Algumas tribos indígenas
consideram uma imensa criminalidade o que fazemos com nossas crianças, para
eles é absurdo e inadmissível que coloquemos nossas crianças para fazer
qualquer coisa que não, ser criança.
E intolerável a
eles o fato de mandarmos nossas crianças para cetros de amestramento, para
ensinar-lhes a serem adultos, ao invés de antes de tudo elas estarem aprendendo
a serem crianças. Para eles, a criança deve apenas ser criança, brincar,
correr, ficar a toa, observar os adultos, nadar no rio... fazer tudo que seja de
direito de uma criança fazer.
Com treze ou
quatorze anos, quando as meninas tem sua primeira menstruação são consideradas
mulheres, estão aptas a se casarem e terem filhos. Muitos se assustam achando
que são apenas crianças, jovens demais para terem uma família, mas a resposta
que se ouve é: “Elas tiveram treze anos para serem crianças, para brincar, para
se divertir, para se relacionar com as outras crianças da tribo, diferente das
crianças de vocês que passam mais da metade desses treze anos iniciais, em uma
escola sendo amestradas a como ser um adulto de sucesso, nossas crianças passaram
esses treze anos apenas sendo crianças, nada mais. E agora a sua natureza biológica
diz que ela é uma adulta, e ela vai aprender a ser adulta, sendo adulta, assim
como aprendeu a ser criança, sendo criança.”
Eles não
consideram adolescência, nem nenhuma outra fase intermediaria, pois acreditam
que se aprende a viver vivendo. E somente se é criança, sendo, sem se preparar
para nada, que não seja ser criança, pois assim, quando se chega a hora de ser
adulto, não há lamento, pois se foi legitimamente criança, se foi criança por
tanto tempo e com tanta intensidade, que se tornar adulto é até um alivio, para
mudar um pouco a rotina. E quando questionamos se essas crianças não sentem
medo de tanta responsabilidade, ainda jovens, a resposta é: “Quem disse que ser
criança não demanda uma imensa responsabilidade? A responsabilidade apenas muda
de direção, ela não te que ser menos responsáveis do que já foram até então.
Você já viu uma criança construindo uma casa de gravetos e galhos? Elas são
capazes de passar horas e horas dedicadas à construção da casa mais perfeita
para brincarem, mesmo que depois de pronta, por vezes nem cheguem a brincar. Se
ser capas de construir algo tão complexo em comunidade, não é responsabilidade,
o que seria? Se suas crianças parecem irresponsáveis a seus olhos, talvez seja
porque vocês atribuem a elas muito mais responsabilidade do que deveriam ter,
alias, vocês atribuem a elas, uma responsabilidade que vocês próprios, como
adultos não possuem.”
“Vocês exigem de
suas crianças, que passem horas sendas em escolas, em uma cadeira e uma posição
desconfortável, sendo que quando depois de adultos vão às universidades, são
incapazes de permanecer o mesmo tempo, sendo muitas vezes em cadeiras muito
mais confortáveis. Vocês exigem das crianças de vocês que trabalhem em grupo,
mas nas empresas que trabalham, mal fazem o próprio trabalho e ainda prejudicam
um colega, se for para ganhar um cargo melhor. Querem que suas crianças
resolvam seus desentendimentos, de maneira amistosa, mas resolvem suas
discussões de trânsito a base de tiros. Querem que suas crianças sejam cultas,
falem mais de uma língua, citem grandes autores. Mas vocês próprios, como
adultos: são incapazes de ler sobre sua cultura, sobre sua politica, sobre suas
origens.”
“Nossas
crianças, são verdadeiramente crianças, para poderem ser verdadeiramente
adultas. São crianças felizes, para serem adultos felizes, não adultos
resignados com a infância que perderam, que ficam comprando brinquedos caros,
para tentar recuperar algo que só poderiam ter vivido naquele momento.”
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