domingo, 3 de setembro de 2017

FILHOS NA CAMA DO CASAL

Temos uma construção sociocultural, na qual, é esperado que um casal tenha momentos de intimidade, como compartilhamento das atividades diárias, troca de carinhos e ato sexual. Não trata-se de uma obrigatoriedade, mas algo socialmente construído que é esperado, já que assim somos ensinados ser o correto, ou no mínimo habitual.


Quando um casal leva um de seus filhos ou o único filho/filha, para sua cama, a criança obviamente se torna uma barreira para essa intimidade, tanto na conversa e compartilhamento do dia, quanto na prática sexual, ao menos espera-se que essa criança torne-se uma barreira, porque afinal, se mesmo com a criança na cama, esse casal pratica relações sexuais, entendemos em nossa cultura que existe um crime sendo cometido ai, quanto a conversa, normalmente crianças interrompem a fala dos pais, então não é fácil manter um dialogo longo em companhia de uma criança. Excluindo as situações de crime declarado, temos um casal que está se utilizando de uma criança para evitar sua intimidade esperada, isso pode ser consciente ou inconsciente, de um ou ambos os parceiros.
Podemos entender que um casal que leva a criança para sua cama, tendo condições financeiras, de mantê-la em um quarto e cama própria, está se utilizando dessa criança como uma barreira para o casal. Aqui, excluímos os casos nos quais a casa possui um único quarto ou o casal não tem condições de comprar uma cama para a criança, mas nesses casos um auxilio da assistência social seria saudável.
Com as resalvas feitas, um casal que mantenha filhos em uma mesma cama, está declaradamente demonstrando um sintoma de um casamento doente, no qual a criança vem sendo usada como uma “desculpa” para evitar a intimidade do casal. Isso não apenas expõe a criança a riscos físicos, estando na mesma cama que seres com quatro vezes o peso dela, como também a expõe a sérios riscos de saúde psíquica, sendo usada como uma barreira, uma simples ferramenta ou sintoma do relacionamento dos pais.
Temos também a questão de que uma criança dormir em uma mesma cama que um adulto, pode criar nela o entendimento de que isso é “normal” e aceitável, tornando-se uma facilitação para a pedofilia. Entenda-se bem, não é que uma criança que dorme com um adulto, ou adultos, necessariamente vai ser abusada, ou está vulnerável a todos os males do mundo, mas quando outro adulto convida-la para deitar-se na mesma cama, com intenções sexuais, a criança não vai considerar estranho o convite, porque afinal para ela virou habitual deitar na mesma cama que adultos. Diferente de uma criança que não tivesse esse hábito, que poderia minimamente estranhar o convite e apresentar resistência, o que dificultaria o abuso.
Por esses e outros motivos, me posiciono totalmente contrário a uma criança estar na mesma cama que um adulto, ao mesmo em nossa cultura e forma de construção social. Costumo sempre dizer, e me perdoem o trocadilho, tudo aquilo que você estranharia um estranho fazer com seu filho, você também não deveria fazê-lo. Se você não vê com normalidade um estranho deitar-se na mesma cama que seu filho ou filha, por que seria normal você deitar-se?
Se essa ação fosse vista com menos naturalidade, evitaríamos inclusive boa parte dos abusos de crianças dentro das casas, por parte de um dos pais, não é inédito e nem mesmo incomum, encontrarmos situações nas quais, um dos pais abusa da criança enquanto o outro dorme, e até outras, nas quais ambos os pais abusam da criança como mencionei anteriormente, me referindo como situação criminosa declarada. Sei que os pais sempre tem o abuso sexual facilitado, pois a criança é dependente deles e por tanto submissa aos mesmos, mas quando você coloca essa criança na mesma cama que você e seu, ou sua, parceira, você está abrindo uma porta de entrada a mais para facilitar um abuso. Em uma sociedade na qual cada vez mais ficamos sabendo de abusos sexuais envolvendo crianças, dificultar esses abusos, é muito mais interessante do que facilita-los. E quanto a casais que estão usando a criança como ferramenta para evitar intimidade, um casamento doente não faz bem para o próprio casal e acaba refletindo no desenvolvimento da criança, terapia de casal é uma excelente alternativa para esses casos.

Espero que entendam meus argumentos e ponderem a validade dos mesmos.

domingo, 13 de agosto de 2017

A PEDAGOGIA WALDORF

A pedagogia Waldorf busca um desenvolvimento integralizado do ser humano, compreendendo que cada sujeito está diretamente ligado com o universo e faz parte desse universo, tendo também parte do universo dentro de si. Nesse sentido a busca é pelo desenvolvimento pleno da criança, tanto: intelectual, emocional, afetivo, como espiritual.
Essa forma de ensino busca um reconhecimento por parte da criança da sua integralidade no universo, de maneira livre e criativa. Justamente por isso, a criança não é obrigada a nada, mas sim incentivada a realizar atividades que desenvolvam sua coordenação motora, seu físico, sua criatividade e seu emocional afetivo. Para possibilitar essa criatividade, as escolas que seguem esse princípio pedagógico, se utilizam da simplicidade, permitindo assim, que as crianças possam inventar, e não obter tudo pronto.
As escolas que se utilizam da pedagogia Waldorf são livres para criarem seus próprios conteúdos de acordo com a necessidade de sua própria realidade, compartilham entre si, apenas os pressupostos filosóficos pedagógicos. As escolas costumam se utilizar de atividades domesticas como forma de aprendizado, por exemplo, através da culinária se aprende a fracionar a receita, através da ordenha de uma vaca, se aprende sobre biologia animal. As crianças conhecem o mundo a partir dele próprio, e depois esquematizam com suas próprias palavras e desenhos, seu entendimento do funcionamento do mundo, para somente então, partirem para a teoria literária que foi escrita antes a respeito do assunto.
Existem aproximadamente mil escolas que utilizam esse sistema pedagógico no mundo e mais de dois mil jardins de infância. Numero bastante modesto, se considerarmos que somente no Brasil existem mais de cento e oitenta mil escolas fundamentais. Ou seja, o número de escolas Waldorf no mundo, representa menos de um por cento do número de escolas fundamentais só do Brasil. O que faz com que infelizmente esse tipo pedagógico seja de acesso de poucos privilegiados, já que na educação publica em geral não é uma opção muito comum. Mesmo que alguém queira matricular seu filho ou estudar em uma escola desse gênero, terá dificuldades para encontrar uma perto de sua região.
Para compreender mais, assista ao vídeo.

terça-feira, 18 de julho de 2017

EPICURO E O PRAZER

Assim como Freud foi mal interpretado ao falar em sexualidade, pois seus contemporâneos recalcados, só podiam conceber a sexualidade por meio do ato sexual, assim também quando Epicuro fala em prazer, é inconcebível a seus contemporâneos pensar a obtenção de prazer desvinculada da promiscuidade, prostituição e bebedeira. Desse modo, o filosofo acaba recebendo a fama de porco da filosofia, sendo atribuído a ele a promoção de orgias em seu jardim. Ironicamente, a filosofia epicurista justamente se opõe as ideias de prazeres da luxuria e extravagância, sendo que o prazer defendido pelo filósofo consiste justamente no prazer pelas coisas simples e cotidianas.
A filosofia epicurista, não visa viver em busca do prazer, mas sim, reinterpretar as vivências, de modo a torna-las prazerosas. Ou seja, mudando a forma como você vê a vida, e não mudando a vida.

Para conhecer melhor sobre Epicuro e a sua filosofia do prazer, assista ao vídeo.



sábado, 15 de julho de 2017

SOBRE SAÚDE

A partir de diversas perspectivas pode-se entender a saúde e doença de maneiras variadas:
Saúde = vigor, bem-estar, força; Definição corriqueira inclusive ao senso comum.
Saúde = ausência de doença; Visão biomédica que define por excelência o que não é saúde ao invés do que de fato ela o é. Além de ter um enfoque maior na doença do que no sujeito em si. Preocupa-se em remover a doença, sem dar à devida atenção a relação estabelecida entre essa doença e o sujeito. Também desconsidera a relação da doença com a vida desse sujeito, com seu contexto sociocultural. O que por sua vez acaba gerando situações como um individuo que não adere ao tratamento, porque existem questões culturais ignoradas que não o permitem, ou nos casos por exemplo de HIV/AIDS que o individuo não segue o tratamento por motivos sociais estigmatizados que por vezes são desconsiderados pela área da saúde. 
Saúde = completo estado de bem estar físico, psíquico e social; Utópico, se considerarmos o completo bem estar, ninguém se encontra em tal estado. Mas ainda assim é mais abrangente que as definições anteriores.
Saúde como equilíbrio; Visa um fim ignorando o processo, é como se um sujeito somente pudesse estar saudável quando atinge o equilíbrio, durante todo esse processo ele então seria um “sujeito doente”?
Saúde como criação de novas normas (Canguilhem) Nesse entendimento a saúde deixa de ser uma finalidade e até mesmo um silêncio dos órgãos. Deixa-se de lado ideias do que a saúde não é e também de ser uma finalidade quase inalcançável, a saúde torna-se um processo de adaptação e construção aos novos imprevistos impostos. 
Em uma visão mais abrangente se entende a necessidade de estudar a doença e saúde não como um conceito estagnado e imutável, mas sim como uma definição maleável que considere os vários aspectos culturais, sociais e econômicos, de cada sujeito como singular, único, porém dentro de todo um contexto construído por ele e que o constrói.
EX: A loucura entendida em contexto hospitalar clínico é o milagre de algumas religiões.
Também se faz necessário compreender a construção histórico sociocultural da “doença”. A própria loucura ao longo da história teve diversos olhares lançados a sua compreensão, como um desarranjo orgânico (Hipócrates), como uma maldição de deus ou possessão demoníaca (idade das trevas ou medieval) no mesmo período ainda também vista como bruxaria em alguns casos. Posteriormente se deixou de exterminar esses sujeitos, para promover uma exclusão social, já não se queimava-os vivos em fogueiras, mas os trancafiamos em grande depósitos de “loucos” aos quais chamamos por diversos nomes: Hospícios, manicômios, hospitais psiquiátricos; mas assim como dor, mal estar, incomodo, patologia, podem ser utilizados para definições semelhantes, do mesmo modo todos os nomes dados a esses depósitos de pessoas, traduzem em resumo exclusão social do que não damos conta de compreender. O louco deixa de ser um incomodo social, no momento que não mais faz parte da sociedade. Somente na atualidade se adquire um conceito de tratar o sofrimento psíquico como um ato de reinserção social, analisando toda a construção histórica da ideia de loucura, nos fica claro aspectos de vários discursos estabelecidos socialmente. Como o popular: “Por que ainda não internaram esse incomodo?” 
Analisemos agora a construção social de outro entendimento de doença. “Chega a São Paulo a temida peste gay” Não, não é piada com o time de futebol. Como será a construção social do conceito de uma doença que é anunciada a população desse modo? Ao longo de anos as formas de primeiras apresentações sociais da AIDS geraram mais estragos do que o próprio vírus HIV, contribuíram para o preconceito e exclusão social. Também construíram para alguns a falsa visão de imunidade, sendo considerada como uma peste de gays e prostitutas, todos fora do quadro considerado de risco sentiam-se seguros, como se não pudessem ser contaminados, o que certamente contribuiu de maneira eficiente para a maior proliferação do vírus, já quem não estava dentro do quadro de risco, não via necessidade em se proteger. E quando analisamos o contexto histórico da época, entendemos melhor, questões como o fato de existir um preconceito, e ideia de exclusão social de gays maior do que é a atual. Percebemos possíveis jogos de interesses, em culpar a um grupo por essa nova doença. Isso fica mais notável ainda analisando as primeiras campanhas realizadas.
A partir disso nos fica mais clara certas relações sociais construídas acerca da AIDS e desse modo, podemos entender as relações sociais estabelecidas, com cada uma das doenças existentes, das mais comuns até as mais raras, assim como as relativamente comuns, mas que tem uma relação social de grande impacto, como é o caso da lepra. Uma doença que assim como a loucura, gerou grande exclusão social. Consideremos que estamos falando de uma doença altamente contagiosa, em um período onde não havia cura, esse contexto criou leprosários, que assim como os manicômios cumpriram uma grande função de exclusão de um incomodo social.

As Politicas Públicas.

A politica pública consiste em um arranjo do Estado para atender a demandas socioeconômicas do território. Não trata-se de favor a população como muitos pensam e relatam. O Estado nada dá, ele apenas converte uma arrecadação de imposto, em retorno social para questões de uso comum, ou necessidades que de outro modo não seria acessível a maioria da população, gerando prejuízos para o estado. Por exemplo: Para o Estado se manter, precisa de arrecadação de impostos, para arrecadar imposto, precisa de trabalhadores, por tanto é de interesse do Estado ter pessoas saudáveis em seu território, pois do contrario não tem pessoas trabalhando, não arrecadando imposto, levando a uma falência do estado.
Há uma relação de interesses intrínseca ao convívio social, igualmente ocorre uma relação do gênero com o Estado.
Politicas públicas sempre envolvem um forte jogo de interesses, sejam estes lícitos, como a manutenção do Estado através de arrecadação de impostos, a formação de novos profissionais para o mercado de trabalho, ou interesses ilícitos, como propinas e benefícios individuais em detrimento do bem coletivo.
Mas lembremos sempre, que neste jogo de interesses, somos parte fundamental, não apenas como usuários dos sistemas públicos, mas também como parte construtora dos mesmos.
O SUS por exemplo, que consiste em um Sistema Único de Saúde, foi construído por participação direta de movimentos sociais. Antes da construção desse sistema único, a saúde era uma bem de direito restrito, apenas tinha acesso a ela a partir de INANPS, quem tinha um emprego registrado, deixando assim descoberto de assistência uma grande parte da população, através de pressão popular, se instituiu a partir da lei 8.080 e 8.142 de 1988 a saúde como um direito disponível a todos, teoricamente sem exclusão.
A partir de então, após a lei de 1988, a saúde não mais é responsabilidade do sujeito, mas sim do Estado. Nessa construção tivemos a participação ativa dos cidadãos, mas o que muitos desconhecem, é o fato de que essa participação deve ser permanente e não apenas durante a construção, é uma participação a qual foi conquistada pela lei 8.142, que garante o direito ao usuário da politica de SUS, construir alterações no sistema ao longo do seu uso. Essas alterações podem ser construída a partir de reclamações e sugestões mediante setores responsáveis, mas pode mais ainda, contar como uma participação efetiva na solução de dificuldades, pois o sistema é alterado através de processos aos quais todos tem o direito de participar ativamente.

Premissas estabelecidas para o funcionamento do SUS

Saúde como direito de todos e dever do Estado; Significa que incumbimos o Estado de se responsabilizar pela saúde da nação e através dos impostos que pagamos sustentamos essa prática, por isso saúde não é favor do Estado, mas sim obrigação.
Descentralização (poder, recursos, gerenciamento e execução); A ideia de descentralização, parte de uma noção de tornar os recursos mais acessíveis ao máximo de pessoas possível, não apenas de um território demarcado, mas sim de uma grande região atendida através de vários pontos difusos. 
Universalização (um SUS para todos); uma ideia de serviço disponível para toda a população territorial, estando empregada ou não, sendo de qual etnia e credo for, sendo de qualquer posição politica, social, religiosa ou não religiosa. 
Hierarquização da rede assistencial; Uma proposta de finalidade a agilizar o atendimento, que infelizmente nem sempre é respeitada, nem por gestores nem por usuários. A intensão de ter hierarquias de complexidade, visa resolver logo nos serviços básicos o que é de solução básica, subindo a complexidade de acordo com a necessidade, sendo assim, somente chegaria nos níveis mais complexos e caros, aqueles casos que de fato precisassem, gerando um menor custo de manutenção e menos aglomeração em serviços complexos. Infelizmente o mal uso desse sistema, acaba por diversas vezes fazendo com que o que era para ser uma vantagem se torne desvantagem.
Equidade; Uma noção de direitos iguais para necessidades iguais e direitos diferentes para necessidades diferentes, nem todos tem acesso aos seus direitos com politicas simplesmente igualitárias, para isso se propõe a noção de equidade, tratar pessoas de maneira diferente de acordo com a sua diferença. Em um exemplo simples, mas plausível: Eu posso afirmar que tendo um posto de saúde no bairro, ambos os vizinhos desse posto tem acesso igual a ele, pois moram ao lado, mas um desses vizinhos, tem locomoção “normal”, outro tem locomoção através de uma cadeira de rodas, se o posto de saúde tem escadarias sem uma rampa de acesso, de fato ambos tem direito de acesso igual? A pessoa que pode caminhar, e a que tem de rodar? Nesse caso percebemos de maneira fácil que uma das pessoas tem maior acesso ao serviço do que outra, mesmo ambas estando em condições de igualdade. Nesse caso a igualdade se torna excludente, pois as pessoas não são iguais, segundo a visão de equidade eu tratarei ambos de maneira diferente, para que ambos tenham direitos iguais. Isso é equidade.
Integralidade; Ver o sujeito como um todo integral e não como pedaços de um corpo, faz parte da visão do sistema de saúde.
Participação social (mecanismos: Conselhos e Conferências de Saúde); é preciso a noção da população que ela é parte integrante da construção de melhorias nas politicas. Os conselhos e conferencias de saúde entram como uma forma de acesso da população a interferência e modificação das politicas de atendimento.

IDEOLOGIA E ALIENAÇÃO NA REVOLUÇÃO DOS BICHOS

Trabalho apresentado ao prof. José Jailton Camargo na disciplina de Sociologia, como requisito parcial de avaliação semestral.
  
João Vitor Wrobleski

“No capitalismo algumas pessoas se apropriam da mais valia de todos, no socialismo um único governante se apropria da mais valia, da liberdade e da dignidade de todos.”
(Wrobleski, J. V.)

Muitos escreveram a respeito de ideologia e alienação, e ambos os conceitos são utilizados com frequência no senso comum. Não é raro ouvirmos a expressão “você está alienado”. Mas de fato quem se utiliza conhece o significado deste conceito?
Se formos ver a partir de uma perspectiva Marxista, referente a Karl Marx, um dos autores que mais ficou conhecido por escrever a respeito desses dois conceitos, segundo Marx de maneira resumida, a ideologia, é um pacote de ideias, utilizado pela classe dominante para controlar a classe dominada, e quando a classe dominada “compra” esse pacote de ideias como se fosse seu, sem enxergar as realidades contidas no discurso, nessa situação podemos dizer que a classe dominada se encontra alienada. (Conforme debatido em aulas de Sociologia ministradas por: Mst. José Jailton Camargo, na UNICENTRO)
Seguindo dessa perspectiva Marxista, iremos analisar a forma como no livro “A Revolução dos Bichos” de George Orwell, ocorre à construção de uma ideologia para alienar a classe dominada.
No referido livro, vemos que quando um líder toma o poder, muitas vezes pode idealizar o “bem do povo”, mas caso ocorra deste vir a morrer, não possui garantia alguma de que quem o substitua estará tão interessado quanto ele no povo. Isso se demonstra claro, quando Major morre na história de Orwell, restando então à liderança nas patas de dois jovens, Napoleão e Bola de Neve. E a partir de então começamos a analisar as disputas de poder e as artimanhas criadas na guerra pela obtenção do maior poder.
Após uma engenhosa e elaborada trama, Bola de Neve consegue tomar o poder para si, e pouco a pouco percebemos as deturpações que ocorrem na ideologia inicial de Major. Percebemos que o pacote de ideias pregado pela classe dominante, vai sendo moldado cada vez mais aos seus interesses e cada vez menos em função do povo.
Ao longo do livro, Orwell nos deixa bastante evidente a forma como a classe dominante molda as leis e os ideais de acordo com seus interesses, e possibilitando sempre os seus crimes impunes.
Através de seus personagens Quitéria e Sansão, Orwell nos mostra como ocorre a alienação as ideias da classe dominante. A forma como pessoas que possuem dificuldades em levantar questionamentos e analisar situações encontram um maior conforto em respostas prontas.
Um dos fatores também contribuintes para a alienação dos personagens está no fato das ameaças com necessidades básicas, conforme vemos definição da socióloga Peixoto, a respeito da alienação em Marx:
  O trabalhador é constrangido a atender suas necessidades mais imediatas, tais como: comer, beber, vestir, etc., se não o fizer porá em risco sua própria existência. Ao fazer de sua capacidade de trabalho um meio para atingir determinados fins, a sua atividade deixa de ser uma atividade livre (auto-atividade) e torna-se trabalho alienado. (PEIXOTO, p.33) 
O posicionamento de Sansão deixa bastante evidente essa alienação em função das necessidades básicas, pois se dedica ao máximo a construção do projeto do moinho acreditando que quando pronto todos terão mais alimento e monos trabalho.
É perceptível também a grande importância de ser alfabetizado para a não alienação, pois os mais suscetíveis à alienação são aqueles analfabetos, Benjamim um dos poucos leitores da classe dominada parece ser também um dos poucos que não se aliena, mas acaba por se calando devido à repressão da classe dominante.
Podemos entender aqui, o analfabetismo politico, aqueles familiarizados com a politica que estudam seu funcionamento, não permanecem alienados, já aqueles que a ignoram, aceitam tudo que lhes digam como verdade. Podemos ai também contar com as semelhanças com as ideias de Marx, o qual acredita que se o povo conhecer a verdade sobre o sistema dominante se libertará da alienação.
Uma das coisas perceptíveis na tarefa de alienação trata-se do discurso, Orwell deixa muito evidente através de seus personagens que não basta um bom “pacote de ideias”, mas se faz necessário um discurso coerente e estético, isso é bastante notável em seu personagem Bola de Neve, que possui uma fala elaborada e estética, toda “pomposa” capaz de convencer que as maiores atrocidades são coisas comuns que ocorrem. E capaz de fazer os mais tolos crerem que são animais de outra espécie.
Pudemos notar esse valor de discurso também na Alemanha em seu período nazista, onde Hitler foi capaz de vender um pacote ideológico de extermínio de raças, a uma quantidade inacreditável de pessoas.

Marx trata da ideologia utilizada no capitalismo para alienar o povo aos detentores dos meios de produção, mas quando lemos “A Revolução dos Bichos” embasado na experiência socialista da Rússia, percebemos que a alienação por uma ideologia não é problema do capitalismo, mas sim de qualquer regime politico, mais ainda no socialismo ou comunismo, pois como até o momento todas as experiências do tipo foram realizadas por ditaduras, torna-se evidente que esses são ainda mais alienantes do que o capitalismo.

EPISTEMOLOGIA EM JUNG

Trabalho apresentado à profª. 
Cesar Rey Xavier, na disciplina de 
Teoria da Personalidade,
como requisito parcial de avaliação semestral.


Como surgiu a teoria Analítica?

Uma das grandes teorias em desenvolvimento no final do século XIX inicio do XX, tratava-se da Psicanalise. Sigmund Freud, motor inicial da importante teoria psicanalítica, estava travando uma grande luta para o desenvolvimento desta, e Jung surge como seu aluno, interessado no seu trabalho. Para Freud, Jung era de grande importância em vários aspectos, primeiro que Jung era um individuo de inteligência notável, assim como Freud, possuía habilidade com diferentes línguas, tinha hábitos de leituras ricas..., as semelhanças não paravam por ai, ambos tinham apreço por arqueologia, sendo chamados posteriormente de arqueólogos da mente humana. Entre outras semelhanças, além das mais obvias claro, ambos eram médicos psiquiatras, interessados na alma humana.
As semelhanças entre Freud e Jung, gerou uma identificação entre ambos, levando-os a manter uma relação de um tempo razoável. Freud considerava que Jung seria seu sucessor, levando a diante a teoria Psicanalítica, para ele isso era de interesse, não somente pela capacidade intelectual de Jung, como também o fato de ele ser o único no circulo de Freud a não ser judeu, representar uma coisa de muito valor, em uma época onde o preconceito a judeus se fazia fortemente presente. Freud fez um razoável investimento em Jung, e quando houve a ruptura da relação entre os dois, Freud foi fortemente atingido emocionalmente.
A ruptura entre Freud e Jung, se deu por discordâncias em relação à teoria. Jung possuía uma visão muito ampla da alma humana e do mundo, via ligações entre todas as formas de conhecimento, enquanto Freud era mais sistemático, gostava de coisas mais delimitadas. Juntando isso ao fato de Jung também não ter uma aceitação da importância que Freud empreende a sexualidade, e Freud menos aceitação ainda as questões religiosas de Jung, não houve mais forma de se manter o relacionamento entre esses dois personagens. Após a ruptura com Freud, Jung passa então a desenvolver sua própria teoria Analítica, a qual sofre tanto às claras influencias de Sigmund Freud e a Psicanálise, como também terá a influencia de diversas outras áreas:

Podemos dizer que além da influencia freudiana na formação de Jung ele contava com outras influencias significativas como a de Pierre Janet, contudo, diferente de Freud e Janet, que tiravam suas conclusões através do estudo da neurose, Jung trabalhou um grande período na “área da psicose”, e, como Janet, adotava um método muito mais descritivo do que causal. Janet não procurava as causas, mas descrevia seus fenômenos criando assim a possibilidade de estabelecimento de modelos, quadros de patologia e divisões analíticas. Da mesma forma Jung seguiu por um caminho onde pudesse observar o fenômeno como se apresenta e não como pressupõe algum postulado abstrato ou personalista. (BESERRA 2015)

Além das influencias da Psicanálise e de Janet como Beserra (2015) nos trás, Jung ainda sofre influencias da alquimia, de religiões de varias regiões do mundo, da astrologia entre outros saberes. Uma das “sacadas” mais interessantes de Jung é o fato de ele chegar a ideia de que diferentes saberes tratavam de um único “evento” ou situação. A ligação entre as coisas, e dai a religião, como religação, e não algo teológico, mas sim uma necessidade de religação a algo maior (Self). Young-Eisendrath e Dawson (2002), também nos apresentam essa diversidade de conhecimentos do Jung, que ao mesmo tempo, que encantam também tornam sua teoria bastante complexa, demandando uma atenção e dedicação grande na busca de entendimento.
Ao analisar as diferentes crenças, entre elas as religiosas, Jung percebe que há pontos em comum entre elas, existem “coisas” iguais ditas de maneiras diferentes. O deus de uma religião tem equivalente em outras, símbolos comuns a varias culturas. Entre outros fatores que levaram Jung a crer que existia uma ligação comum a toda a humanidade, e quem sabe se também não uma ligação com todo o universo. Já tendo sido influenciado pelas ideias de inconsciente de Freud, Jung considera, se todos temos um inconsciente nosso, individual, por que não um inconsciente conjunto, que todos no mundo compartilhem, e que explica o fato de tantas culturas diferentes com tantas semelhanças.
Por que no Egito pirâmides? E no outro lado do mundo nas Américas, onde se tem por aceito não havendo relações entre os povos, ainda assim igualmente, pirâmides construídas no México? Qual a relação entre esses dois povos?
Segundo Jung, não somente esses dois povos, como todos os outros, compartilham de um Inconsciente Coletivo, que contem informações, símbolos e significados.
Outro dos conceitos de Jung que explica tantas semelhanças é o Arquétipo, uma “ideia” que é universal, faz parte de todas as culturas. Indiferente ao local do planeta ,se faz presente, um dos exemplos, é a imagem de salvador, onde em nossa cultura se faz mais forte em relação a Jesus, mas como podemos ver no vídeo “Jesus Cristo - A Maior Mentira da Humanidade.” Disponível em: https://youtu.be/PWBw3mNbvgw Acessado em: 06/09/2015. Ao longo dos milênios apareceram por mais vezes imagens como a dele, de um ser supremo salvador da humanidade, vemos isso no antigo Egito e em outras civilizações. Segundo Jung essa “coincidência” ocorre devido a ser um arquétipo, uma imagem universal formada, que se adapta, ou é adaptada a cada cultura. Essa imagem estaria presente em um inconsciente coletivo, ao qual todos os indivíduos e todos os povos teriam acesso, gerando assim, tais semelhanças.
Segundo Young-Eisendrath, e Dawson (2002) outra influencia que Jung teria sofrido, foi a de Kant, que segundo os autores Jung considera um precursor de sua teoria, o interesse de Kant pela parapsicologia, levaria Jung ao interesse por Kant. Sendo este, forte influencia para o desenvolvimento do conceito de arquétipo. Devido a Kant ser platônico, e como tal conservar ideias de que seguiríamos conceitos ideais, aos quais refletimos imperfeitamente.
Ainda conforme nos apontam Young-Eisendrath E Dawson (2002) outros dois filósofos de importante influência em Jung seriam Carl Gustav Caros e Arthur Schopenhauer, que renderiam a Jung as ideias de inconsciente e consciência trabalhando em conjunto e se complementando.
No final de sua vida, Jung cada vez mais demonstrou interesse pelos estudos de alquimia, influente referencia para o conceito de individuação, onde o ser que melhor se conhece, melhor conhece seus semelhantes. Acreditando este, que a alquimia era a mais forte ligação existente entre as crenças judaicas e cristãs e a psicologia moderna. Também na busca de um melhor entendimento desses laços, Jung estudou profundamente o Gnosticismo. (YOUNG-EISENDRATH E DAWSON 2002)
Tendo varias influencias culturais, e viajando por diversas partes do mundo, Jung buscou nas mais variadas culturas, correlações e interpretações possíveis, desse modo buscando uma nova visão de psiquismo humano, que privilegia-se não somente o individuo, mas sim a sua construção dentro da cultura, ainda assim, sem ignorar a singularidade de cada um. Ou seja, Jung buscou compreender o individuo em si, mas lembrando que esse individuo faz parte de algo maior, um universo, que possui ligações das mais variadas e inesperadas, a busca pela compreensão dessas ligações, moveu o desenvolvimento de seu trabalho.
Devido a seu alto nível de abrangência, a leitura de Jung não pode ser considerada como entre as mais fáceis, porem está sem duvidas, entre uma das mais abrangentes, capaz de estudar o individuo com suas singularidades e entende-lo dentro de um contexto maior.

Vídeos:

Aula de apresentação da 9a edição presencial (2015) do curso de introdução de psicologia analítica do Núcleo Português de Estudos Junguianos.

Curso de introdução à psicologia de Carl Gustav Jung - Parte 1 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3BiIKinQp54 Acessado em: 27/08/2015.

Curso de introdução à psicologia de Carl Gustav Jung - Parte 2 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XX7XI3pVGE8 Acessado em: 27/08/2015.

Curso de introdução à psicologia de Carl Gustav Jung – Parte 3 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jEv5bfKzEIs Acessado em: 27/08/2015.

Curso de introdução à psicologia de Carl Gustav Jung – Parte 4 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yU61Rk4gJh0 Acessado em: 27/08/2015.

Jesus A Maior Mentira da Humanidade, Parte do documentário Zeitgeist. Disponivel em: https://youtu.be/PWBw3mNbvgw Acessado em: 06/09/2015.

Blog:

Fernando Beserra
Disponível em: http://muitaluz.blogspot.com.br/2006/08/introduo-epistemologia-junguiana.html Acessado em: 22/08/2015 15:06 hs.

Livro: 

YOUNG-EISENDRATH, P; DAWSON, T. Manual de Cambridge Para Estudos Junguianos. Artmed, Porto Alegre, 2002.

