segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

UM UNICÓRNIO NA PRAÇA



Em uma tarde eu estava passeando pelo centro da cidade e resolvi sentar no banco de uma praça para relaxar por alguns minutos. Enquanto aproveitava a brisa fresca de uma tarde de verão, um homem de seus quarenta e cinco anos, sentou-se ao meu lado. Comia um lanche que parece ter comprado na barraquinha ao lado, olhei de relance, e voltei a contemplar a paisagem. Mas algo me incomodava na expressão dele, comia com certa apatia, parecia alguém que como algo sem sabor, somente para repor as energias e manter sua existência. Me despertou certa estranheza, se tratando de um lanche que normalmente quem consome, é porque gosta do sabor, afinal, por ser saudável não é.
Depois de um tempo, minha mania de me meter na vida alheia foi maior do que minha educação, lancei um comentário no ar: "Você não parece muito feliz, para um dia ensolarado de brisa fresca." — "Sabe, eu achava que era bem sucedido, tenho uma rede de hotéis que fatura bem, tenho sociedade em outras empresas, sou casado, tenho uma casa luxuosa e hotéis em varias partes do país nos quais posso passar minhas férias, nas melhores suítes presidenciais. Eu acreditava que tinha o suficiente para ser feliz, mas sempre senti que faltava algo. Sabe quando você faz as malas de viagem, está descendo as escadas em direção ao carro e parece que falta algo? Mas ai você fica relembrando, eu peguei roupas para todos os dias, estou levando um par de sapatos extra, meias, peguei o celular, peguei o carregador, o carro está abastecido,... ai você chega na garagem e vai entrar no carro. E se dá conta, que deixou a chave do carro na cômoda do quarto, algo tão essencial, que apesar de você sentir falta, não recordava o que era.
Eu sempre me senti assim na minha vida, ai outro dia, fui na casa da minha mãe e comecei a revirar as minhas coisas de infância, sabe mania de mãe né? Guarda tudo, até as flores que você rouba do jardim e as presenteia, elas guardam no meio de um livro. Em meio aos as minhas coisas da escola, encontrei uma atividade que a professora pediu para fazermos na terceira série. Ela pediu para cada um de nós, escrever uma carta para o nosso eu do futuro, escrever uma carta para o adulto que nos tornaríamos, contando a ele, o que deveria ter realizado até aquela fase da vida que estaria. A minha carta dizia:

Eu do futuro, não sei quantos anos você tem, mas espero que até essa idade, você tenha conseguido realizar três desejos. Espero que você seja dono de uma fabrica de chocolate, porque eu gosto muito de chocolate e se eu tiver a minha própria fábrica vou poder comer o quanto eu quiser, espero que você tenha conseguido adotar um lindo unicórnio, meus colegas dizem que é coisa de menina, mas eu acho unicórnios bonitinhos e espero que você tenha ido para a Disney conhecer o Pluto. Se você tiver realizado essas três coisas, certamente já será um menino grande, muito feliz.
           
Ao terminar de ler a carta, me dei conta, que ao total, entre os meus hotéis e empresas que sou sócio, tenho dezoito empresas, nenhuma delas fabrica chocolate... Viajei o mundo inteiro, conheci a Europa, a Ásia, as principais cidades que são aclamadas pelo turismo, mas nunca fui a Disney, que para meu roteiro de viagens costumeiro, fica aqui ao lado. E o principal, eu nunca adotei um unicórnio.
Parece insanidade? Uma criança sonhar com ter um unicórnio? Não... Não é insanidade... Sabe o que é insanidade? Um adulto desperdiçando a vida dele, para acumular dinheiro, achando que isso o fará mais feliz. Isso é insano!"
Depois disso, ele simplesmente levantou-se, jogou o pacote do seu lanche na lixeira ao nosso lado e foi embora.

domingo, 2 de dezembro de 2018

MINHA DOCE LUA



Minha doce Lua.

Brincadeira de criança
Que virou paixão de adulto.

Quem diria
Você diz que o universo previa
Eu, como ateu
Nada prevejo, apenas vivo.

Aliás, como pode?
Tanto incomodo
Pela minha descrença?

Não creio no metafisico,
Mas no sorriso sincero de uma criança?!
Nisso sim, coloco meu voto de confiança.

A luz da Lua
O luar do coração
Quem caminha na escuridão,
Conhece seu valor.

Não rimou?
Nem tudo é para rimar
Algumas coisas
Apenas é preciso falar.

Mas valor de que?
O próprio?
O do outro?
Ou o da luz?

Talvez seja preciso tatear muito a escuridão
Para reconhecer a luz e sua ilusão
Mesmo a luz do Sol, nosso máximo rei
Deus antigo
Até ele produz sombras.

Talvez algumas pessoas apreciem a luz do sol
Mas também reconhecem que é só na ausência temporária dela
Que se torna possível ver as estrelas.
Com sorte e um pouco de conhecimento
Os planetas

Mas afinal...
Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter ou Saturno?
Para qual deles vamos, após morrer?

Ou ainda
Será vamos encontrar o Pequeno Príncipe?
Conhecer sua Rosa e seu Vulcão?
Creio que não!

Crer...
Talvez o que me falta não seja crença
Mas sim, sentido para crer.

Ou talvez,
Quando Lilith nos serviu do fruto proibido
Eu o saboreei mais do que todos
Eu apreciei cada pedaço
Do doce amargor do conhecimento.

Você se propôs a me salvar
Mas talvez esqueceu de se perguntar,
Se eu precisava ser salvo.

Será que desejava me salvar?
Ou queria que eu a salva-se?

Ainda acredita em um príncipe encantado não?
Deixe-me te contar um segredo
Príncipes andam armados de espada
Talvez não sejam tão bons quanto parecem.

Mas isso sempre se fez questão
Não?
Bem e mal
Mal e bem.

A velha guerra de mundos
Deus e diabo
Diabo e deus.
Ou seria um anjo?

Anjo de luz
O anjo mais iluminado dos céus
Trazendo luz
Até mesmo em seu nome.

Teme a escuridão?
Não!
Mas não a vê em você.

Talvez só se possa fazer luz
A partir da escuridão

A escuridão não permite ver muito
Mas a luz também cega
E depois de muito tempo na luz
Às vezes o escuro permite descansar.

Assim como quando para a luz voltar
É preciso os olhos acostumar.

Mas nesse jogo
De: Desejos, pensamentos, sentimentos e ilusões
Quem de fato está na luz?
E quem está na escuridão?

Ao ver o mundo pela luz de uma vela
Acredita-se ser muito
Mas ao se deparar com o Sol
Entende-se que nunca se havia abandonado a escuridão.

Mas entremeio
Vela e Sol
Lá está ela
Bela Lua Cheia

Cheia de luz
Cheia de crateras
Cheia de belezas

Ela consegue se mostrar na luz do dia
Mas quão mais bela fica
Quando somente seu reflexo se faz notar.

A luz do luar
Declarou-me seu amor
Meu problema é que li Platão demais
Meus verdadeiros amores
Permanecem na fantasia.