segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

UM UNICÓRNIO NA PRAÇA



Em uma tarde eu estava passeando pelo centro da cidade e resolvi sentar no banco de uma praça para relaxar por alguns minutos. Enquanto aproveitava a brisa fresca de uma tarde de verão, um homem de seus quarenta e cinco anos, sentou-se ao meu lado. Comia um lanche que parece ter comprado na barraquinha ao lado, olhei de relance, e voltei a contemplar a paisagem. Mas algo me incomodava na expressão dele, comia com certa apatia, parecia alguém que como algo sem sabor, somente para repor as energias e manter sua existência. Me despertou certa estranheza, se tratando de um lanche que normalmente quem consome, é porque gosta do sabor, afinal, por ser saudável não é.
Depois de um tempo, minha mania de me meter na vida alheia foi maior do que minha educação, lancei um comentário no ar: "Você não parece muito feliz, para um dia ensolarado de brisa fresca." — "Sabe, eu achava que era bem sucedido, tenho uma rede de hotéis que fatura bem, tenho sociedade em outras empresas, sou casado, tenho uma casa luxuosa e hotéis em varias partes do país nos quais posso passar minhas férias, nas melhores suítes presidenciais. Eu acreditava que tinha o suficiente para ser feliz, mas sempre senti que faltava algo. Sabe quando você faz as malas de viagem, está descendo as escadas em direção ao carro e parece que falta algo? Mas ai você fica relembrando, eu peguei roupas para todos os dias, estou levando um par de sapatos extra, meias, peguei o celular, peguei o carregador, o carro está abastecido,... ai você chega na garagem e vai entrar no carro. E se dá conta, que deixou a chave do carro na cômoda do quarto, algo tão essencial, que apesar de você sentir falta, não recordava o que era.
Eu sempre me senti assim na minha vida, ai outro dia, fui na casa da minha mãe e comecei a revirar as minhas coisas de infância, sabe mania de mãe né? Guarda tudo, até as flores que você rouba do jardim e as presenteia, elas guardam no meio de um livro. Em meio aos as minhas coisas da escola, encontrei uma atividade que a professora pediu para fazermos na terceira série. Ela pediu para cada um de nós, escrever uma carta para o nosso eu do futuro, escrever uma carta para o adulto que nos tornaríamos, contando a ele, o que deveria ter realizado até aquela fase da vida que estaria. A minha carta dizia:

Eu do futuro, não sei quantos anos você tem, mas espero que até essa idade, você tenha conseguido realizar três desejos. Espero que você seja dono de uma fabrica de chocolate, porque eu gosto muito de chocolate e se eu tiver a minha própria fábrica vou poder comer o quanto eu quiser, espero que você tenha conseguido adotar um lindo unicórnio, meus colegas dizem que é coisa de menina, mas eu acho unicórnios bonitinhos e espero que você tenha ido para a Disney conhecer o Pluto. Se você tiver realizado essas três coisas, certamente já será um menino grande, muito feliz.
           
Ao terminar de ler a carta, me dei conta, que ao total, entre os meus hotéis e empresas que sou sócio, tenho dezoito empresas, nenhuma delas fabrica chocolate... Viajei o mundo inteiro, conheci a Europa, a Ásia, as principais cidades que são aclamadas pelo turismo, mas nunca fui a Disney, que para meu roteiro de viagens costumeiro, fica aqui ao lado. E o principal, eu nunca adotei um unicórnio.
Parece insanidade? Uma criança sonhar com ter um unicórnio? Não... Não é insanidade... Sabe o que é insanidade? Um adulto desperdiçando a vida dele, para acumular dinheiro, achando que isso o fará mais feliz. Isso é insano!"
Depois disso, ele simplesmente levantou-se, jogou o pacote do seu lanche na lixeira ao nosso lado e foi embora.

domingo, 2 de dezembro de 2018

MINHA DOCE LUA



Minha doce Lua.

Brincadeira de criança
Que virou paixão de adulto.

Quem diria
Você diz que o universo previa
Eu, como ateu
Nada prevejo, apenas vivo.

Aliás, como pode?
Tanto incomodo
Pela minha descrença?

Não creio no metafisico,
Mas no sorriso sincero de uma criança?!
Nisso sim, coloco meu voto de confiança.

A luz da Lua
O luar do coração
Quem caminha na escuridão,
Conhece seu valor.

Não rimou?
Nem tudo é para rimar
Algumas coisas
Apenas é preciso falar.

Mas valor de que?
O próprio?
O do outro?
Ou o da luz?

Talvez seja preciso tatear muito a escuridão
Para reconhecer a luz e sua ilusão
Mesmo a luz do Sol, nosso máximo rei
Deus antigo
Até ele produz sombras.

Talvez algumas pessoas apreciem a luz do sol
Mas também reconhecem que é só na ausência temporária dela
Que se torna possível ver as estrelas.
Com sorte e um pouco de conhecimento
Os planetas

Mas afinal...
Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter ou Saturno?
Para qual deles vamos, após morrer?

Ou ainda
Será vamos encontrar o Pequeno Príncipe?
Conhecer sua Rosa e seu Vulcão?
Creio que não!

Crer...
Talvez o que me falta não seja crença
Mas sim, sentido para crer.

Ou talvez,
Quando Lilith nos serviu do fruto proibido
Eu o saboreei mais do que todos
Eu apreciei cada pedaço
Do doce amargor do conhecimento.

Você se propôs a me salvar
Mas talvez esqueceu de se perguntar,
Se eu precisava ser salvo.

Será que desejava me salvar?
Ou queria que eu a salva-se?

Ainda acredita em um príncipe encantado não?
Deixe-me te contar um segredo
Príncipes andam armados de espada
Talvez não sejam tão bons quanto parecem.

Mas isso sempre se fez questão
Não?
Bem e mal
Mal e bem.

A velha guerra de mundos
Deus e diabo
Diabo e deus.
Ou seria um anjo?

Anjo de luz
O anjo mais iluminado dos céus
Trazendo luz
Até mesmo em seu nome.

Teme a escuridão?
Não!
Mas não a vê em você.

Talvez só se possa fazer luz
A partir da escuridão

A escuridão não permite ver muito
Mas a luz também cega
E depois de muito tempo na luz
Às vezes o escuro permite descansar.

Assim como quando para a luz voltar
É preciso os olhos acostumar.

Mas nesse jogo
De: Desejos, pensamentos, sentimentos e ilusões
Quem de fato está na luz?
E quem está na escuridão?

Ao ver o mundo pela luz de uma vela
Acredita-se ser muito
Mas ao se deparar com o Sol
Entende-se que nunca se havia abandonado a escuridão.

Mas entremeio
Vela e Sol
Lá está ela
Bela Lua Cheia

Cheia de luz
Cheia de crateras
Cheia de belezas

Ela consegue se mostrar na luz do dia
Mas quão mais bela fica
Quando somente seu reflexo se faz notar.

A luz do luar
Declarou-me seu amor
Meu problema é que li Platão demais
Meus verdadeiros amores
Permanecem na fantasia.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

DIFERENÇAS CULTURAIS




Algumas tribos indígenas consideram uma imensa criminalidade o que fazemos com nossas crianças, para eles é absurdo e inadmissível que coloquemos nossas crianças para fazer qualquer coisa que não, ser criança.
E intolerável a eles o fato de mandarmos nossas crianças para cetros de amestramento, para ensinar-lhes a serem adultos, ao invés de antes de tudo elas estarem aprendendo a serem crianças. Para eles, a criança deve apenas ser criança, brincar, correr, ficar a toa, observar os adultos, nadar no rio... fazer tudo que seja de direito de uma criança fazer.
Com treze ou quatorze anos, quando as meninas tem sua primeira menstruação são consideradas mulheres, estão aptas a se casarem e terem filhos. Muitos se assustam achando que são apenas crianças, jovens demais para terem uma família, mas a resposta que se ouve é: “Elas tiveram treze anos para serem crianças, para brincar, para se divertir, para se relacionar com as outras crianças da tribo, diferente das crianças de vocês que passam mais da metade desses treze anos iniciais, em uma escola sendo amestradas a como ser um adulto de sucesso, nossas crianças passaram esses treze anos apenas sendo crianças, nada mais. E agora a sua natureza biológica diz que ela é uma adulta, e ela vai aprender a ser adulta, sendo adulta, assim como aprendeu a ser criança, sendo criança.”
Eles não consideram adolescência, nem nenhuma outra fase intermediaria, pois acreditam que se aprende a viver vivendo. E somente se é criança, sendo, sem se preparar para nada, que não seja ser criança, pois assim, quando se chega a hora de ser adulto, não há lamento, pois se foi legitimamente criança, se foi criança por tanto tempo e com tanta intensidade, que se tornar adulto é até um alivio, para mudar um pouco a rotina. E quando questionamos se essas crianças não sentem medo de tanta responsabilidade, ainda jovens, a resposta é: “Quem disse que ser criança não demanda uma imensa responsabilidade? A responsabilidade apenas muda de direção, ela não te que ser menos responsáveis do que já foram até então. Você já viu uma criança construindo uma casa de gravetos e galhos? Elas são capazes de passar horas e horas dedicadas à construção da casa mais perfeita para brincarem, mesmo que depois de pronta, por vezes nem cheguem a brincar. Se ser capas de construir algo tão complexo em comunidade, não é responsabilidade, o que seria? Se suas crianças parecem irresponsáveis a seus olhos, talvez seja porque vocês atribuem a elas muito mais responsabilidade do que deveriam ter, alias, vocês atribuem a elas, uma responsabilidade que vocês próprios, como adultos não possuem.”
“Vocês exigem de suas crianças, que passem horas sendas em escolas, em uma cadeira e uma posição desconfortável, sendo que quando depois de adultos vão às universidades, são incapazes de permanecer o mesmo tempo, sendo muitas vezes em cadeiras muito mais confortáveis. Vocês exigem das crianças de vocês que trabalhem em grupo, mas nas empresas que trabalham, mal fazem o próprio trabalho e ainda prejudicam um colega, se for para ganhar um cargo melhor. Querem que suas crianças resolvam seus desentendimentos, de maneira amistosa, mas resolvem suas discussões de trânsito a base de tiros. Querem que suas crianças sejam cultas, falem mais de uma língua, citem grandes autores. Mas vocês próprios, como adultos: são incapazes de ler sobre sua cultura, sobre sua politica, sobre suas origens.”
“Nossas crianças, são verdadeiramente crianças, para poderem ser verdadeiramente adultas. São crianças felizes, para serem adultos felizes, não adultos resignados com a infância que perderam, que ficam comprando brinquedos caros, para tentar recuperar algo que só poderiam ter vivido naquele momento.”

sábado, 17 de novembro de 2018

UM TERERÉ COM GUIMARÃES ROSA, NO MEIO DO SERTÃO



— Grande Ser Tão Veredas, não?
— Todos somos... seres cheios de caminhos, de fantasias, de expectativas, de demônios em redemoinhos.
— Mas como enjaular esses demônios para que não causem o inferno na Terra?
— Rs!!! Já tentou enjaular um raio? E mais fácil montar e domar! Nossos demônios são cavalos selvagens, se domá-los, nos são úteis para o trabalho pesado. O homem não vive de santidade, vive na busca de deus, mas na hora do duelo é o diabo que puxa o gatilho da arma.
— Me parece uma visão de humano drástica para quem parece tão doce com a natureza.
— A natureza é bela, mas a beleza dela está justamente no fato de que tem seus atrapalhos, os raios incendeiam a mata seca, que arde no fogo de uma fênix, destruindo com o antigo, para trazer boas novas. O bicho homem tem modo de querer controlar a natureza, como filho mal criado querendo mandar na mãe, mas somos tão pequenos diante dela...
— Assim como filho mal educado, foi educado pela própria mãe, o ser humano só está aqui porque a natureza nos permitiu evoluir para o que somos.
— Essa é a grande benção, se chegamos onde estamos e aqui apeamos, podemos amontar e partir para novos caminhos, sermos seres melhores, essa é a beleza da vida, não estamos prontos, somos monte e desmonte, somos seres eternamente inacabados, fadados à mudança, mas abençoados por não sermos condenados a mesmice.
— Mas para seres de mudanças tão constantes, como ter a certeza do caminho?
— E quem disse que temos? O senhor veja, mire bem, não sabemos o que somos, não sabemos pr’onde vamos, nem donde viemos. Tudo que sabemos é que cá estamos e nessas constantes mudanças, temos que nos virar sem se avexar. Seguindo o rumo da vida e não da nossa vontade.
— Me parece montar em cavalo sem rédea!
— Talvez pior, é montar em cavalo que nunca foi selado.
— E como não cair?
— Talvez seja melhor o senhor perguntar como se levantar, o tombo já é certo, resta à incerteza do que fazer estando no chão.
— E quando o tombo é feio demais para levantar?
— Quando a onça pintada aparece, cavalo manco aprende a galopar em três patas. Nada como o aperto da vida, pra ensina a ter coragem, afinal, nada mais do que isso, de nos ela quer. A vida esquenta pra esfriar, sossega pra desinquietar, ela só quer que tenhamos coragem, coragem de amontar nesse cavalo, do qual sabemos que vamos cair, mas confiamos que vamos poder levantar.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

TOMANDO UM MATE MAQUIAVÉLICO



— É uma boa ideia instruir os governantes e serem ainda mais cruéis do que são por si?
— Certamente não, e se leu algum livro que faz isso, não é o meu! Ou não o leu adequadamente. Meu livro é claro desde suas primeiras páginas quanto a seu objetivo, talvez não quanto ao motivo, mas quando ao objetivo sim.
— E qual é motivo o? O objetivo se bem entendi no inicio do livro, é a manutenção do poder, a permanência do príncipe em seu reinado. Mas por quê?
— Por que a vida nas cidades é mais confortável e segura? Apesar de todos os problemas, apesar da própria crueldade de alguns príncipes, ainda assim viver nas cidades é uma alternativa melhor a morar no meio da floresta. Se quer comprovar isso, basta olhar o desespero de quem com frequência se perde na floresta e fica buscando a todo custo retornar a civilização. As pessoas podem até fazerem suas brincadeiras dizendo que gostaria de morar em uma floresta longe de todos, mas basta que você as atire lá, para que na mesma hora, comecem freneticamente a procurar voltar para a cidade. As pessoas querem os confortos da civilização e estão dispostas a pagar com a liberdade por isso, já fizeram essa escolha quando renunciaram aos instintos naturais, para o convívio social.
— Será que não seria melhor viver em uma floresta?
— Para uma imensa maioria não, viver sozinho, significa viver sem literatura, teatro, sem estoques de mantimentos, sem muitas das coisas que apreciamos.
— E precisa estar sozinho?
— Se não estiver sozinho, tudo que você fez foi mudar a cidade de lugar. Uma cidade não é o território, mas sim, seu povo e sua cultura. Não se engane, onde existe uma regra a ser seguida, existe política, onde existe mais de uma pessoa, existe povo.
— Mas por que para manter isso precisamos nos submeter a príncipes cruéis?
— Não precisamos de príncipes cruéis, mas sim de príncipes fortes, capazes de manter o poder e proteger as cidades da invasão de inimigos. Ou acredita que um príncipe de outro lugar, sem nenhuma história com o povo, será menos cruel do que um príncipe da própria região? A crueldade está no governo, governar obrigatoriamente é cruel, pois significa submeter o povo a regras que eles não querem seguir, mas precisam, para não matarem uns aos outros. A questão é, como governar sendo o menos cruel possível? Se Você ler com atenção meu livro senhor Wrobleski, perceberá que esse é meu principal assunto abordado ao longo da obra, como que um príncipe pode governar, mantendo o seu poder e sendo o menos cruel possível, produzindo o menor mal ao seu povo.
— E não é possível um príncipe manter seu governo sem ser cruel?
— Até aonde me lembro, a quase mil e quinhentos anos atrás, um deles tentou isso, foi açoitado e crucificado vivo, não? Creio que não deu muito certo para ele, pregar a paz entre os homens. Humanos são animais dos mais selvagens possíveis, seu discurso pode pedir paz, mas suas ações convocam a guerra.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

UM TERERÉ COM LEONARDO



— Leonardo, como você consegue ser bom em tanta coisa?
— Por que acha que sou bom em muitas coisas?
— Você é pintor, projetista, escultor, inventor, anatomista, desenhista...
— De fato eu faço todas essa coisas e muito mais. Mas não significa que faço tão bem assim.
— Bom, talvez seus estudos de anatomia tenham algumas falhas, mas dadas as suas limitações nessa época em que as pessoas podem ser queimadas vivas por mexerem com cadáveres, podemos considerar as suas descobertas como bastante satisfatórias. Quanto a seus trabalhos artísticos, o próprio fluxo de encomendas creio que deixa clara a sua aptidão.
— Talvez se eu consigo fazer bem tais coisas, é porque não estou preocupado em fazer mais e melhor, mas sim, deixo a arte fluir. Por isso que as vezes eu pinto por horas ou até dias sem parar, e outras eu nem toco em minhas telas. Não sigo o ritmo do cliente que encomendou a pintura, mas sim, o ritmo da arte que flui em minhas veias. E o fato de eu fazer tantas coisas, não é porque quero ser famoso com elas. Eu comecei a estudar o corpo humano, por curiosidade, assim como tantas outras coisas que fiz, apenas as fiz, porque queria saber como funcionavam, como eram. O que fiz ao longo da minha vida, foi zelar pela minha alma infantil, a mesma que leva uma criança a quebrar o brinquedo para ver o que tem dentro. A diferença é que quando eu quebro um brinquedo, eu construo algo totalmente diferente com os seus pedaços.
— Mas deixando um pouco seus inventos de lado e falando de suas pinturas, por que não me fala um pouco sobre a Mona Lisa?
— Que tal continuarmos tomando tereré em silêncio?
— Rrss!!!


segunda-feira, 12 de novembro de 2018

UM TERERÉ COM FREUD



— Você sabe que é tido por quase todos que te conheceram como uma pessoa difícil de se relacionar, não é senhor Freud?
— Já parou para pensar que as pessoas chamam de “difícil de se relacionar”, todos aqueles que não se submetem a elas? Se alguém é capaz de pensar e toma suas próprias decisões, ao invés de seguir cegamente uma massa, ou se submeter às vontades do outro, comumente será considerado alguém “difícil de se relacionar”. Afinal, com quem é mais fácil de se relacionar, do que aquele que se sujeita as nossas vontades? A questão é que somos castrados e isso nos confere vontade própria, como sujeitos a parte do outro.
— É, mas você teve desentendimentos com quase todos que se aproximaram de ti, estou inclusive pensando até que ponto levaremos essa conversa, sem que você me cite em seu próximo livro, me chamando de místico fraudulento ou algo do gênero.
— Primeiro senhor Wrobleski, que seu Ego é grande demais, para se considerar relevante o suficiente a ponto de ser citado em uma obra minha, isso não acontecerá. Segundo, que todas as pessoas com quem me indispus, como sua referência ao senhor Jung, por exemplo, foram pessoas que colocaram a psicanálise em risco. Para ele é fácil arriscar a credibilidade da psicanálise desse modo a aproximando do misticismo, pois ele pouco investiu nela, além de estar em uma posição social cômoda, sem preconceito antissemita, sem dificuldades financeiras, sem sua moral sendo atacada a todo o momento, por pessoas que fazem referência à suas obras, sem nuca as ter lido. Eu investi uma vida inteira nesse projeto, a psicanálise é a forma mais eficiente de explicar a condição e movimentação psíquica do ser humano e precisei de uma vida toda de investimento libidinal, para organizá-la e conferir-lhe credibilidade científica, não permitirei que alguém despreparado, faça uma coisa qualquer, sem nenhuma pesquisa e experimentação clinica, e chame a isso de psicanálise, colocando a baixo o mínimo de credibilidade que consegui para essa ciência do psiquismo humano.
— Mas você mesmo deu essa possibilidade. Disse em suas obras que a psicanálise não está pronta, que as pessoas podem desenvolvê-la, modifica-la, fazer outros usos dela!
— Entenda senhor Wrobleski, quando você diz para seu convidado que “sinta-se em casa”, você está afirmando que ele pode fazer bom uso de sua casa, você espera que ele se sinta confortável, fique relaxado, se alimente, banhe-se, talvez até durma em sua casa, mas não espera que ele ateie fogo a residência, porque a casa é dele. Quando eu disse que as pessoas deveriam desenvolver a psicanálise, me referia à exploração de casos clínicos, ao estudo e analise teórica, com base científica, não que as pessoas poderiam pegar seus próprios preconceitos e ideias imaginárias, sem nenhum fundamento teórico e chamar a isso de psicanálise.
— Senhor Freud,... Já parou para pensar no que pode ser feito da teoria no futuro, se em sua época, com você vivo e lúcido já estão a desvirtuando desse modo? É melhor você tomar mais uma guampa de tereré para refrescar o juízo, talvez nem tu, nem eu, sejamos capazes de imaginar o quão longe as pessoas levarão as teorias, para que essas reafirmem preconceitos que elas tinham muito antes de conhecer a teoria.

domingo, 11 de novembro de 2018

UM TERERÉ COM SARAMAGO



— Como você consegue beber isso tão gelado? Meu cérebro chega a doer.
— Rrss!!! Talvez me falte um cérebro para doer senhor Saramago.
— Rs!!! Não se desmereça garoto, as pessoas sabem mais do que pensam e menos do que acreditam saber.
— Estive pensando após ler As Intermitências da Morte, não que eu esteja agourando sua vida, mas... você não é mais tão jovem, não é senhor Saramago e nessa idade é comum que as pessoas pensem muito sobre a própria morte. Teria alguma relação?
— Bom senhor Wrobleski, da morte pouco sabemos sobre a distância, se continua a pilotar a sua moto como já o vi fazendo, mesmo com a diferença de idade, talvez esteja mais perto dela do que eu. Mas é inegável que chegada uma certa idade começamos a nos questionar sobre quanto tempo mais temos. E para pessoas como nós, ateus, que sou e até onde sei tu também o é, não temos o conforto de um céu, não temos um além, a vida é aqui. Então como não tentar fugir da morte? Como não desperdiçar o restante de vida, tendo medo da única certeza que temos?
A única resposta que encontrei, a única forma de não desperdiçar minha vida com um medo inútil, já que a morte não evitarei por temê-la, ao contrario, posso antecipá-la por isso, a forma coerente que encontrei, foi compreendendo o ciclo da vida. Entendendo a função e necessidade da morte.
— E qual é a função da morte?
— A mesma do último capítulo de um bom livro de romance, ou um ensaio. Tem a função de encerrar a história, finalizar de maneira adequada, antes que a história se estenda além do devido e se torne tediosa. Já imaginou não ler nenhum dos últimos capítulos de todos os livros que leu em sua vida?
— Alguns dos que li, o último capítulo foi a melhor parte, O Grande Sertão de Guimarães Rosa, por exemplo, foi um dos melhores finais inimagináveis para um romance. Outros eu temi por imaginar um final mais trágico do que realmente foram, seu Ensaio sobre a cegueira foi um deles, que previ o pior final possível e acabou sendo mais carinhoso do que eu presumia.
— Talvez porque eu ainda acredite na humanidade, apesar de ela se esforçar diariamente tentando me convencer de ser uma causa perdida.
Mas você disse bem, alguns dos livros ganham um sentido e uma importância em nossas vida, somente após lermos o final. Por que com a vida tem que ser diferente? Por que não pode ser a morte a completar a vida? Dar a ela o final adequado e elevar a sua importância?
— É por isso que ao final seu personagem se deita com a morte na mesma cama?
— E não é o que todos faremos ao final dessa história? Não iremos todos um dia deitar-nos a mesma cama com a morte, em uma relação sexual tão intensa, que nos tornaremos um só?

sábado, 10 de novembro de 2018

UM MATE COM NIETZSCHE



— Senhor Nietzsche, sabe que você é tido por muitos como um filósofo pessimista, não é?!
— Eu? Pessimista? Por que o seria?
— Talvez porque você destrói qualquer ideia de algo para além de uma vida miserável na existência atual.
— Se você torna sua vida miserável o pessimismo não é meu, mas sim das suas atitudes.
— As pessoas se sentem mais seguras em imaginar que existe um propósito maior na sua existência.
— Seguras o suficiente, para desperdiçar a única vida que elas têm. Se você entende que essa vida é a que precisa ser vivida, você não a descartará em nome de imaginações posteriores. Já leu meu conceito de eterno retorno?
— Ler é uma coisa, entender o que você escreve é outra coisa senhor Nietzsche!
— Nossa! Sempre me faço tão claro em minha escrita!
— Sim, certamente, imagina, quem em sã consciência discordaria disso!
— Em fim. Imagine essa mesma tarde senhor Wrobleski, nós aqui, nessa conversa descontraída, acompanhada dessa bebida, qual é mesmo o nome?...
— Chimarrão senhor Nietzsche!
— Pois bem, como eu dizia, imagine que essa cena que ocorre nesse momento, nós dois aqui conversando e bebendo, irá se repetir por infinitas vezes, exatamente como ela ocorre nesse momento. Pense em como se sente em relação a isso, se essa ideia te aterroriza, é porque nesse exato momento você está desperdiçando sua vida. Ao contrario, se essa ideia lhe é de agrado, significa que está vivendo a sua vida exatamente como deseja. É afeito aos prazeres da sexualidade senhor Wrobleski?
— Sim!
— Então se imagine em um momento de prazer, com a mulher mais atraente que já conheceu em sua vida, imagine um momento de máximo prazer, o mais intenso que já experienciou em sua vida. Lhe desagrada imaginar esse momento se repetindo eternamente?
Se você está vivendo de maneira legitima, a ideia do eterno retorno, não lhe desagradará, mas se está desperdiçando sua vida, essa ideia lhe será mais assustadora e angustiante, do que a própria ideia da morte. Por isso, que quem compreende esse conceito meu, não precisa de muletas metafísicas para suportar a vida, porque encontra a suportabilidade dela, na própria vida presente e não em promessas futuras. Por isso discordo de quem me chama de pessimista, só veem pessimismo na minha filosofia, aqueles que se esforçam para que suas vidas sejam péssimas.

A CLASSE MÉDIA QUE FINGE SER RICA


      A ignorância das pessoas é tão grande, que elas defendem aquilo que nem conhecem. Quantos defensores do capitalismo, não se importam com as classes de base, sendo eles de classe média. Sem entender, que quem sustenta a classe média é a classe de base, se a classe de base, ou seja, a população mais carente, que recebe um salário mínimo ou próximo disso, tem seu poder de compra diminuído, a classe média quebra em pouquíssimo tempo, pois a classe média não tem acumulo financeiro o suficiente para se manter e quem mantém seus comércios de médio e pequeno porte, é justamente a população de base.
    Os únicos que se beneficiam com a quebra de direitos trabalhistas e fim de projetos de redistribuição de renda, são os donos de multinacionais, pois esses, conseguem mão de obra quase de graça, e não dependem desse trabalhador para ter seu lucro, pois vendem seu produto para outros países, que mantém o poder de compra. Já a população de classe média, que tem empresas e negócios de comercio interno, depende de que o próprio funcionário possa comprar seus produtos, pois de nada adiante, produzir, sem ter para quem vender.
         Todo comercio de pequeno e médio porte, vende para a classe de base, para o trabalhador assalariado, não é para o rico. Pessoas que roubaram o suficiente para serem ricas, compram suas roupas nos Estados Unidos, compram seus perfumes na França, muitas vezes mandam importar até mesmo seus carros, ou seja, classe média não vende para gente rica, o cliente da classe média, é o pobre, o trabalhador de base, assalariado. Se esse trabalhador recebe pouco, ou tem seus direitos diminuídos, ele perde poder de compra, ela deixa de gastar, se não no essencial, automaticamente a classe média, que depende da base, quebra. Vai produzir pagando salários baixos, mas não terá para quem vender o produto.
     Sabe porque eu sei disso, porque diferente dos imbecis que ficam chamando esse de comunista, aquele de outra coisa e defendendo o capitalismo sem ter lido um único livro a respeito, eu estudo para entender como o sistema funciona. Então antes de dizer que pobre tem que se ferrar mesmo, primeiro, verifique se você não é pobre, porque o que não falta é idiota que compra carro novo parcelado em setenta e duas vezes, se achando rico, se você não consegue comprar o que deseja a vista em dinheiro, você está longe de ser classe média, que dirá rico, agora se você faz suas compras à vista e em dinheiro, você é classe média, nesse caso, verifique quem são os seus clientes, que sustentam o seu comercio antes de falar que pobre tem que se ferrar.


sexta-feira, 9 de novembro de 2018

NINGUÉM QUER OUVIR

Rubem Alves esclareceu bem em seus texto escutatoria a realidade contemporânea, as pessoas nada querem ouvir do outro.
Já houve tempos em que as vizinhas fofocavam da vida alheia, hoje se uma começa a falar, a outra logo da um jeito de incluir a sua própria vida na conversa.
Não sei se é resultado de uma carência emocional grande, de imaturidade, ou mero egocentrismo exacerbado, mas a realidade é que as pessoas estam cada vez mais se tornando incapazes de escutar seus semelhantes. Quando alguém começa a falar algo, talvez para desabafar ou buscar um outro ponto de vista, como Alves mesmo diz, inicia-se uma disputa em busca de quem tem a vida mais desgraçada. Um sujeito fala de suas dificuldades e o outro logo encontra problemas e dores maiores para relatar. Isso porque não deseja ouvir seu semelhante, então busca a todo custo calar-lhe com desgraças maiores que as dele.
Dificilmente você encontrará uma pessoa que ao ouvir de outro um problema, irá de fato esperar o fim do relato, terá ouvido e dira: "triste você estar passando por essa dificuldade, espero que as coisas se resolvam para você." 
A realidade é que tudo em nosso semelhante, nos incomoda. Se ele está triste, não suportamos sua tristeza, talvez porque nos faça lembrar de nossas próprias desgraças. Mas se ele está feliz, nos irritamos com sua felicidade, como pode?! Ele assim sorridente, tirando fotos em viagem, enquanto eu estou cheio de contas para pagar?
As pessoas querem que seus semelhantes as vejam, querem ser vistas, ouvidas e faladas. Mas não suportam, ver e ouvir o outro, nem mesmo falar, a fofoca que já foi motivo de incomodo para muitos, virou status e desejo, as pessoas desejam ser faladas pelos outros e se esforçam em aparecer em todas as redes sociais para isso.
Estamos em um mundo cheio de falantes e sem ouvintes.

CARTA AO DOUTOR INSANO, PSIQUIATRA INFANTIL.



        Caro doutor Insano, sendo você uma das maiores referências em psiquiatria infantil na atualidade, venho através desta, lhe solicitar um auxilio de suma importância na minha pratica profissional.
       Sou eu pedagogo em uma escola de pequeno porte, na qual realizo a alfabetização de crianças de cinco a sete anos. Venho me deparando com uma situação muito preocupante em relação aos meus alunos. Todas as crianças permanecem sentadas em suas carteiras, me ouvindo, sem conversar entre si, sem dispersarem sua atenção, pelas quatro horas de aula, as quais ministro durante suas tardes. Pasme doutor, mesmo quando utilizo uma voz monótona e tediosa, essas crianças mantém sua atenção em mim, sem levantarem-se de suas carteiras, sem conversarem entre si e nem mesmo pedirem para ir ao banheiro.
       Essa terrível situação me preocupa, e venho através desta, lhe questionar qual poderia ser o diagnóstico de meus alunos, poderia ser contagioso para ter afetado a todos eles?
      Seria uma nova enfermidade ainda não explorada pela magistral medicina?
       Que terrível doença poderia se manifestar em tal crueldade, a ponto de fazer com que crianças de cinco a sete anos, no auge da energia vital, fiquem quietas e imóveis por quatro horas?
      Não consigo em minha leiguisse, compreender que doença seria capaz de tais males, a ponto de fazer crianças que até então, eram perfeitamente saudáveis: corriam, brincavam, se agitavam, gritavam, etc., agora permanecerem em um estado catatônico, por horas a fio, diante de um quadro negro, ouvindo minha voz monótona, sem contestação, sem gritos de libertação e sem comunicação entre seus pares.
      Sendo eu um pedagogo, limitado aos conhecimentos da minha prática, sem as ferramentas necessárias para um diagnóstico psiquiátrico, venho pedir ao doutor, que me auxilie, encontrando qual seria o terrível mal que aflige minhas crianças. E se não for exagerado de minha parte lhe solicitar ainda mais, questiono qual seria a possibilidade de tratamento, para que esses indivíduos saiam dessa alienação imposta e voltem a serem crianças, não mais esses monstros deformados, por esse mal horripilante.
      Sem mais, agradeço desde já e aguardo sua resposta caro doutor Insano!
Autor: João Vitor Wrobleski

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A HISTÓRIA DE JOÃO E FABIO


WROBLESKI, J.V.