SAUDOSISMO DA LOUCURA

João Vitor Wrobleski

Uma praça, um parque, brinquedos... Um banco, um velho, uma bengala... Crianças, mães, pais... Um céu, um sol, uma nuvem... Parece algodão, parece algodão, parece algodão, grita quase desesperada a menina, o menino diz: Parece um carro. A menina retruca: Não! Parece minha boneca.
Ao olhar às crianças a brincar, mais evidente ainda se torna minha velhice, os anos passam, nossas vontades mudam, nosso animo se apaga. Dizem nos tornamos mais sábios; maior sabedoria é a da evolução, mais sábia não há não!
A menina de camiseta com coelhinho, corre de um lado para o outro, parece nunca chegar a seu destino. Mas onde iria querer ir uma criança como ela? Somente nós, os velhos adoentados, em nossa correria por dinheiro fama e poder, somente nós precisamos chegar a um lugar físico, pois essas crianças já descobriram o caminho para o melhor destino, a felicidade, que a nós velhos é tão rara, e a elas cotidiana.
A menina de camiseta de coelhinho para, olha o menino de tênis vermelho; este que em extinto natural, quase selvagem e animalesco, coloca-se a subir pela selva de canos, demonstrando sua força, agilidade e equilíbrio. Mostrando seus atrativos a quem o observa.
No outro canto o menino de boné azul observa acanhado, a nova vizinha de vestido florido no balanço, encantado com seu cabelo esvoaçante, brilhando ouro ao sol. Encanto de menino, que vê a beleza de outro modo. Ela talvez nem tenha se dado conta de sua presença, mas para ele, olha-la basta para trazer a felicidade. Loucuras do amor, que talvez somente ao coração das crianças consiga abençoar.
Quando jovem, acreditei que minhas paixões de infância eram apenas loucura, devaneios de criança, mas quando envelhecemos, descobrimos que muitas vezes aqueles foram os mais verdadeiros amores que tivemos. Amor por amor, amar por amar, e ser feliz por poder amar.
Agora o menino de tênis vermelho, já está no alto da selva de canos, dono do mundo, dono de seu medo de altura, dono de si mesmo. A vista é o premio de sua árdua escalada, mas creio que a menina de camiseta de coelhinho, está muito longe de seus olhos agora. Assim fazemos na vida, por diversas vezes, na tentativa de nos aproximarmos de alguém, usamos estratégias erradas, e acabamos nos afastando por atitude própria.
No banco do outro lado do parque, a mãe do menino de tênis vermelho, quase enlouquece diante do conflito que passa, observa aos nervos, seu filho como um louco arriscando-se a machucar-se, mas sabe que impedi-lo de fazer, seria condenar sua criança a covardia de nunca tentar. Tudo que lhe resta fazer, é puxar novamente para dentro do peito seu coração desesperado de mãe, segura-lo o mais firme possível, e engoli-lo novamente quando lhe vem à garganta.
Em meus tempos de escalada, sofria para atingir o alto de uma montanha, ou um paredão, enfrentava meu eterno medo de altura, que sempre me acompanhou, e talvez tenha o privilégio de viver mais do que eu, quando lá encima estava, nada mais importava, pois era a sensação de nascer, de estar morto por uma vida, e finalmente ter descoberto que poderia respirar, que podia ver, ouvir, sorrir, derramar lágrimas, pela simples certeza da vida.
Agora o menino de boné azul, vai até a gangorra, onde sua musa de vestido florido se encontra, triste por estar a brincar sozinha, enquanto seu desinteressado pai, no banco lê o jornal. Surpreende-me o garoto acanhado, que atrás da aba do boné escondia a vergonha, agora conversa com seu objeto de desejo. O que estariam a falar duas crianças de seus oito anos?
O menino de tênis vermelho, em sua tentativa de demonstrar poder escalando a selva de canos, foi distante o suficiente para desinteressar a dona da camiseta de coelhinho, que vendo o menino de boné azul, e a menina de vestido florido juntos, se aproxima dos dois. E assim é na vida, às vezes vale mais estar perto, do que ser forte e poderoso.
Agora o menino de tênis vermelho, sem platéia para assisti-lo, desce e vai para o balanço, como se procura-se o colo de sua mãe para consolá-lo. E assim somos nós os homens, quando as coisas dão errado, frequentemente estamos em busca do consolo de uma mulher, seja ela nossa mãe nós dando carinho, nossa esposa nos dando amor, uma irmã nos dando apoio, ou uma prostituta qualquer, nos vendendo seu corpo.
Certa vez em um prostíbulo, um jovem rapaz me disse, as melhores psicólogas são as putas, cuidam de nossa mente e de nosso corpo ao mesmo tempo.
Admiro em minha idade ainda ver crianças a se divertir jogando coisas uma para as outras, correndo sem chegar a lugar algum...??? Correndo sem chegar a lugar algum? Ou estariam passando por todos os lugares do mundo. Lugares que nem imaginamos poder-mos chegar. Difícil acreditar que em um mundo tão informatizado, crianças ainda queiram vir a um parque. Difícil acreditar que diante da loucura do dia a dia, do transito, da criminalidade, difícil acreditar que diante de tudo isso os pais ainda encontrem tempo e vontade de trazer suas crianças a parques e praças.
Distraído, chego a assustar-me quando uma menina de cabelos loiros trançados, senta-se ao meu lado. Ela me pergunta: – O que faz aqui? Respondo-lhe: – Vim ganhar um pouco de vida. – Como Assim? – Para alguém de minha idade, ver crianças como você brincando, trás novas forças para viver. Ela me olha nos olhos: – Por que queixa-se de sua idade? – Porque o tempo passa, e não temos como controlar o tempo. Ela me responde de imediato: – O tempo não controlamos, mas a nós mesmos sim, não temos como evitar que os anos passem, mas envelhecer é uma opção. Só é velho aquele que não consegue olhar uma criança com ternura, aquele que não consegue sorrir simplesmente porque alguém sorriu para ele.
Agora o menino de tênis vermelho saiu do balanço, vai para perto das outras três crianças, a menina da camiseta de coelhinho que somente olhava o menino de boné azul e a menina de vestido florido na gangorra, agora percebe que tem alguém para fazer par consigo, e o menino de tênis vermelho que tentara demonstrar ser forte, percebe que às vezes a fraqueza de buscar o outro é a atitude de maior força.
A loirinha de tranças me pergunta: – Tem filhos? – Não! – Por que não? – Nunca acreditei que o mundo é um lugar bom para crianças viverem. Ela sorri de modo inocente e afirma: – Talvez sejamos as únicas capazes de viver em um mundo tão mal! – Por que diz isso? – Porque nós as crianças, cremos em Papai Noel e coelhinho da Páscoa, os adultos não! Nós temos um mundo dentro desse no qual vivemos, isso nos faz felizes, em momentos que parece impossível a felicidade. Não nos importamos de falarmos sozinhas se temos vontade, aliás, nunca falamos sozinhas, nós apenas ainda lembramos como é falar e ouvir a nós mesmas, as crianças lembram de como é ouvir o próprio coração. Sabe por que crianças conseguem ser felizes por muito mais tempo que os adultos? – Não faço ideia, mas gostaria de ouvir a resposta. – Somos mais felizes, porque temos conosco algo mais valioso que tudo. – E o que é? – Nossa alma, temos conosco nossa alma, não a vendemos para um emprego, não trocamos por um carro novo, nem barganhamos nossa alma por uma casa de quatro quartos, por isso somos capazes de ser feliz.

– E quem é você? Lhe pergunto. Ela me responde: – Só uma criança que se entediou de brincar, viu um velho jogado em um canto, e decidiu matá-lo para não impedir mais a criança que mora em seu coração de renascer.