fantasias podem ser muito mais danosas, do que a realidade. Sempre que uma noticia tem que ser dada, é importante que ela seja sucinta e compreensível, após dar a noticia, de acordo com o que a pessoa manifesta como interesse saber, você vai esmiuçando, mas não por pressuposto do que você acha importante ela saber e sim de acordo com o que ela demonstra estar interessada.
    As pessoas tem o péssimo hábito de querer falar, quando deveriam apenas ouvir, não tente dizer a respeito da pessoa, do que é melhor para ela, ou do que ela deve ou não fazer, pois você não sabe essas informações. Apenas ouça o que ela sente, deixe-a falar o que pretende fazer ou pensa, se é que ela tem interesse em falar para você, pois pode ser que ela só queira ficar em silencio, talvez ela nem queira a sua companhia, talvez só queira ficar sozinha.
    Notícias difíceis, sempre serão difíceis, muitas vezes mais difíceis para quem noticia, do que para quem recebe. E não temos como torna-las fáceis, temos como não torná-las ainda piores.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

CRITICA AO FILME ELE ESTÁ DE VOLTA


         Um filme que mistura humor, com indignação, crítica social e realidade atual. Há muito tempo não via um filme que misturasse tantas coisas, sem ser confuso e mantendo uma absurda coerência.
          O contexto é dois mil e quatorze, misteriosamente uma figura se intitulando Hitler, surge na Alemanha. Com carisma, conquista milhares de pessoas as tornando suas admiradoras, utilizando um discurso de critica política e combate a corrupção do país.
    O personagem é carismático e mesmo com a população considerando sua atuação um quadro de humor, rapidamente são cativados por suas ideias.
        É interessante como a população aceita com facilidade um discurso fascista, não é surpreendente, ainda mais no contexto brasileiro atual, mas é interessante, que não se precise mentir a respeito do fascismo. Se um político pretende promover o fascismo, não precisa escolher meias palavras, nem esconder seus objetivos, pois seu discurso fascista cativa o fascista existente dentro de cada ser humano.
          O filme segue em um tom humorístico, mesmo em cenas que deveriam ser muito impactantes, isso faz com que ao assistir, sinta-se uma mistura de vontade de rir, chorar e vomitar. Não sei se todos que o assistem passam por essa experiência, mas a mim, que estudei muito a respeito do nazismo e presencio uma situação política contemporânea preocupante, me causou um enorme misto de sensações. Fica ainda mais claro e evidente para mim, que o fascismo não é produzido a força nos que o apoiam, ele é uma conquista, quem é contrario a ele, luta, mas quem apoia, não foi forçado a apoiar o fascismo, apenas encontrou na boca de outro, as palavras da própria revolta. A pequenas doses, se convence a população, que em nome de uma nação se pode fazer o necessário, de inicio, apenas gritar, depois torturar, matar... E tudo segue em um clima de humor e naturalidade, como se o fascismo fosse uma forma de vida comum e não um crime contra a humanidade.
           Um excelente filme, mas uma triste realidade.

SOBRE O FIM DO GOOGLE PLUS E PORQUE NÃO USO FACEBOOK




       Comecemos com o porque o Filosofia Da Psique não tem Facebook e gostaria de não precisar recorrer a ele. O primeiro motivo para nosso projeto não estar no Facebook e o mais importante de todos, é ideológico, pois como bom Nitzschiano, sou contrario a todas as formas de idolatria e coloco isso como um padrão ético de nosso projeto. Desde o começo dessa rede social, quando eu mesmo nem utilizava internet ainda, algo que sempre me gerou repulsa, foi à idolatria desenvolvida pela imensa maioria que utiliza essa rede, tanto que até os dias atuais, quando informo que não tenho Facebook, as pessoas se espantam. Eu me espanto quando alguém quer falar sobre política, sem ter lido Maquiavel, isso me espanta, alguém ter ou não uma rede social me é irrelevante.
            Mais tarde, eu teria outro motivo para não utilizar essa rede, pois quando tive de fato acesso a ela, me causou enjoo, ver a quantidade de poluição visual existente, menus desnecessários, publicidades e tantas outras inutilidades sujando a tela do computador. Tive essa triste experiência na época que comecei com o canal do Youtube, pois buscava uma forma de divulgar nosso trabalho e fazê-lo atingir um publico maior, nesse mesmo período conheci uma pessoa muito importante para o começo de nosso trabalho, que me ajudou a divulgar o canal e me apresentou ao G+ (Google Plus) como uma alternativa de dar visibilidade aos vídeos. Comecei a utiliza-lo logo no começo do canal, e com o tempo passei a aprecia-lo muito, primeiro porque sempre foi uma rede social muito versátil, possibilitando compartilhamento de vídeos, links, imagens, apenas textos, além de gifs, isso muito antes de todas as outras redes sociais permitirem o compartilhamento desse tipo de arquivo. O segundo motivo para gostar do G+, é seu visual extremamente minimalista, sem excessos e sem publicidade, bastante limpo. Infelizmente com o passar do tempo, a Google foi realizando péssimas atualizações no seu produto, a cada atualização cem por cento desnecessária, junto vinha alguma falha, ou era o contador de seguidores, que variava de número, ou os comentários em postagens que desapareciam, ou as notificações tendo problema de visualizações, ainda assim, até o momento atual, o G+ se demonstra a melhor rede social disponível, com mais recursos e menos poluição visual, sendo muito organizado e estético, mas infelizmente ao que tudo indica, ficaremos sem ele, pois estão saindo noticias em vários lugares, blogs e sites, sobre o fim dessa rede social, devido a falhas inclusive de segurança, dos dados de seus usuários, para o Filosofia Da Psique, é uma triste notícia, pois o G+ fez parte do nosso projeto por esses quase quatro anos de trabalho, sendo uma importante ferramenta, para a divulgação dos vídeos, e para o compartilhamento de informações e conteúdos, de vários gêneros, principalmente, de psicologia, psicanálise e filosofia. Mas nos adaptaremos, nunca usei o Facebook e pelos motivos já citados, possivelmente não o usarei, mas nosso projeto conta com esse Blog, que possivelmente terá postagens mais frequentes caso ocorra de fato o fim do G+, assim como a página do Instagram, na qual seguiremos postando as imagens e textos curtos que fazem parte do nosso trabalho. Claro, não esqueçamos que o nosso principal meio de comunicação, o mais popular, conhecido e usado, nosso canal do Youtube, segue com seus mais de quinhentos vídeos.
         Para quem gosta do nosso trabalho, e vem nos acompanhando ao longo desses quase quatro anos, fica a dica, para se ainda não é inscrita ou inscrito em nosso canal, acessa, se inscreve e acompanha o trabalho por ele, assim como pela nossa página do Instagram. O G+ tendo ou não seu fim, seguiremos com o trabalho do Filosofia Da Psique, como já fazemos a anos, caso fiquemos sem internet, seguiremos em praça pública, mas iremos parar de compartilhar o conhecimento que adquirimos e lutar por um mundo melhor, com menos ignorância, que é a origem de todos os males.
         Não se esqueça, caso você tenha conta da Google, pode seguir esse Blog, caso não tenha salve o endereço em seus favoritos, para estar acompanhando nossas postagens, e se inscreva no canal e no Instagram, para não perder o contato com nosso projeto, cada pessoa que nos segue e acompanha nosso trabalho, é de grande valor para nós.