domingo, 9 de julho de 2017

NEUROSE OBSESSIVA E O SENTIDO DOS SINTOMAS

Autor: João Vitor Wrobleski,
trabalho realizado como quesito de nota parcial
para a matéria de Psicopatologia ministrada por
profª: Mest. Clea Maria Ballão.

BASE TEÓRICA:

Neste breve texto nos propomos de maneira resumida a expor o que é a Neurose Obsessiva e quais são as ligações estabelecidas pelo psiquismo do obsessivo entre sintoma e a causa. Para tanto nos utilizaremos de três importantes obras da psicanálise Freudiana, sendo elas: Atos Obsessivos e Práticas Religiosas (1907), Notas Sobre um Caso de Neurose Obsessiva (1909) e Disposição a Neurose Obsessiva: Uma Contribuição ao Problema da Escolha da Neurose (1913), todas de autoria de Sigmund Freud, principal mentor da teoria Psicanalítica.
As obras estão acima relatadas em ordem de importância para esse trabalho, sendo a primeira o maior enfoque, por ter de maneira clara e objetiva a definição de atos obsessivos, e como estes se originam, sendo desse modo nosso principal embasamento, enquanto o relato de caso, chamado por Freud Homem dos Ratos, encontra-se aqui como um apoio de possíveis exemplos para melhor compreendermos a temática proposta. E a terceira obra, foi lida devido a tratar do assunto, mas pouco a utilizaremos, apenas em breves momentos, devido o enfoque estabelecido por nós ser menos presente nela.

UTILIZAÇÃO DE MÍDIAS AUXILIARES

Para a exemplificação de atos obsessivos, pretendo me utilizar de partes de um episodio da série Monk: um detetive diferente. Onde o personagem principal apresenta diversos atos, que se intensificaram após a morte de sua esposa.
Também utilizarei partes do filme: Melhor é impossível para tornar mais claro que espécies de atos podem ser considerados obsessivos. Também visando demonstrar a angustia causada pelo ato ou pela inibição do mesmo.

O ATO OBSESSIVO

Segundo Freud (1907/1987) o ato obsessivo em geral não é algo fora da realidade do sujeito, em geral consistindo como um ato comum entendido pela maioria como algo perfeitamente natural e esperado, porém o que diferencia sua normalidade de uma obsessão, consiste no fato da impossibilidade de não realizar o ato, e da frequência e repetição estabelecida. Atos comuns como: Vestir-se, lavar as mãos, caminhar, contar, escrever, ler etc. adquirem um ritual próprio de serem realizados, e se manifestam em uma frequência fora do entendido como comum, exemplo, um ato corriqueiro de higiene, como lavar as mãos, adquire um caráter obsessivo, quando o sujeito desenvolve por habito, lavar as mãos em número de vezes entendido socialmente como um absurdo, ou então a pessoa desenvolve um ritual muito especifico, por exemplo: somente lavar as mãos com determinada marca de sabonete, conforme cena a ser apresentada do filme Melhor é Impossível, no qual o personagem lava as mãos um numero de vezes especifico com um sabonete de uma marca especifica e o descarta no lixo logo após. Em outro exemplo, um ato comum como deitar-se para dormir, passa a seu aspecto obsessivo, quando antes de deitar-se, o sujeito precisa dar sete saltos, esticar os lençóis, atirar todos os travesseiros nos pés da cama e posteriormente recolocá-los adequadamente na cabeceira. Desse modo, um ato considerado por nós como comum a todos, passa a ter uma formulação completamente inusitada e desse modo desenvolve uma ritual religioso próprio, o qual quase sempre vem acompanhado de pensamentos “ruins”, na maioria das vezes o paciente tem a certeza de que se não realizar tal ato, acontecerá algo muito ruim como ele ou uma pessoa que ele ama, esse “algo ruim” geralmente está associado a morte ou doença grave, em alguns casos a ideias sadistas, como tortura decepamento de membros etc.
Ainda segundo Freud (1907/1987) conscientemente, o paciente tem plena noção da incoerência de seu ato, mas inconscientemente a angustia de não realizar tal ato, é tão insuportável, que o obriga a fazê-lo, vendo sentido ou não na ação. Tomemos por exemplo aqui o caso de Freud (1909/1987) O Homem dos Ratos esse paciente, um integrante das forças armadas do exército, adquiriu vários atos obsessivos após ouvir o relato de uma tortura de guerra, a crença que acompanhava os atos, em algumas vezes, estava associada a morte de seu pai, porém este já falecerá a anos. Aqui percebemos a incoerência da angustia obsessiva, pois obviamente, o pai do paciente falecido a anos, não poderia morrer por ele não realizar um ato, mas ainda estando consciente disso, o paciente se vê impossibilitado de não fazer tal ato, pois a angustia envolvida é insuportável.

