— Senhor Nietzsche, sabe que você é tido por muitos como um
filósofo pessimista, não é?!
— Eu? Pessimista? Por que o seria?
— Talvez porque você destrói qualquer ideia de algo para
além de uma vida miserável na existência atual.
— Se você torna sua vida miserável o pessimismo não é meu,
mas sim das suas atitudes.
— As pessoas se sentem mais seguras em imaginar que existe
um propósito maior na sua existência.
— Seguras o suficiente, para desperdiçar a única vida que
elas têm. Se você entende que essa vida é a que precisa ser vivida, você não a
descartará em nome de imaginações posteriores. Já leu meu conceito de eterno
retorno?
— Ler é uma coisa, entender o que você escreve é outra coisa
senhor Nietzsche!
— Nossa! Sempre me faço tão claro em minha escrita!
— Sim, certamente, imagina, quem em sã consciência discordaria
disso!
— Em fim. Imagine essa mesma tarde senhor Wrobleski, nós
aqui, nessa conversa descontraída, acompanhada dessa bebida, qual é mesmo o
nome?...
— Chimarrão senhor Nietzsche!
— Pois bem, como eu dizia, imagine que essa cena que ocorre
nesse momento, nós dois aqui conversando e bebendo, irá se repetir por
infinitas vezes, exatamente como ela ocorre nesse momento. Pense em como se
sente em relação a isso, se essa ideia te aterroriza, é porque nesse exato
momento você está desperdiçando sua vida. Ao contrario, se essa ideia lhe é de
agrado, significa que está vivendo a sua vida exatamente como deseja. É afeito
aos prazeres da sexualidade senhor Wrobleski?
— Sim!
— Então se imagine em um momento de prazer, com a mulher
mais atraente que já conheceu em sua vida, imagine um momento de máximo prazer,
o mais intenso que já experienciou em sua vida. Lhe desagrada imaginar esse
momento se repetindo eternamente?
Se você está
vivendo de maneira legitima, a ideia do eterno retorno, não lhe desagradará,
mas se está desperdiçando sua vida, essa ideia lhe será mais assustadora e
angustiante, do que a própria ideia da morte. Por isso, que quem compreende
esse conceito meu, não precisa de muletas metafísicas para suportar a vida,
porque encontra a suportabilidade dela, na própria vida presente e não em
promessas futuras. Por isso discordo de quem me chama de pessimista, só veem pessimismo
na minha filosofia, aqueles que se esforçam para que suas vidas sejam péssimas.
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