sábado, 15 de julho de 2017

CRIANÇAS PRODUZIDAS PELA INDÚSTRIA

            Introdução:

      O presente trabalho tem por objetivo realizar uma analise acerca da visão que a sociedade atual (ano 2014) faz de suas crianças, mas principalmente, analisar a forma como a indústria atual vem bombardeando as crianças com sua publicidade, e descobrindo nelas, um novo cliente mais vulnerável, e manipulável.
      Para essa analise serão utilizados como material de pesquisa: recortes de revistas, publicidade impressa e pesquisas de bibliografias, bem como o artifício da internet.
     Através da analise do material, será buscado compreender, como as crianças e pré-adolescentes são vistos pela sociedade e pela indústria, a qual já percebeu o potencial consumidor que se encontra nesse publico.
  
      Indústria têxtil moda e lojas.

     A roupa infantil se altera de acordo com a época, bem como a adulta, que segue seus ciclos.
    Por volta do século XIII as crianças eram vestidas do mesmo modo que os adultos, como nos trás Philippe Aries (1981) em História social da criança e da família, “assim que a criança deixava os cueiros, ou seja, a faixa de tecido que era enrolada em torno do seu corpo, ela era vestida como os outros homens e mulheres de sua condição”. Ainda segundo o autor, a partir do século XIX que torna-se evidente as diferenças entre roupas infantis e adultas, pois em época medieval nada distinguia a roupa infantil e adulta se não o tamanho.
   Como é de se esperar de uma moda cíclica, (Moda, conceito atual) observamos novamente uma pouca diferenciação entre o traje infantil e adulto, se não, uma inversão de posições, como podemos analisar segundo o anexo: 01.
    A indústria têxtil segue tendências de venda, ou eventualmente cria suas próprias tendências, através de publicidade e jogadas de marketing.
    Com as crianças se espelhando nos adultos, ou seja, os utilizando como modelo de desenvolvimento (e nem sempre adultos que estão perto delas, e sim adultos da mídia. Principalmente televisão) parece à moda infantil estar novamente muito próxima do que sempre foi considerada a moda adulta, ao decorrer dos últimos anos. As crianças tendo cada vez mais feito valer sua opinião parecem ter cada vez menos interesse em vestir roupas com características infantis, como é o caso das roupas com estampas de personagens infantis, demonstradas no anexo: 02, páginas: 02, a 04, ou roupas coloridas, anexo: 02, páginas 08 e 09. A publicidade do anexo: 02 é pertencente à mesma empresa do anexo: 01, porém com uma diferença de um ano. Sendo o anexo: 02 de 2013 e o 01 de 2014.
     Vamos para a analise dos anexos. Como dito antes, no anexo: 02 podemos perceber a presença forte dos elementos infantis, como personagens de desenhos e contos, Barbie, Bem 10, Relâmpago Mc Queen e Marie, páginas 02 e 03. Porém no anexo: 01 a situação muda. Ainda no anexo: 02, para não fazer referência apenas à roupa de cama, peguemos os trajes propriamente ditos, (roupas) apresentadas nas páginas: 08 e 09, é perceptível tratar-se de roupas coloridas, com cores fortes e vibrantes (ano 2013), mas quando comparado ao anexo: 01, mais atual, percebemos que as roupas infantis apresentadas nas páginas: 24 a 27, apresentam cores mais sóbrias, como: preto, cinza, verde escuro, etc. Sem presença de personagens nem mesmo estampas infantis, demonstrada uma aproximação da roupa voltada para o publico adulto ou jovem do ano anterior. Já em contraponto a roupa jovem adulta parece seguir em direção contraria, no ano de 2014 apresentam-se extremamente coloridas e com presença de estampas chamativas, como apresentado nas páginas 01 a 23 do anexo: 01. Ou seja, as roupas infantis se tornam cada vez mais sóbrias, e próximas da adulto-jovem, enquanto esta segunda parece se “infantilizar” cada vez mais. Como dito antes, as crianças tomam por exemplo, os adulto, sendo assim tendem a buscar naturalmente uma aproximação deles, em atitudes e aparência. Daí a máxima “As crianças precisam mais de exemplos, do que conselhos” (Joubert).
     Em relação a esse desejo da criança e do adolescente de se tornar adulto, voltemos a atenção a um elemento de publicidade presente no anexo: 01, página 24. Encontramos a seguinte frase: “A Skinny agrada desde cedo as gatinhas mais antenadas.” Isso em uma página que apresenta uma roupa masculina voltada para uma criança ou pré-adolescente, um apelo claro a sexualidade em desenvolvimento do publico ao qual é direcionado o produto, mas ao mesmo tempo podemos ver nas páginas seguintes 26 e 27, elementos infantis no cenário. Uma utilização clara do conflito que o individuo sofre entre desejar ser adulto, mas sem querer deixar de ser criança, para fins lucrativos de venda. Atingindo esse individuo por ambos os lados. Lhe fornecem produtos com aparência adulta, mas sem deixar de incluir na publicidade algo infantil, da fase a qual ele tenta afastar-se gradativamente.
     Mas em busca de uma abrangência ainda maior de publico, a indústria têxtil, também possui ramos específicos para roupas tidas pelo senso comum como infantis, por mais que muitas vezes essas, agradem mais as mães, do que as crianças. Uma marca bastante famosa trata-se da Zig Zig Zaa, (disponível em: http://www.zigzigzaa.com.br/ acessado em: 23/06/2014) o vídeo de abertura do site, uma campanha publicitária de um minuto, deixa bastante clara a visão de criança tida pela empresa, ou a visão que a mesma quer repassar de criança, seu vídeo publicitário apresenta diversas crianças brincando, com bambole, cartola de mágico, se equilibrando em uma corda imaginaria, fazendo coisas tidas convencionalmente como de criança. Inclusive seu site, possui uma aparência extremamente infantil, com uma página de dicas de pedagogas. Uma clara utilização da criança como um público consumista, ou a utilização da visão que temos de criança, para fins consumistas. Mas os apelos consumistas direcionados a criança não param na indústria têxtil, não entraremos em mérito das indústrias de brinquedos e jogos, pois estas não apresentam novidades, desde seu principio, são voltadas diretamente ao público infantil. Mas alguns setores da indústria alimentícia, que em momento algum seriam ligados a este público, já estão se utilizando a algum tempo, de artifícios para atrair consumidores cada vez mais jovens.

