quarta-feira, 27 de setembro de 2017

HIPOCRISIA ACADÊMICA

Um de meus mentores na psicanálise costumava citar um professor seu, afirmando que: “A universidade é o espaço com maior numero de imbecis por metro quadrado.” Essa afirmação dele, sempre me gerou certo asco, pois eu sempre tive certa admiração por meus professores, mas o tempo de curso vai passando, você vai convivendo e percebendo varias coisas que estavam encobertas pelo encanto inicial. É como um namoro, nos primeiros meses o outro é perfeito, feitos um para o outro, conforme o convívio se dá, fica evidente que o outro nem sempre toma banho, não é calmo e educado todos os dias, não tem muita noção do que diz em certos momentos... Não é diferente na academia.
O que mais percebi ao longo dos anos, foi à hipocrisia existente nesse meio. O que para mim é bem triste, já que hipocrisia é uma das coisas que mais desprezo. Por exemplo: no curso de psicologia, com frequência os professores nos alertam sobre as lógicas impostas e naturalização do sofrimento. Não devemos estar de acordo com lógicas naturalizantes que afirmam que a vida sempre foi assim, que o trabalho faz sofrer mesmo e as pessoas devem se acostumar a isso. Longe de mim discordar, de fato as lógicas naturalizantes são horrendas. A questão, é que quando os alunos afirmam para o professor que aquele ritmo de aula os gera sofrimento, pois não estão dando conta de todas as matérias, que o numero de provas e trabalhos está incompatível com o tempo disponível para estudo, o que esses alunos ouvem, é que sempre foi assim, todas as turmas anteriores deram conta, como que a de vocês não vai conseguir? Ninguém para pra perguntar qual foi o custo psíquico para essas turmas anteriores, e fazem comparações ridículas, como se de fato uma turma pudesse ser comparada a outra, como se em momento algum existisse singularidade.
Já ouvi professores afirmando que nenhum aluno deles conseguiu escrever coisas brilhantes como: Freud, Schopenhauer ou Nietzsche. Mas ai fico me recordando, que esses três autores foram muito desprezados pelas universidades nas quais deram aulas, e que soo escreveram o que escreveram, porque em geral negaram boa parte do que era dito até então, e fizeram afirmações novas, ou releituras que outrora foram rejeitada. Ambos tiveram suas escritas rejeitas e repudiadas por muito tempo, antes de se tornarem os grandes nomes que se tornaram. E o que ocorre na academia atualmente? Quando um aluno escreve algo autoral, diferente, em uma linguagem própria, o que ele irá ouvir do orientador ou de uma banca, é que sua forma de escrita está inadequada aos padrões acadêmicos. Mas ai lhes pergunto: Como escrever algo inovador, autoral e genial como autores citados anteriormente, se somos presos a um molde hipócrita? E como querer que um limoeiro naturalmente produza laranjas.
Em estágios de atuação profissional, aprendemos cuidadosamente tudo que deve e não deve ser feito em campo, mas quando vamos de fato atuar, nos é indicado que façamos coisas que jamais deveríamos fazer e vemos nossos professores fazendo muitas vezes o inverso de tudo que ensinaram em sala. Nos dizem que não devemos pactuar com crimes e lógicas criminosas, mas quando presenciamos atos criminosos no estágio, somos orientados a nos calar para não perder o campo de estágio.

A hipocrisia se acumula as pilhas nas universidades.

Nenhum comentário:

Postar um comentário