            João e Fabio nasceram no mesmo dia. A mãe de João foi atendida em um hospital público, ficou no corredor em uma cadeira, até poucos momentos antes do parto, quando finalmente foi levada para uma cama, pois o hospital sempre está lotado e tem dificuldades em disponibilizar leitos para toda a população.
            A mãe de Fabio foi atendida em um hospital particular, no qual seu marido trabalha como médico e é sócio. Teve um leito a sua disposição, desde o momento que sentiu os primeiros indícios de que era chegada a hora do nascimento do bebê.
            A mãe de João não foi tratada com muita atenção, pois a equipe médica é muito menor do que a demanda do hospital, fazendo com que tenham que atender várias pessoas ao mesmo tempo.
            Já a mãe de Fabio, foi tratada do melhor modo possível, pois apesar de a equipe não ser tão grande, dedicaram vários profissionais ao atendimento da esposa de um dos donos do hospital.
            Após o parto, a mãe de João ficou um tempo com seu bebê, durante a licença maternidade, mas logo teve que voltar para seu trabalho como funcionaria doméstica e precisou deixar o filho ainda bebê em um CEMEI, pois não contava com ninguém em sua família que pudesse cuidar do filho enquanto trabalhava. Ficar sem trabalhar seria inviável, ainda mais, tendo agora mais uma boca para alimentar, fraudas para comprar e todos os gastos comuns de um bebê.
            Precisavam da renda dela e do marido para sobreviver, pois somente com os novecentos e poucos reais do salário dela como doméstica e os mil e quinhentos reais do marido trabalhando como pedreiro, conseguem pagar os quinhentos reais de mercado, cento e cinquenta reais de luz, mais os cem reais de água e esgoto, roupas, que raramente compram, somente quando precisam, pois não podem se dar ao luxo de desperdiçar, as prestações dos moveis da casa para o recebimento do bebê, como berço, um carrinho de nenê, simples, mas ainda assim com um custo e por fim pagam oitocentos reais da parcela da casa própria que financiaram, para não ficarem desperdiçando dinheiro em aluguel, por fim acabam gastando por volta de mil e seiscentos reais por mês, sobrando menos de setecentos, que os pais de João guardam na poupança, pensando em ter um recurso caso tenham algum imprevisto, ou talvez mais tarde conseguirem negociar algum desconto quitando a casa antes do tempo.
            Já a mãe de Fabio trabalhou por algum tempo, mas ao engravida, decidiram que se dedicaria apenas a cuidar do filho, afinal com os ganhos de aproximadamente trinta mil reais por mês, do pai de Fabio, eles conseguem tranquilamente pagar todos os gastos, inclusive os novos referentes ao bebê.
            João e Fabio começaram a estudar na escola regular, João foi para uma escola pública, tinha trinta e cinco colegas de sala, a professora raramente conseguia explicar de maneira individualizada o conteúdo, mesmo João indo pedir a ela se poderia explicar melhor, ela o ignorava, algumas vezes afirmando que ele era “burro demais para entender”.
            Fabio foi para uma escola particular, tinha quinze colegas de sala e duas professoras, enquanto uma explicava o conteúdo para todos os alunos, outra ia de carteira em carteira esclarecendo as duvidas individuais.
            Aos doze anos a mãe de João foi chamada na escola, por causa das baixas notas do filho. A professora disse que se ele tirasse mais uma nota baixa em matemática seria reprovado de ano, pela segunda vez, já que ele havia reprovado a quinta série por não ir bem na mesma matéria, apesar de ter notas razoáveis em outras, e até mesmo um destaque nas notas da matéria de história. Mas o fato de ir mal em matemática, fez com que ele precisasse refazer toda a quinta série e agora aconteceria o mesmo na sexta série. A mãe de João ficou revoltada, pois o filho só tinha que estudar, ela se matava de trabalhar o dia todo para poder sustentá-lo, o pai a mesma coisa e ele nem para estudar prestava! Quando chegaram em casa, a mãe de João no auge de sua revolta, bateu no filho por várias vezes.
            A mãe de Fabio foi chamada na escola porque boa parte das notas de Fabio estavam baixas, a professora explicou para a mãe, que apesar de Fabio ir muito bem em artes e biologia, ele estava com notas muito baixas nas outras matérias. Ao chegarem em casa, a mãe de Fabio relatou a seu pai o que tinha ouvido na escola, ambos decidiram que a partir da outra semana, Fabio teria aulas particulares, para melhorar nas matérias que estava com notas baixas.
            João realizou uma prova de matemática, a matéria que precisava de nota, ao receber a avaliação corrigida, descobriu que sua nota era quatro pontos de dez, o que faria ele reprovar novamente de ano, mas João deu uma olhada na prova de um colega que se exibia pelo fato de ter tirado nove na prova e viu que o colega tinha respostas iguais a dele na maioria dos problemas apresentados na avaliação. Confuso se seria a forma de ele resolver que estaria errada, já que o resultado final era o mesmo, ele resolveu questionar sua professora a respeito, a resposta que ouviu da professora, foi que: “só um preto burro para querer me ensinar a fazer o meu trabalho.” Se revoltou com a afirmação, pois a essa altura da vida, já tinha sofrido vários episódios de racismo, que lhe davam plena consciência da agressão da professora. Sua resposta foi um murro no rosto dela, o resultado disso, foi à expulsão de João da escola. E uma notificação do conselho tutelar a seus pais. Novamente João é agredido pela mãe, mas ele não sente ódio da mãe, apenas fica confuso, como pode ele que foi agredido primeiro, ser punido por se defender, enquanto a professora racista, continuava em pleno exercício do seu preconceito na escola.
            Fabio após o acompanhamento com um professor particular, teve uma melhora nas notas, nada de grande destaque, mas o suficiente para ser aprovado de um ano para outro.
            João agora está pela rua, sem fazer nada além de jogar bola o dia todo, pois após ser expulso da escola, se recusou a ir para outra, seu pai depois de alguns meses, preocupado com as companhias que o filho estava andando, convenceu o mestre de obras a permitir que ele levasse o filho para o trabalho como seu ajudante. O mestre de obras de inicio ficou resistente, pela idade do menino, com medo de ser penalizado judicialmente, mas diante da angustia do pai com a possibilidade de o filho se envolver com o tráfico de drogas local, acabou aceitando, desde que se a fiscalização aparecesse, o pai de João dissesse que só o levou para o trabalho aquele dia, porque não tinha com quem deixar o menino.
            Fabio segue em seus estudos, agora já está terminando o primeiro grau, indo para o segundo e já começa a ser questionado por sua mãe e seu pai, a respeito do que ira fazer depois de terminar a escola.
            João já está com dezoito anos, trabalhando com o pai. O mestre de obras o sob de cargo, apesar de muito jovem, João é muito dedicado, que: “trabalha sem fazer corpo mole”, segundo o mestre de obras, ele acaba se tornando pedreiro ainda aos dezoito anos. Uma honra para seu pai, que tem orgulho em contar para todos os colegas, que ele próprio precisou trabalhar por mais de dez anos, como servente, antes de se tornar oficialmente pedreiro, enquanto seu filho, depois de cinco anos de trabalho, já ocupava o mesmo cargo que ele. Com a promoção, João, agora com um salário um pouco melhor, planeja voltar aos estudos e quem sabe até fazer uma faculdade, por que não? Talvez engenharia civil, já que parece levar jeito para a coisa.
            Enquanto isso, Fabio está no primeiro ano da faculdade de medicina, até preferia artes cênicas, mas sua mãe e seu pai lhe convenceram que era melhor estudar algo mais concreto, alguma profissão mais respeitada. Se fosse medicina, já teria emprego garantido, afinal, seu pai era sócio em um hospital, para conseguir uma vaga para o filho, seria muito fácil.
            João após cinco anos consegue concluir os estudos, em um sistema supletivo, muito contente, compartilha com a família sua vontade de fazer uma faculdade, seu pai e sua mãe, dizem que não tem sentido, que ele já está muito bem empregado, que deveria se dedicar ao trabalho ao invés de ficar procurando sarna para se coçar. Mesmo não tendo o apoio familiar, João não desiste de continuar estudando, pois no supletivo conheceu uma professora que o incentivou muito a nunca desistir de seus sonhos.
            Fabio já conclui sua formação na escola de medicina, e está em sua residência, planejando qual será sua especialização, após se formar clinico geral.
            João confere todos os cursos de engenharia civil próximos de sua cidade, teria que viajar, mas apertando um pouco seus gastos, até conseguiria pagar a van e ainda ajudar financeiramente em casa. Porém, todos os cursos de engenharia eram integrais, sendo que desse modo, João não teria como trabalhar. Desistiu dessa opção, mas não de estudar, então lembrou, que antes de ser expulso da escola, ele sempre teve boas notas na matéria de história, tentou o vestibular para esse curso, que afinal tem em sua cidade mesmo, e ainda é à noite, que lhe possibilita continuar no mesmo trabalho que está.
            Fabio agora formado médico, já iniciou sua especialização em pediatria, apesar do pai incentiva-lo a ir para a área cirúrgica que seria mais respeitado, dessa vez Fabio faz sua própria escolha, pois com sua paixão por artes cênicas, cativava facilmente as crianças. Quando as atendia, sempre ia vestido com alguma fantasia ou com nariz de palhaço, fazendo brincadeiras, era um dos poucos médicos que conseguia fazer procedimentos invasivos, sem que as crianças chorassem.
            João está em seu curso de história, estudando a escravidão, ele se revolta com o que seus antepassados foram submetidos. Ele e colegas da faculdade organizam um movimento de protesto contra o racismo e outros tipos de preconceitos. Nesse protesto João é preso pela policia acusado de vandalismo, mesmo que não tenha quebrado nenhum bem público ou privado, tudo que fez, foi informar a um policial que estava em seu direito constitucional de se manifestar contra um crime social. João não permanece preso, mas é fichado e vai ter que se apresentar perante um juiz para saber o que será feito do seu caso.
            Enquanto isso, Fabio já está concluindo sua especialização, e negociando com seu pai a entrada dele no hospital.
            João se apresenta ao juiz, que de algum modo fica sabendo que ele já teria agredido uma professora na adolescência, ao ter João em sua frente o juiz afirma: “Esse tipo de gente, só dá nisso, não sei porque se reproduzem como praga no mundo!” João não vai preso, mas é sentenciado a varias horas de serviço comunitário. Para não perder o curso da faculdade, João acaba precisando trabalhar meio período na obra, para poder na outra metade pagar as horas, já que seus sábados e domingos, ele precisava para fazer os imensos trabalhos dados pelos professores da faculdade.
            Fabio já assume uma vaga no hospital que seu pai trabalha e é sócio, não teve dificuldade alguma e atende na ala pediátrica do hospital. É tido por todos como um dos melhores médicos do hospital, as crianças são apaixonadas por ele. Todos o chamam de doutor sorriso, pois dizem ser impossível manter expressão séria em sua presença, mesmo uma das enfermeiras mais antigas do hospital, muito famosa por sua antipatia, sempre sorria quando ia falar com ele.
            O mestre de obras para o qual João trabalha, começa a passar por uma queda no número de construções, e não sendo possível manter todos os funcionários, muitos são demitidos, João é um deles, afinal, além de estar trabalhando somente meio período, ainda tinha tido problemas com a lei, o que não é muito bom para nenhum patrão. Apesar de a contrariedade dos pais, que afirmavam que a faculdade só tinha trazido dores de cabeça para a família, João consegue convencer os pais a ajudarem ele a se manter até o final do curso, que no meio de tantas conturbações, se estendia por um ano a mais do que o esperado, por causa das dependências.
            Fabio está com um salário bem generoso, e conhece uma moça, jovem médica do mesmo hospital, depois de alguns meses de namoro a pede em casamento, vão morar juntos em uma casa grande e luxuosa, parte bancada como presente de casamento dado pelo seu pai.
            A essa altura, João com grande dificuldade termina sua graduação em história, começa a fazer concursos públicos tentando uma vaga como professor, mas mesmo com muitas tentativas, não consegue passar em nenhum. João tem estado bastante irritado e triste, pois com quase trinta anos, ainda vive com os pais e não consegue um emprego, mesmo com uma graduação. Sua alternativa para tentar ajudar em casa e não ser um peso morto para os pais, é conseguir algumas aulas particulares, mas de maneira geral tem que se submeter a valores quase de esmola, e mesmo assim, quando se apresenta na casa do aluno, é muito comum que os pais deem alguma desculpa para dispensa-lo de imediato, ou logo após as primeiras aulas. João sabe que não diz respeito a sua competência como professor, mas sim, a sua cor de pele.
            Fabio já conseguiu reunir um bom dinheiro com seu trabalho, ainda mais com sua esposa trabalhando com ele e também ganhando um valor razoável, ele então aproveita uma oportunidade para comprar a parte da sociedade de outro sócio de seu pai, tornando assim a família dona de mais de sessenta por cento do hospital.
            João está cada vez mais angustiado, agora desistiu de procurar emprego em sua área de formação, está à procura de qualquer coisa que lhe de sustento financeiro, mas em empregos mais básicos, não o aceitam quando descobrem que ele é graduado. As empresas sabem que pessoas com graduação tendem a conhecer melhor seus direitos e não se permitem ser escravizadas tão facilmente, por isso tendem a evitar contratá-las.
            A essa altura, o pai de Fabio já está em uma idade avançada, e decide passar para o filho o domínio sobre toda a parcela do hospital que está na família, logo Fabio consegue condição financeira para comprar outra boa parte do hospital e sua esposa compra uma pequena parte que ainda estava sob domínio de outro sócio, tornando assim o hospital de total propriedade de sua família. O lucro mensal da família gira em torno dos duzentos mil reais por mês.
            João se queixa para um amigo de infância sobre sua condição desprivilegiada, o amigo fala para ele que tem um negócio muito lucrativo que precisa de um sócio. João afirma que não tem a menor condição financeira de investir em nada, o amigo afirma que o investimento, será meramente de mão de obra, não precisando nenhum dinheiro e que o retorno era de aproximadamente cem mil reais só para ele. João, homem já estudado e experiente o suficiente para saber que nada é tão bom para ser verdade, pergunta qual é a mutreta, o amigo explica que farão um grande empréstimo no banco, de mais ou menos um milhão e meio, mas ainda precisavam de mão de obra. João rapidamente entende que se tratava de um roubo, e responde que não foi educado para isso, que seria uma imensa decepção para seus pais. O amigo afirma que ele não tem motivo para se preocupar, seria como roubar doce do mercadinho local, não seria um assalto, não usariam armas, nem mesmo teria gente no banco quando entrassem, seria apenas um roubo, fariam um túnel até o cofre e depois retirariam os pacotes de dinheiro. Ele afirma que a experiência de João com a construção civil, seria bem vinda na construção do túnel, João se recusa e vai para casa. Depois de mais um mês procurando trabalho sem encontrar, ele reencontra o amigo, que informa que o plano ainda está em pé, que já providenciaram todo o equipamento, inclusive começariam a escavar o túnel naquela semana mesmo, disse para João, que ainda tem uma vaga na equipe. João olha para o nada, com um olhar morto, e pergunta: “Quando começamos?”
            Fabio junta dinheiro o suficiente para abrir mais uma clínica em uma cidade vizinha, desse modo, aumentando a renda familiar em mais de trinta por cento.
            Depois de um mês de trabalho, João e a equipe de ladrões, conseguem retirar como o prometido, um milhão e meio do banco, mas diferente do que o amigo prometeu, cada um deles fica apenas com oitenta mil, e não com os cem mil prometidos, mas ainda assim, João está muito contente, pois sabe que trabalhando de pedreiro, levaria cinco anos para ganhar esse valor, que consegui em um mês de trabalho. Ele usa parte do dinheiro para construir uma nova casa para seus pais, já que a que eles moram estava deteriorada pelo passar dos anos, João imaginou que comprar os materiais e pagar para construírem uma nova casa no mesmo terreno, chamaria menos a atenção, do que a compra de um imóvel novo. Mas o que João não contava, era com o fato de que a “lei” sempre tem uma dedicação toda especial quando se trata de um banco que foi roubado, afinal eles não assassinaram um negro em uma favela, se fosse esse o caso, nada aconteceria, talvez nem mesmo seria investigado. Mas um roubo a banco, roubar de quem tem dinheiro... isso é imperdoável. Quem de fato organizou o roubo, foi astuto e experiente o suficiente para não deixar vestígios, jogando assim a atenção, em cima da mão de obra, de quem fez a parte mais bruta do roubo, pois os que planejaram, nunca seriam descobertos, já João, depois de seis meses do roubo, foi preso. Depois de muito tempo, foi a julgamento, no qual foi constatado que ele já tivera problemas com a lei, desde a adolescência, o que não dificultou muito sua condenação, afinal, um negro com fixa criminal, o juiz não precisou nem mesmo pensar duas vezes. João foi para um presídio, naquela mesma noite um colega presidiário tentou violar seu corpo, ele reagiu e foi espancado até a morte.
            Fabio hoje é dono de uma rede de hospitais, que conta com um hospital de porte médio, um de pequeno porte e mais três clínicas de médio porte em cidades diferentes, seu lucro mensal limpo, passa de um milhão e meio.
            SEGUNDO O SISTEMA CAPITALISTA, FABIO E JOÃO TIVERAM AS MESMAS OPORTUNIDADES DE VIDA, FABIO HOJE É UM HOMEM RICO E BEM SUCEDIDO, PORQUE SE DEDICOU E SE ESFORÇOU MUITO PARA CHEGAR A ONDE ESTÁ, ENQUANTO JOÃO MORREU NO PRESIDIO, PORQUE ERA SÓ MAIS UM BANDIDO VAGABUNDO, QUE NÃO QUERIA TRABALHAR.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

NOTÍCIAS DIFÍCEIS


     As pessoas se enganam pensando que um psicólogo, psicanalista ou terapeuta psíquico em geral, consegue dar uma notícia difícil, como de um adoecimento ou morte, de maneira que não faça a pessoa sofrer. Pensar isso é uma tolice, se uma pessoa ama alguém, ou tem um forte vinculo com essa pessoa, não existe uma forma de dar uma noticia de morte ou doença grave, sem gerar nenhum sofrimento ao sujeito. A capacidade de um psicólogo em dar essa noticia, ou preparar alguém para dar esta, está mais na reação e compreensão do próprio psicólogo, do que nas palavras utilizadas, não existem palavras que isentem alguém da dor de perder um familiar, ou saber que a própria vida tem uma data marcada para terminar, mas existem sim palavras capazes de agravar isso, a tarefa do terapeuta, é não utilizar essas palavras e ensinar a quem tem a função de dar tais noticias que também não utilize tais palavras.
      O erro começa em você pensar que pode dar uma noticia difícil sem que o sujeito sofra, pois esse pressuposto já demonstra que você está desconsiderando o direito dele de sofrer e o sentido e função de seu sofrimento. Para humanos em geral, é tão difícil dar noticias de morte, ou de doença grave, porque nos deparamos com nossos próprios medos desses assuntos. Esse é o primeiro passo a ser superado, se esforçar para anular a nossa própria dor, a ponto de ser capaz de auxiliar o outro com a dor dele. Outro grave erro que cometemos, é partir do pressuposto da dor e não aceitar nenhuma reação diferente dela. Quando damos a noticia de que alguém morreu para outra pessoa, nossa construção social nos leva a acreditar que essa pessoa vai sofrer. Ainda mais se era um parente ou alguém próximo, e muitas vezes nos é inconcebível pensar em uma possibilidade de reação diferente, quando estamos tomando nossa própria história de vida, para determinar a reação dessa pessoa. Por exemplo, uma filha pode se alegrar muito com a morte de seu pai, ou ficar aliviada, comemorar por sinal e não cabe a nós julgar o porque ela está feliz do pai ter morrido, muito menos nos cabe afirmar que isso é errado ou ruim, porque o mesmo imbecil que afirma que ela não deveria se alegrar com a morte do pai, é o mesmo imbecil que irá lhe dar total apoio, assim que descobrir que o pai a espancou e estuprou por anos a fio, sem que ela pudesse reagir ou fugir. Nós não temos condição nem direito algum de julgar os sentimentos alheios.
      Mas porque psicólogos são considerados mais habilitados a dar essas noticias então? Justamente por ter a compreensão explicada no parágrafo anterior. Por o psicólogo saber, ou ao menos espera-se que saiba, quando é um bom profissional, por ele saber que seus sentimentos não são os mesmos do outro, e que diante desse, só os sentimentos do outro importam e tem valor, não cabendo a ele manifestar nenhum julgamento, ele tem condições de dar uma noticia que pode ser dolorosa, mas sabendo que ela também pode não ser. E desse modo respeitar a reação do sujeito, entendendo que se ele chora ou ri com a noticia que trago, é uma reação que essa pessoa tem a situação e é dela, não nem certa nem errada, é apenas dela. Isso possibilita um respeito aos sentimentos do outro, sejam eles, quais forem.
    Claro que existem palavras mais assertivas que podem ser utilizadas, mas a compreensão do exposto aqui anteriormente, é muito mais importante de com que palavras alguém irá dar uma noticia. Compreender que se noticia for dolorosa para a pessoa, ela vai sofrer indiferente como eu de essa noticia e que se ela não sofrer, ela tem o direito inclusive de estar alegre com uma noticia que para mim seria triste, esse passo é mais valioso que a escolha de palavras. Porém, existem palavras capazes de jogar sal em uma ferida aberta, evita-las é um bom começo na direção de um acerto.
    Qualquer manifestação do EU da pessoa que trás a noticia, é sempre ruim, pois a noticia não está sendo recebida por você, então fazer afirmação de eu estou sofrendo tanto quanto você, ou eu faria tal coisa, ou eu passei por isso, toda manifestação do EU é errônea, pois cada sujeito é único, não interessa o que você pensa e faria, porque a pessoa irá pensar e fazer por ela própria. Os sentimentos são dela e não seus, e será impossível para você saber como ela se sente, porque você não é ela.
      Frases clichês são outra coisa a se evitar manifestar, do tipo, ao noticiar a morte de alguém, afirmar: “Ah, ele foi para um lugar melhor!” — “Por que você não vai junto com ele, para esse lugar melhor então?”. Você não sabe se a pessoa acredita em qualquer tipo de vida após a morte, ou se ela segue qualquer religião, quem é você para dizer que uma pessoa que morreu, foi para um lugar melhor, se nem mesmo sabemos para onde nós vamos após morrermos? Se é que vamos para algum lugar. Partir de crenças minhas para falar da vida do outro, é sempre um grave erro.
      Qualquer outra frase pronta será ruim: “Vai passar”, “Nem foi tudo isso”, “não fique assim”... Você não sabe se vai passar, tem pessoas que recebem a noticia de uma doença grave e cometem suicídio, para ela passou, mas eu imagino que não era isso que você pensava quando afirmou que iria passar. Não de ao outro, certezas que você mesmo não tem.
      A escolha excessiva de palavras pode trabalhar mais contra do que a favor de uma noticia difícil, pois o sujeito ficará cada vez mais irritado e produzindo mais fantasias a respeito e nossas fantasias podem ser muito mais danosas, do que a realidade. Sempre que uma noticia tem que ser dada, é importante que ela seja sucinta e compreensível, após dar a noticia, de acordo com o que a pessoa manifesta como interesse saber, você vai esmiuçando, mas não por pressuposto do que você acha importante ela saber e sim de acordo com o que ela demonstra estar interessada.
    As pessoas tem o péssimo hábito de querer falar, quando deveriam apenas ouvir, não tente dizer a respeito da pessoa, do que é melhor para ela, ou do que ela deve ou não fazer, pois você não sabe essas informações. Apenas ouça o que ela sente, deixe-a falar o que pretende fazer ou pensa, se é que ela tem interesse em falar para você, pois pode ser que ela só queira ficar em silencio, talvez ela nem queira a sua companhia, talvez só queira ficar sozinha.
    Notícias difíceis, sempre serão difíceis, muitas vezes mais difíceis para quem noticia, do que para quem recebe. E não temos como torna-las fáceis, temos como não torná-las ainda piores.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

