Um de meus mentores na psicanálise costumava citar um
professor seu, afirmando que: “A universidade é o espaço com maior numero de
imbecis por metro quadrado.” Essa afirmação dele, sempre me gerou certo asco,
pois eu sempre tive certa admiração por meus professores, mas o tempo de curso
vai passando, você vai convivendo e percebendo varias coisas que estavam
encobertas pelo encanto inicial. É como um namoro, nos primeiros meses o outro
é perfeito, feitos um para o outro, conforme o convívio se dá, fica evidente
que o outro nem sempre toma banho, não é calmo e educado todos os dias, não tem
muita noção do que diz em certos momentos... Não é diferente na academia.
O que mais percebi ao longo dos anos, foi à hipocrisia
existente nesse meio. O que para mim é bem triste, já que hipocrisia é uma das
coisas que mais desprezo. Por exemplo: no curso de psicologia, com frequência os
professores nos alertam sobre as lógicas impostas e naturalização do sofrimento.
Não devemos estar de acordo com lógicas naturalizantes que afirmam que a vida
sempre foi assim, que o trabalho faz sofrer mesmo e as pessoas devem se
acostumar a isso. Longe de mim discordar, de fato as lógicas naturalizantes são
horrendas. A questão, é que quando os alunos afirmam para o professor que
aquele ritmo de aula os gera sofrimento, pois não estão dando conta de todas as
matérias, que o numero de provas e trabalhos está incompatível com o tempo disponível
para estudo, o que esses alunos ouvem, é que sempre foi assim, todas as turmas
anteriores deram conta, como que a de vocês não vai conseguir? Ninguém para pra
perguntar qual foi o custo psíquico para essas turmas anteriores, e fazem
comparações ridículas, como se de fato uma turma pudesse ser comparada a outra,
como se em momento algum existisse singularidade.
Já ouvi professores afirmando que nenhum aluno deles
conseguiu escrever coisas brilhantes como: Freud, Schopenhauer ou Nietzsche. Mas
ai fico me recordando, que esses três autores foram muito desprezados pelas
universidades nas quais deram aulas, e que soo escreveram o que escreveram,
porque em geral negaram boa parte do que era dito até então, e fizeram
afirmações novas, ou releituras que outrora foram rejeitada. Ambos tiveram suas
escritas rejeitas e repudiadas por muito tempo, antes de se tornarem os grandes
nomes que se tornaram. E o que ocorre na academia atualmente? Quando um aluno
escreve algo autoral, diferente, em uma linguagem própria, o que ele irá ouvir
do orientador ou de uma banca, é que sua forma de escrita está inadequada aos
padrões acadêmicos. Mas ai lhes pergunto: Como escrever algo inovador, autoral
e genial como autores citados anteriormente, se somos presos a um molde hipócrita?
E como querer que um limoeiro naturalmente produza laranjas.
Em estágios de atuação profissional, aprendemos
cuidadosamente tudo que deve e não deve ser feito em campo, mas quando vamos de
fato atuar, nos é indicado que façamos coisas que jamais deveríamos fazer e
vemos nossos professores fazendo muitas vezes o inverso de tudo que ensinaram
em sala. Nos dizem que não devemos pactuar com crimes e lógicas criminosas, mas
quando presenciamos atos criminosos no estágio, somos orientados a nos calar para
não perder o campo de estágio.
A hipocrisia se acumula as pilhas nas universidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário