As pessoas
se enganam pensando que um psicólogo, psicanalista ou terapeuta psíquico em
geral, consegue dar uma notícia difícil, como de um adoecimento ou morte, de
maneira que não faça a pessoa sofrer. Pensar isso é uma tolice, se uma pessoa
ama alguém, ou tem um forte vinculo com essa pessoa, não existe uma forma de
dar uma noticia de morte ou doença grave, sem gerar nenhum sofrimento ao sujeito.
A capacidade de um psicólogo em dar essa noticia, ou preparar alguém para dar
esta, está mais na reação e compreensão do próprio psicólogo, do que nas
palavras utilizadas, não existem palavras que isentem alguém da dor de perder
um familiar, ou saber que a própria vida tem uma data marcada para terminar,
mas existem sim palavras capazes de agravar isso, a tarefa do terapeuta, é não
utilizar essas palavras e ensinar a quem tem a função de dar tais noticias que
também não utilize tais palavras.
O erro
começa em você pensar que pode dar uma noticia difícil sem que o sujeito sofra,
pois esse pressuposto já demonstra que você está desconsiderando o direito dele
de sofrer e o sentido e função de seu sofrimento. Para humanos em geral, é tão difícil
dar noticias de morte, ou de doença grave, porque nos deparamos com nossos próprios
medos desses assuntos. Esse é o primeiro passo a ser superado, se esforçar para
anular a nossa própria dor, a ponto de ser capaz de auxiliar o outro com a dor
dele. Outro grave erro que cometemos, é partir do pressuposto da dor e não
aceitar nenhuma reação diferente dela. Quando damos a noticia de que alguém
morreu para outra pessoa, nossa construção social nos leva a acreditar que essa
pessoa vai sofrer. Ainda mais se era um parente ou alguém próximo, e muitas
vezes nos é inconcebível pensar em uma possibilidade de reação diferente,
quando estamos tomando nossa própria história de vida, para determinar a reação
dessa pessoa. Por exemplo, uma filha pode se alegrar muito com a morte de seu
pai, ou ficar aliviada, comemorar por sinal e não cabe a nós julgar o porque
ela está feliz do pai ter morrido, muito menos nos cabe afirmar que isso é
errado ou ruim, porque o mesmo imbecil que afirma que ela não deveria se
alegrar com a morte do pai, é o mesmo imbecil que irá lhe dar total apoio,
assim que descobrir que o pai a espancou e estuprou por anos a fio, sem que ela
pudesse reagir ou fugir. Nós não temos condição nem direito algum de julgar os
sentimentos alheios.
Mas porque psicólogos
são considerados mais habilitados a dar essas noticias então? Justamente por
ter a compreensão explicada no parágrafo anterior. Por o psicólogo saber, ou ao
menos espera-se que saiba, quando é um bom profissional, por ele saber que seus
sentimentos não são os mesmos do outro, e que diante desse, só os sentimentos
do outro importam e tem valor, não cabendo a ele manifestar nenhum julgamento,
ele tem condições de dar uma noticia que pode ser dolorosa, mas sabendo que ela
também pode não ser. E desse modo respeitar a reação do sujeito, entendendo que
se ele chora ou ri com a noticia que trago, é uma reação que essa pessoa tem a
situação e é dela, não nem certa nem errada, é apenas dela. Isso possibilita um
respeito aos sentimentos do outro, sejam eles, quais forem.
Claro que
existem palavras mais assertivas que podem ser utilizadas, mas a compreensão do
exposto aqui anteriormente, é muito mais importante de com que palavras alguém
irá dar uma noticia. Compreender que se noticia for dolorosa para a pessoa, ela
vai sofrer indiferente como eu de essa noticia e que se ela não sofrer, ela tem
o direito inclusive de estar alegre com uma noticia que para mim seria triste,
esse passo é mais valioso que a escolha de palavras. Porém, existem palavras
capazes de jogar sal em uma ferida aberta, evita-las é um bom começo na direção
de um acerto.
Qualquer
manifestação do EU da pessoa que trás a noticia, é sempre ruim, pois a noticia
não está sendo recebida por você, então fazer afirmação de eu estou sofrendo
tanto quanto você, ou eu faria tal coisa, ou eu passei por isso, toda
manifestação do EU é errônea, pois cada sujeito é único, não interessa o que
você pensa e faria, porque a pessoa irá pensar e fazer por ela própria. Os
sentimentos são dela e não seus, e será impossível para você saber como ela se
sente, porque você não é ela.
Frases clichês
são outra coisa a se evitar manifestar, do tipo, ao noticiar a morte de alguém,
afirmar: “Ah, ele foi para um lugar melhor!” — “Por que você não vai junto com
ele, para esse lugar melhor então?”. Você não sabe se a pessoa acredita em
qualquer tipo de vida após a morte, ou se ela segue qualquer religião, quem é
você para dizer que uma pessoa que morreu, foi para um lugar melhor, se nem
mesmo sabemos para onde nós vamos após morrermos? Se é que vamos para algum
lugar. Partir de crenças minhas para falar da vida do outro, é sempre um grave
erro.
Qualquer
outra frase pronta será ruim: “Vai passar”, “Nem foi tudo isso”, “não fique
assim”... Você não sabe se vai passar, tem pessoas que recebem a noticia de uma
doença grave e cometem suicídio, para ela passou, mas eu imagino que não era
isso que você pensava quando afirmou que iria passar. Não de ao outro, certezas
que você mesmo não tem.
A escolha
excessiva de palavras pode trabalhar mais contra do que a favor de uma noticia difícil,
pois o sujeito ficará cada vez mais irritado e produzindo mais fantasias a respeito
e nossas fantasias podem ser muito mais danosas, do que a realidade. Sempre que
uma noticia tem que ser dada, é importante que ela seja sucinta e compreensível,
após dar a noticia, de acordo com o que a pessoa manifesta como interesse
saber, você vai esmiuçando, mas não por pressuposto do que você acha importante
ela saber e sim de acordo com o que ela demonstra estar interessada.
As pessoas
tem o péssimo hábito de querer falar, quando deveriam apenas ouvir, não tente
dizer a respeito da pessoa, do que é melhor para ela, ou do que ela deve ou não
fazer, pois você não sabe essas informações. Apenas ouça o que ela sente, deixe-a
falar o que pretende fazer ou pensa, se é que ela tem interesse em falar para
você, pois pode ser que ela só queira ficar em silencio, talvez ela nem queira
a sua companhia, talvez só queira ficar sozinha.
Notícias difíceis,
sempre serão difíceis, muitas vezes mais difíceis para quem noticia, do que
para quem recebe. E não temos como torna-las fáceis, temos como não torná-las
ainda piores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário