sábado, 15 de julho de 2017

DESENVOLVIMENTO A PARTIR DE FREUD

UMA QUESTÃO DE SEXO.

Um dos pontos chaves do desenvolvimento da criança na visão de Freud (1997), está situado na sexualidade. A sexualidade, não está diretamente ligada ao ato sexual, isso por muitas vezes cria criticas leigas a respeito da obra de Freud, pois este se utiliza da palavra sexualidade, no sentido amplo, e completo, a sexualidade no ponto de vista psicanalítico consiste na busca do prazer.
Por exemplo: um individuo sente prazer ao alimentar-se, tal comida lhe desperta prazer pelo seu sabor, mas isso, em nada tem a ver, com o ato sexual. Pois o ato sexual é apenas uma forma de exercício da sexualidade, que é algo muito maior e amplo.

FASES: ORAL, ANAL E GENITAL.

Freud (1997) definiu o desenvolvimento da sexualidade infantil através de três fases: Oral, anal e genital.
A fase oral seria a primeira, devido sua importante funcionalidade na alimentação do sujeito, segundo Freud o bebê sente prazer na sucção, fator importante para a amamentação, esse prazer na sucção segundo ele, fica mais evidente ainda, quando a criança tem por habito, sugar “bico” (chupeta), onde mesmo sem haver nenhum tipo de alimentação envolvida no ato, ainda assim, a criança permanece na atitude. Isso somente poderia ser atribuída a uma sensação de prazer, já que não se vê outro beneficio no ato.
Sigmund Freud também trás em Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, como esse prazer permanece após a fase adulta, evidenciando-se tal em demonstrações de afeto tal qual o beijo na boca, onde a questão oral diretamente ligada ao prazer se faz presente.
Na fase anal, o bebê desenvolve o prazer no ato de defecar, o que irá gerar seu controle neste, e o possível abandono das fraldas. Isso porque ao deixar as fezes saírem de seu corpo a criança sente um prazer, que deseja prolongar, para tal, se faz necessário um controle muscular do esfíncter. O que se faz imprescindível para sua vida, pois gera o controle de uma atividade fisiológica.
A ultima fase, a genital, propicia ao bebê, seu controle urinário. Nesse momento a criança descobre o prazer na área genital em si, mas esse prazer não possui conexão com o ato sexual, o prazer é gerado ao a urina passar pelo duto, ou canal. Desse modo, a criança ira buscar reter a urina na bexiga o maior tempo possível, pois ao liberar esta, quanto mais cheia a bexiga estiver, mais intensa será a pressão gerada pela mesma ao passar pelo canal, sendo assim, maior será o prazer da criança. Conforme Freud (1997), posteriormente, a criança irá descobrir também a possibilidade do prazer advindo do toque, o que irá resultar mais tarde na masturbação, mas ainda assim, segundo o autor, e seus estudiosos posteriores, essa masturbação envolve apenas auto-erotismo, ou seja, em nada tem a ver com o sexo oposto, o mesmo sexo, ou outro individuo em si; a criança apenas esta descobrindo a si mesma através de sua sexualidade. Diferente da masturbação adulta, que em geral envolve fantasias com outro ser, no caso da criança, não há esse fator no inicio, ela apenas busca o prazer em si, e em seu corpo.

MAMÃE, PAPAI? OU FUNÇÃO MATERNA E PATERNA?

Das fases, passemos as funções: materna e paterna, que exercem fundamental importância no desenvolvimento segunda à perspectiva psicanalista.
Segundo Freud, e a psicanálise advinda deste, é a relação do individuo com a função materna e com a paterna, que irá determinar sua estrutura de funcionamento. Funções, aqui entenda-se, que podem ser exercidas por qualquer sujeito, sendo que, a mãe pode exercer função paterna, e o pai materna, ou um destes, desempenhar as duas funções. Para Freud e sua psicanálise, a função materna é a saciedade das necessidades da criança, e a função paterna, é a estrada da lei, ou seja, o sujeito que desempenha papel regulador, castrando o individuo. A castração, termo para definir a limitação, sendo o fator que fará com que a criança entenda que sua mãe e ela, são coisas distintas, e que suas necessidades, não serão saciadas de imediato. 
A castração, esse ato de limitar a criança, exerce o fator principal na constituição desta. Caso haja uma castração “bem sucedida”, a criança tende a se estruturar na neurose, a estrutura mais comum à sociedade atual. Caso essa castração seja feita de maneira fraca, e titubeante, essa criança tende a se estruturar na perversão. Mas não havendo a castração, essa criança se torna psicótica.
É importante entender, que para a psicanálise, não há uma estrutura correta, sendo assim, o sujeito que se estrutura na perversão ou psicose, mesmo não sendo a estrutura mais comum, ainda assim, este terá uma vida habitual e normal, ou pode ter um surto, exatamente como qualquer neurótico está suscetível. As estruturas, em nada têm a ver com doenças, até mesmo porque dentro da psicanálise, o conceito de doença é totalmente relativo, se trabalhando muito mais, com a ideia de sofrimento e não doença. Desejamos mudar o que nos faz sofrer, definido também por Freud, como buscar o prazer evitando o desprazer.
Para melhor compreensão, vamos entender adequadamente as estruturas.
* Neurose: É a estrutura mais convencional, na qual se encontra inserida uma boa parte da população, trata-se do sujeito que “neurisa”, pensa acerca de tudo, às vezes pensando até em exagero, sente remorso por fazer o que em sua concepção é errado. Isso ocorre com a castração bem sucedida do sujeito, o que lhe da uma noção clara, do que é certo e errado, por isso seu remorso ao fazer qualquer coisa que considere errada segundo sua cultura e inserção social. A estrutura mais comum de atender-se em clínica.
Dentro dela, se subdividem outras três subestruturas:
- Neurose Histérica: Onde o individuo manifesta sintomas no corpo. Ex: Um cão morde minha perna, toda vez que eu vejo um cão minha perna dói, ou paralisa.
- Neurose Fóbica: O sujeito manifesta o sintoma, o projetando em um objeto esterno a ele. Ex: Um cão me morde, eu passo a ter medo de cães, projeto em todos os cães, o medo que um especifico me causou.
- Neurose Obsessiva: O sujeito manifesta o sintoma em atos. Ex: Um cão morde minha perna, e eu passo a ter o habito de coçar a perna sem motivo. Conhecido TOC.
A próxima estrutura é a Psicose: Esta se forma quando não há castração, ou seja, o sujeito não foi desligado da mãe, ela permaneceu satisfazendo seus desejos, sem que o individuo fosse confrontado com a realidade. Esta estrutura também se subdivide em três:
- Esquizofrenia: Onde muitas vezes o sujeito manifesta seus pensamentos de maneira externa a ele, ou seja, é como se o que ele pensa, fosse outra pessoa, resultado de uma distinção conturbada entre ele e o mundo. Não fica bem claro a este, o que é do outro, e o que é dele próprio, por este motivo ocorrem às alucinações, que em verdade, são simplesmente, a manifestação da mente do próprio, mas que a ele, parece algo esterno a si.
- Melancolia: A tristeza exagerada, e desanimo da vida e da existência, caracterizam os sujeitos desta estrutura.
- Paranóia: Uma constante sensação de perseguição e conspiração, o sujeito sente que sempre há alguém próximo desejando seu mal.
A terceira estrutura, Perversão, é a mais difícil ocorrer atendimento em clinicas de psicologia, está ocorre quando a castração é feita de maneira fraca, “mal sucedida”, é aquela situação onde a mãe do individuo lhe impõe regras, mas ela mesma quebra essas regras, ou incentiva que o filho o faça. Ou então, o pai põe regras, e a mãe autoriza o filho a quebrar essas regras. Ex: O pai fala para o filho que não deve brincar na rua à noite, mas quando escurece sua mãe diz: “Pode brincar, mas a hora que seu pai estiver chegando venha para dentro.” Isso dá para a criança a sensação de que a regra não é valida, existe, mas não há problema em quebrar a regra, desde que não seja pego. Esta estrutura também se caracteriza pela sensação de prazer na dor. Seja ela a própria (Masoquismo), ou alheia (Sadismo). Essa estrutura, segundo Dor (1991) lendo Freud, além das duas formas anteriores citadas, uma equivalência da outra, também possui o Voyeurismo, com seu equivalente Exibicionismo. Constando tais como formas de perversão definidas por Freud e seus seguidores.
É importante novamente frisar que isso não é necessariamente ruim, pois alguém que se beneficia da dor alheia, pode ajudar quem sente a dor, como é o caso dos médicos, psicólogos, bombeiros... é necessário fortes traços perversos, para conseguir manter a calma, e ser racional, diante da dor do outro.
É claro, também é importante lembrar, que a suposta rotulação da estrutura, não existe, pois todos os sujeitos, mesmo estruturados dentro de um delas, ainda possuem traços das demais estruturas psíquicas. E mesmo das subestruturas. Um sujeito inteiramente psicótico, ou somente perverso, ou totalmente neurótico, é coisa de literatura. Não uma situação real, pois tornasse quase impossível a sobrevivência social de um sujeito que possua apenas uma estrutura psíquica.

COMPLEXO DE ÉDIPO.

Um dos motivos causador de revolta nas teorias de Freud, esta situado no complexo de Édipo. Não bastasse Freud trazer a tona à sexualidade infantil, ele ainda diz: que o filho deseja eliminar o pai e tomar a mãe para si. O que as mentes medíocres e superficiais que criticam essa afirmação, não compreendem, é que quando Freud se refere a tomar a mãe para si, não está fazendo referencia a atividade sexual, que é de se presumir que em mentes “pervertidas” segundo o senso comum, seria a primeira coisa que imaginam, quando Freud se refere a tomar a mãe para si, é no sentido de ter o carinho e atenção desta, somente para ele, sem precisar dividi-la com o pai.
Quando a castração ocorre de maneira bem sucedida, como já definido neste anteriormente, o complexo desaparece, com a criança compreendendo que ela não pode ter a mãe para si, ao menos não sem dividir sua atenção com o pai, e de certo modo, ela começa a entender, que a relação que a mãe tem com o pai, é diferente da que ela tem com a mãe.
É importante lembrar que o complexo de Édipo ocorre tanto no menino, quanto na menina, e diferente do que inicialmente se pensa, para ambos o objeto de amor é quem cumpre a função materna. Ou seja, não é que o filho vai querer tomar a mãe para si, e a filha o pai. Na verdade, se o filho recebe carinho e atenção às suas necessidades por parte do pai, vai querer tomar o pai para si, afastando a mãe do pai. O mesmo equivale à menina, se é a mãe quem atende as suas necessidades, a filha vai querer afastar o pai, tomando a mãe para si. O inverso também sendo valido. O pai atendendo as necessidades da filha, e a mãe do filho. Lembrando a discussão do tópico anterior, pai e mãe dentro desta visão psicanalítica, são funções, não refletindo necessariamente os genitores.
A situação na qual a filha deseja tomar o pai para si, mesmo esse exercendo função paterna, onde ela deseja substituir a mãe, é definida por Freud como complexo de Electra, mas segundo Freud, isso não é recorrente. Não sendo por tanto merecedor de analises mais profundas. Já que o mais comum, é que ambos, tanto menino quanto menina, “sofram” do complexo de Édipo, desejando tomar para si, seu primeiro objeto de amor, a função materna, seja esta exercida por quem for.

ID, EGO e SUPEREGO.

Aliado as estruturas psíquicas e a sexualidade infantil, temos o ID, EGO e SUPEREGO.
O ID seria uma questão inicial, onde o sujeito não tem a dissensão do que é o mundo e ele, sendo assim, “eu quero eu faço” não há noção de propriedade, nem clareza do outro, seria uma fase anterior à castração. Pode se dizer de maneira selvagem, que o sujeito psicótico permanece nesse período de ID.
O EGO é o momento em que a criança começa a ter distinção de que a mãe, o mundo e ela, são coisas diferentes. O responsável por isso, é a função paterna. Como já tratado aqui antes, esta função pode ser exercida pela própria mãe, ou inclusive por um irmão. Quando um irmão exerce a função castradora, pode se dar de duas formas básicas; na primeira, esse irmão é mais velho, e entra com a lei, dizendo a criança o que é correto ou não ela fazer; em uma segunda possibilidade, esse irmão é mais novo, e demanda da mãe uma atenção maior do que o mais velho, sendo assim, a mãe não estará disponível para o irmão mais velho de maneira imediata, demonstrando a este, que a mãe e ele são coisas diferentes.
O SUPEREGO é o momento em que a criança compreende, que esta inserida em uma sociedade e cultura, e que se faz necessário que ela tenha uma forma de agir esperada, e que controle suas pulsões, do contrario não será aceita.

LINGUAGEM

Lacan, quando em releitura de Freud, trás para discussão e tornasse ponto forte em seus estudos, a questão da linguagem, que segundo ele, é a única forma de se possibilitar o desenvolvimento do individuo, como o ser humano que conhecemos.
A seguir é possível perceber a grande importância que Lacan da à linguagem.


Quando a criança vem ao mundo, ela já se encontra marcada por um discurso, no qual se inscrevem a fantasia de seus pais, a cultura e a classe social a qual pertence.
Tudo isso constitui o campo do Outro, lugar onde se forma o sujeito. Por essa razão, Lacan não só insiste na exterioridade do simbólico em relação ao homem, mas, também, na sujeição do homem à linguagem. Isso se explica pelo fato de que a estrutura da linguagem preexiste ao sujeito; seja qual for a língua que tenha que aprender para se comunicar com seu entorno sócio-cultural, a criança não a modifica, pois, na verdade, tem que se submeter a ela (MILLER, 2002, p.20 citado por: GOMES 2009 p.4).

“Fica evidente, então, que a Psicanálise, na interpretação de Lacan, consiste em uma construção teórica em que os processos comunicacionais são centrais.” (GOMES, p.6. 2009)
Para Lacan, a criança tem emprestado da mãe, ou como já vimos função materna, o vocabulário que não lhe pertence, é a mãe quem atribui a criança os significados, e seus sentimentos, segundo a teoria Lacaniana, a criança não possui vocabulário para expressar sentimentos, sendo assim a mãe lhe empresta o dela, dizendo o que o bebê sente. Quando o bebê sorri, é comum a mãe dizer, o bebê esta feliz; ou quando o bebê chora, a mãe diz: bebê esta triste, ou com dor, enfim, nessa faze inicial de vida, os sentimentos da criança são representados pela mãe.
Esse tópico tem por finalidade apenas apontar para onde seguiu a caminhada dos estudos psicanalíticos de Freud, Lacan e outros, Freudianos declarados, deram continuidade a suas obras, realizando novas leituras, buscando rever conceitos.
Uma das pessoas que deu sequência também aos estudos de Sigmund Freud, e criou suas próprias teorias, sendo um nome referencia no tratamento infantil, foi Anna Freud, filha de Sigmund. Mas como dito antes neste, nossa função e intenção não é discutir o desenvolvimento definido pelos seguidores de Freud, a intenção estabelecida, creio já ter sido cumprida, que era expor de maneira breve, como Freud definiu o desenvolvimento infantil, a sequência de seus seguidores não lhe pertence, sendo exposta aqui apenas como um apontamento de direção, caso seja de interesse de alguém buscar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Tendo sido aqui cumprido o objetivo de expor de maneira breve o desenvolvimento a partir da visão Freudiana, e ainda apontando para onde esses estudos deram seguimento, consideramos esse trabalho encerrado!

REFERÊNCIAS:

FREUD, Sigumund. Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Imago. Rio de Janeiro, 1997.

DOR, Joel. Estruturas e clínica psicanalítica. Livrarias Taurus-Timbre Editores, Rio de Janeiro, 1991.

GOMES, Adriana de Albuquerque.

Linguagem e discurso na Psicanálise de Jacques Lacan. 2009. Disponível em: <http://www.cefetsp.br/edu/sertaozinho/revista/volumes_anteriores/volume1numero2/ARTIGOS/volume1numero2artigo1.pdf> Acessado em: 24/10/2014.

LEITURAS DE APOIO:

COSTA, Terezinha. Psicanálise com Crianças. Zahar 3º ed. Rio de Janeiro, 2010.

Jacques Lacan, o analista da linguagem. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/analista-linguagem-423050.shtml?page=1> Acessado em: 24/10/2014.

FERREIRA, Nadiá Paulo. Jacques Lacan: Apropriação e Subversão da Lingüística. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/agora/v5n1/v5n1a09.pdf> Acessado em: 24/10/2014.

VÍDEOS ASSISTIDOS PARA PRODUÇÃO DESTE TRABALHO:

A Sexualidade a partir da Psicanálise.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=mZ0rV1Ix40Y&feature=youtu.be> Acessado em: 24/10/2014

Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade de Freud – Introdução. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=aZSsUQ7yq8s&feature=youtu.be> Acessado em: 24/10/2014.


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