— Grande Ser Tão Veredas, não?
— Todos somos... seres cheios de
caminhos, de fantasias, de expectativas, de demônios em redemoinhos.
— Mas como enjaular esses demônios para
que não causem o inferno na Terra?
— Rs!!! Já tentou enjaular um raio?
E mais fácil montar e domar! Nossos demônios são cavalos selvagens, se domá-los,
nos são úteis para o trabalho pesado. O homem não vive de santidade, vive na
busca de deus, mas na hora do duelo é o diabo que puxa o gatilho da arma.
— Me parece uma visão de humano drástica
para quem parece tão doce com a natureza.
— A natureza é bela, mas a beleza
dela está justamente no fato de que tem seus atrapalhos, os raios incendeiam a
mata seca, que arde no fogo de uma fênix, destruindo com o antigo, para trazer
boas novas. O bicho homem tem modo de querer controlar a natureza, como filho
mal criado querendo mandar na mãe, mas somos tão pequenos diante dela...
— Assim como filho mal educado, foi
educado pela própria mãe, o ser humano só está aqui porque a natureza nos
permitiu evoluir para o que somos.
— Essa é a grande benção, se
chegamos onde estamos e aqui apeamos, podemos amontar e partir para novos
caminhos, sermos seres melhores, essa é a beleza da vida, não estamos prontos,
somos monte e desmonte, somos seres eternamente inacabados, fadados à mudança,
mas abençoados por não sermos condenados a mesmice.
— Mas para seres de mudanças tão
constantes, como ter a certeza do caminho?
— E quem disse que temos? O senhor
veja, mire bem, não sabemos o que somos, não sabemos pr’onde vamos, nem donde
viemos. Tudo que sabemos é que cá estamos e nessas constantes mudanças, temos
que nos virar sem se avexar. Seguindo o rumo da vida e não da nossa vontade.
— Me parece montar em cavalo sem
rédea!
— Talvez pior, é montar em cavalo
que nunca foi selado.
— E como não cair?
— Talvez seja melhor o senhor
perguntar como se levantar, o tombo já é certo, resta à incerteza do que fazer
estando no chão.
— E quando o tombo é feio demais
para levantar?
— Quando a onça pintada aparece,
cavalo manco aprende a galopar em três patas. Nada como o aperto da vida, pra
ensina a ter coragem, afinal, nada mais do que isso, de nos ela quer. A vida
esquenta pra esfriar, sossega pra desinquietar, ela só quer que tenhamos
coragem, coragem de amontar nesse cavalo, do qual sabemos que vamos cair, mas
confiamos que vamos poder levantar.
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