         Indústria alimentícia.

      Uma coisa que surpreende de certo modo, é que a industria alimentícia também vem apelando para o publico infantil em áreas que costumeiramente, não era tido como produto voltado a crianças. Não nos surpreende um salgadinho frito, uma bolacha recheada, ou um pacote de balas, ter algum tipo de publicidade voltada ao publico infantil, pois são costumeiramente produtos consumidos mais, por estes mesmo. Mas o que dizer de patê de carne suína? Leite em caixa? Ou goiabada? Creio que de todos a goiabada seja o menos incomum, e que talvez remeta a criança em algo. No anexo: 04, vemos uma embalagem de patê, com a imagem de um desenho infantil muito famoso. The Flintstones ou na versão brasileira a qual passava em canal aberto de televisão, Os Flintstones. Logo em seguida no anexo: 05 temos parte de uma embalagem de leite, com a imagem de uma “vaquinha” muito feliz, uma imagem claramente infantilizada. Também no anexo: 06 Uma embalagem de goiabada, com a imagem do Piu-Piu, um canário da Warner Bros, que vive suas aventuras fugindo do gato Frajola, Piu-Piu ficou famoso pela frase “Eu acho que vi um gatinho”, um desenho muito famoso no Brasil, e esteve presente em diversos canais de televisão aberta.
     Percebemos nestes anexos, que a apelação ao publico infantil e clara e evidente, para não dizer “descarada”, há também de se dizer, que convencionalmente esses produtos são dispostos no mercado, à altura de um metro para baixo. Bem aos olhos das crianças, não que sejam produtos que elas não consumam, ou cause alguma estranheza o consumo deles por crianças. A questão é que, costumeiramente não se é compreendido tais produtos como sendo direcionados ao publico infantil. Mas a indústria alimentícia já se deu conta a muito tempo, da facilidade em iludir as crianças pelas imagens, e através delas convencer os pais (ou adultos) ao consumo.
  Essa temática foi abordada em sala de aula na matéria de Desenvolvimento, com a professora Maytê Coleto através de um filme assistido em sala, onde se discute essa questão, o quanto à indústria influi na visão que a sociedade faz de criança. Pois inevitavelmente a indústria, e principalmente a mídia tem uma forte influencia nas concepções de infância da sociedade atual, se alterando diversos conceitos antigos, deixando alguns de existir, e criando-se novos.

         Considerações finais
    Enquanto no Brasil não se tem leis que regulamentem os produtos e propagandas voltadas ao publico infantil, de maneira eficiente como ocorre em outros países, e nem se pode contar plenamente com a ética de alguns empresários, resta aos pais e responsáveis virar-se como podem diante do que seus filhos são submetidos. Que muitas vezes são simples propagandas de produtos como opções de escolha, em outras descarados apelos de consumismo, se utilizando de artifícios, “quase” imorais, manipulando sentimentos e desejos.
   É preciso que estejamos atentos, e não nos deixemos ser manipulados, e busquemos dar conhecimentos as nossas crianças, para que sim, aprendam desde pequenas a fazer suas escolhas, mas escolhas suas, e não de uma mídia que muitas vezes se demonstra irresponsável. Ou de empresas que agem em função exclusiva de seu faturamento.

       Referencias:

ARIES, Philippe.
História Social da Criança e da Família. LTC- Livros Técnicos e Científicos Editora S.A Rio de Janeiro - RJ. 1981.

Site da marca Zig Zig Zaa

(disponível em: http://www.zigzigzaa.com.br/ acessado em: 23/06/2014)


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