CRITICA AO FILME ELE ESTÁ DE VOLTA


         Um filme que mistura humor, com indignação, crítica social e realidade atual. Há muito tempo não via um filme que misturasse tantas coisas, sem ser confuso e mantendo uma absurda coerência.
          O contexto é dois mil e quatorze, misteriosamente uma figura se intitulando Hitler, surge na Alemanha. Com carisma, conquista milhares de pessoas as tornando suas admiradoras, utilizando um discurso de critica política e combate a corrupção do país.
    O personagem é carismático e mesmo com a população considerando sua atuação um quadro de humor, rapidamente são cativados por suas ideias.
        É interessante como a população aceita com facilidade um discurso fascista, não é surpreendente, ainda mais no contexto brasileiro atual, mas é interessante, que não se precise mentir a respeito do fascismo. Se um político pretende promover o fascismo, não precisa escolher meias palavras, nem esconder seus objetivos, pois seu discurso fascista cativa o fascista existente dentro de cada ser humano.
          O filme segue em um tom humorístico, mesmo em cenas que deveriam ser muito impactantes, isso faz com que ao assistir, sinta-se uma mistura de vontade de rir, chorar e vomitar. Não sei se todos que o assistem passam por essa experiência, mas a mim, que estudei muito a respeito do nazismo e presencio uma situação política contemporânea preocupante, me causou um enorme misto de sensações. Fica ainda mais claro e evidente para mim, que o fascismo não é produzido a força nos que o apoiam, ele é uma conquista, quem é contrario a ele, luta, mas quem apoia, não foi forçado a apoiar o fascismo, apenas encontrou na boca de outro, as palavras da própria revolta. A pequenas doses, se convence a população, que em nome de uma nação se pode fazer o necessário, de inicio, apenas gritar, depois torturar, matar... E tudo segue em um clima de humor e naturalidade, como se o fascismo fosse uma forma de vida comum e não um crime contra a humanidade.
           Um excelente filme, mas uma triste realidade.

SOBRE O FIM DO GOOGLE PLUS E PORQUE NÃO USO FACEBOOK




       Comecemos com o porque o Filosofia Da Psique não tem Facebook e gostaria de não precisar recorrer a ele. O primeiro motivo para nosso projeto não estar no Facebook e o mais importante de todos, é ideológico, pois como bom Nitzschiano, sou contrario a todas as formas de idolatria e coloco isso como um padrão ético de nosso projeto. Desde o começo dessa rede social, quando eu mesmo nem utilizava internet ainda, algo que sempre me gerou repulsa, foi à idolatria desenvolvida pela imensa maioria que utiliza essa rede, tanto que até os dias atuais, quando informo que não tenho Facebook, as pessoas se espantam. Eu me espanto quando alguém quer falar sobre política, sem ter lido Maquiavel, isso me espanta, alguém ter ou não uma rede social me é irrelevante.
            Mais tarde, eu teria outro motivo para não utilizar essa rede, pois quando tive de fato acesso a ela, me causou enjoo, ver a quantidade de poluição visual existente, menus desnecessários, publicidades e tantas outras inutilidades sujando a tela do computador. Tive essa triste experiência na época que comecei com o canal do Youtube, pois buscava uma forma de divulgar nosso trabalho e fazê-lo atingir um publico maior, nesse mesmo período conheci uma pessoa muito importante para o começo de nosso trabalho, que me ajudou a divulgar o canal e me apresentou ao G+ (Google Plus) como uma alternativa de dar visibilidade aos vídeos. Comecei a utiliza-lo logo no começo do canal, e com o tempo passei a aprecia-lo muito, primeiro porque sempre foi uma rede social muito versátil, possibilitando compartilhamento de vídeos, links, imagens, apenas textos, além de gifs, isso muito antes de todas as outras redes sociais permitirem o compartilhamento desse tipo de arquivo. O segundo motivo para gostar do G+, é seu visual extremamente minimalista, sem excessos e sem publicidade, bastante limpo. Infelizmente com o passar do tempo, a Google foi realizando péssimas atualizações no seu produto, a cada atualização cem por cento desnecessária, junto vinha alguma falha, ou era o contador de seguidores, que variava de número, ou os comentários em postagens que desapareciam, ou as notificações tendo problema de visualizações, ainda assim, até o momento atual, o G+ se demonstra a melhor rede social disponível, com mais recursos e menos poluição visual, sendo muito organizado e estético, mas infelizmente ao que tudo indica, ficaremos sem ele, pois estão saindo noticias em vários lugares, blogs e sites, sobre o fim dessa rede social, devido a falhas inclusive de segurança, dos dados de seus usuários, para o Filosofia Da Psique, é uma triste notícia, pois o G+ fez parte do nosso projeto por esses quase quatro anos de trabalho, sendo uma importante ferramenta, para a divulgação dos vídeos, e para o compartilhamento de informações e conteúdos, de vários gêneros, principalmente, de psicologia, psicanálise e filosofia. Mas nos adaptaremos, nunca usei o Facebook e pelos motivos já citados, possivelmente não o usarei, mas nosso projeto conta com esse Blog, que possivelmente terá postagens mais frequentes caso ocorra de fato o fim do G+, assim como a página do Instagram, na qual seguiremos postando as imagens e textos curtos que fazem parte do nosso trabalho. Claro, não esqueçamos que o nosso principal meio de comunicação, o mais popular, conhecido e usado, nosso canal do Youtube, segue com seus mais de quinhentos vídeos.
         Para quem gosta do nosso trabalho, e vem nos acompanhando ao longo desses quase quatro anos, fica a dica, para se ainda não é inscrita ou inscrito em nosso canal, acessa, se inscreve e acompanha o trabalho por ele, assim como pela nossa página do Instagram. O G+ tendo ou não seu fim, seguiremos com o trabalho do Filosofia Da Psique, como já fazemos a anos, caso fiquemos sem internet, seguiremos em praça pública, mas iremos parar de compartilhar o conhecimento que adquirimos e lutar por um mundo melhor, com menos ignorância, que é a origem de todos os males.
         Não se esqueça, caso você tenha conta da Google, pode seguir esse Blog, caso não tenha salve o endereço em seus favoritos, para estar acompanhando nossas postagens, e se inscreva no canal e no Instagram, para não perder o contato com nosso projeto, cada pessoa que nos segue e acompanha nosso trabalho, é de grande valor para nós.