O SENTIDO E SIGNIFICADO DO ATO

Para Freud (1907/1987) a Religião nada mais é do que uma neurose obsessiva coletiva, ou seja, varias pessoas reúnem-se para praticar rituais que objetivamente não fazem sentido, mas que na compreensão daquele grupo adquirem um significado especifico. Do mesmo modo no neurótico obsessivo individual, o ritual por mais que não tenha objetivamente uma lógica, no seu psiquismo adquire um significado particular e singular.
Para compreender essa lógica única, passemos a alguns dos exemplos apresentados por Freud (1907/1987) em seu livro.
O primeiro exemplo que Freud nos trás, é de uma de suas pacientes que após banhar-se adquiriu o habito de revolver a água suja na bacia por varias vezes antes de descartá-la.
Após analise em conjunto com Freud a paciente encontrou a explicação para tal ato na antiga máxima, “não jogue fora a água suja até obter uma limpa”. Isso descontextualizado nos parece sem lógica, mas quando partimos a analise mais pessoal da paciente, entendemos a situação desencadeadora dessa obsessividade, a irmã da paciente estando infeliz em seu casamento pretendia separar-se do marido, a paciente preocupada com a estabilidade de sua irmã, interioriza essa máxima e diante do conflito de pensamentos forma o sintoma obsessivo de revolver a água, como uma tentativa inconsciente de alertar sua irmã, de que não deveria se separar até conseguir um marido melhor.
Percebemos a partir desse exemplo de Freud, que por mais absurdo que pareceria a qualquer um de nós uma pessoa ficar revolvendo aguá suja em uma bacia, para o arranjo psíquico dessa paciente fez todo o sentido em uma forma de trabalhar o conflito. É nesse sentido que enfocamos o nosso trabalho, compreender a forma como o sintoma possui um sentido singular para o paciente e diferente do senso comum crer que não há sentido algum nos atos do paciente, este tem sim um sentido estabelecido para o psiquismo dele. 

O DESENCADEAMENTO DA NEUROSE OBSESSIVA

No já mencionado caso do Homem dos Ratos (1909), sabemos através do relato de Freud, que o “gatilho” disparador para as obsessões, foi o relato de um capitão do exercito de uma das torturas realizadas com prisioneiros de guerra, envolvendo ratos. 
Mas seria então a tortura o evento traumatizante?
Certamente como Freud (1909) nos mostra, o relato da tortura apenas desencadeou os sintomas, mas a sua origem remontava a tempo remotos da infância do paciente, tendo o rato um simbolismo intenso em sua vida, desde seu pai, um dos principais personagem de suas neuroses, até ele próprio.
Quando Freud (1909) busca na analise a história de seu paciente, consegue remontar seus sintomas a épocas de infância, por volta dos cinco anos de idade, em eventos e situações envolvendo seu pai e sua babá. Isso nos demonstra que o evento mais recente é apenas um desencadeador, mas o trauma em si se encontra em origens muito primarias e na maioria dos casos até mesmo primitivas, em uma época onde o sujeito nem mesmo possuía linguagem para simbolizar o que sentiu.

REFERÊNCIAS

FREUD, S. (1907) Atos Obsessivos e Práticas Religiosas. Em: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro. Imago. 1987.

FREUD, S. (1909) Notas Sobre um Caso de Neurose Obsessiva. Em: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro. Imago. 1987.

FREUD, S. (1913) Disposição a Neurose Obsessiva: Uma Contribuição ao Problema da Escolha da Neurose. Em: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro. Imago. 1987.






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