sábado, 24 de março de 2018

ERROS BANAIS QUE ATÉ MESMO PSICANALISTAS COMETEM AO FALAR SOBRE PSICANÁLISE


        

            
           Atribuir a descoberta do inconsciente a Sigmund Freud: “O conceito de inconsciente por muito tempo esteve batendo aos portões da psicologia, pedindo para entrar. A filosofia e a literatura quase sempre o manipularam distraidamente, mas a ciência não lhe pôde achar uso. A psicanálise apossou-se do conceito, levou-o a sério e forneceu-lhe um novo conteúdo. Por suas pesquisas, ela foi conduzida a um conhecimento das características do inconsciente psíquico que até então não haviam sido suspeitadas, e descobriu algumas das leis que o governam.” (Freud 1940)
            Afirmar que Freud atendeu Schreber: O Caso Schreber é um caso de estudo e não um caso clínico. Freud não atendeu psicóticos, alias ele nem mesmo acreditava que a psicanálise poderia tratar as psicoses, apenas as neuroses. Quem vai de fato se aprofundar na clínica psicanalítica da psicose é Lacan.
            O caso Schreber foi escrito por Freud com base na leitura do livro do próprio Schreber, assim como ele fez a analise de Leonardo da Vince e Moises, através de livros e relatos históricos.
          Atribuir o desenvolvimento da psicanálise exclusivamente a Sigmund Freud: Freud é apenas uma parte da história da psicanálise, é quem a assumiu e suportou todas as consequências geradas por essa nova área de conhecimento, mas a construção dela teve a participação de varias pessoas, duas das mais importantes citadas amplamente por Freud, são: Josef Breuer e Jean Martim Charcot. Mais tarde varias pessoas se envolveram e fizeram suas contribuições, Jung, por exemplo, é frequentemente citado por Freud, apesar das desavenças, mais por parte de Freud do que de Jung, Freud continuou utilizando vários conceitos cunhados por Jung, e o citando em suas obras.
       Defender a vida pessoal de Freud, ou a condição de sua personalidade com maior empenho do que defende a própria psicanálise: Que Freud tinha uma personalidade difícil, para não dizer quase impossível, não é novidade, não a toa que tantas pessoas o abandonaram. O uso de cocaína menos ainda seria segredo, já que o próprio Freud fala sobre isso em correspondências. O que muitos psicanalistas perdem de vista, é que não importa o que Freud fazia, mas sim a teoria que ele criou.
            O Fato de ele utilizar cocaína, ter uma personalidade difícil, etc. não fala da teoria psicanalítica em si, fala sobre a vida pessoal de Freud, pode até ser que esses fatores influenciaram em algo, mas não invalidam a teoria.
           O que os psicanalistas tem que entender é que o fato de Amy Jade Winehouse ter morrido por consumo de álcool e Chorão até onde sabemos ter morrido por uso de cocaína, não muda a qualidade da musica deles, continuaram sendo alguns dos maiores nomes da musica e sua musica continuará sendo de excelente qualidade, indiferente a vida desregrada que levaram. Não temos que nos dar ao trabalho de defender a vida pessoal de Freud, pois o interesse é na sua obra, não quero me casar com Freud, mas sim, utilizar a psicanálise para uma compreensão de sujeito e mundo. O que me interessa são a consistência e qualidade da teoria psicanalítica.
          Atribuir à escrita do caso Anna O a Freud: Esse é um erro que eu mesmo já cometi no inicio de meus estudos psicanalíticos. Devido a Freud ter escrito o volume dois de suas obras, Estudos Sobre a Histeria, em conjunto com Breuer, torna fácil confundir de quem seria a autoria de quais textos. Algumas pessoas cometem um erro ainda maior, de afirmar que a Anna O seria paciente do Freud, até onde sabemos Freud até chegou a atendê-la, mas no livro a descrição é do atendimento realizado por Breuer e não Freud. E segundo o que consta, foi escrito pelo próprio Breuer, apesar de eu ter suposições diferentes, a escrita me parece muito freudiana, suspeito que Freud tenha escrito segundo o que Breuer o relatou e apenas colocou o nome de Breuer no texto. Mas isso são apenas suposições sem provas.

            Esses são os principais erros cometidos por quem conhece a psicanálise, mas às vezes não leu com a atenção devida, ou não leu todas as obras freudianas e acaba falando coisas que contrariam o próprio Freud.
            Agora vamos ver um pouco sobre os graves erros cometidos por pessoas que nada sabem de psicanálise e acabam pronunciando um monte de asneiras ridículas.

          Misturar psicanálise com religião: Foi o principal motivo da briga de Freud com Jung e uma das principais criticas dele ao longo de muitas obras. Freud considera a religião uma doença inútil à humanidade, com ele apresenta na obra O Mal-Estar na Civilização. O cumulo da ignorância é alguém utilizar psicanálise freudiana para qualquer aspecto religioso.
        Falar sobre sexualidade como se fosse sinônimo de ato sexual ou genitalidade: Como mencionei, esses são erros ridículos cometidos por quem não leu se quer duas páginas sobre psicanálise. Sexualidade se refere ao desejo, a pulsão de vida, o que nos faz desejar e buscar o prazer na realização do desejo. O ato sexual é um parte mínima da sexualidade.
           Falar sobre o uso de cocaína por parte de Freud, como se o consumo fosse do mesmo modo que o recreativo atual: Quando Freud utilizou a cocaína, foi como forma de medicamento, não um uso recreativo. Traduzindo em palavras leigas, Freud não tomou cocaína para ficar “chapadão”, mas sim como um repositor energético. E não, eu não me enganei ao escrever que Freud TOMAVA cocaína, era exatamente desse modo que ele consumia, não injetava, nem cheirava, ele tomava como qualquer medicamento na época, assim como hoje tomamos um remédio para dor de cabeça.
           Falar de casos mal sucedidos do Freud como se fosse um segredo: Freud nunca disse que todos os seus casos foram bem sucedidos e nunca guardou segredo dos casos mal sucedidos, tanto, que publicou alguns deles, como é o caso Dora. Freud publicava seus erros, justamente para que outros pudessem fazer de outro modo e talvez acertar. Então falar dos erros de Freud é “chover no molhado”, pois ele próprio fala de seus erros em suas obras, isso não é novidade e nem de longe um segredo.
         Falar que a homossexualidade é perversão como se isso fosse algo ruim: Esse é certamente de longe o erro mais imbecil de todos. Freud disse sim que a homossexualidade era perversão, assim como o beijo na boca, assim como o sexo oral e qualquer outra prática preliminar do ato sexual, isso porque todas essas práticas pervertem a função original do ato sexual, que é a exclusiva reprodução, mas Freud nunca disse que isso deveria ser combatido, apenas afirmou que tudo que não seja com finalidade exclusiva reprodutiva, é uma perversão da função original do ato sexual, cometida por todos nós por sinal.
      Falar sobre psicanálise Freudiana na atualidade sem atualizações: Esse também é um erro cometido por quem não estudou absolutamente nada de psicanálise. Tomam a psicanálise freudiana e esquecem do contexto social no qual ela se desenvolveu, criticam o fato de a psicanálise freudiana se nortear pela ideia nuclear de família, mas esquecem que até uns cinquenta anos atrás, ainda se utilizava expressões como: Filho bastardo, mulher apartada, filho ilegítimo. É muita ignorância esperar que Freud escrevesse a cem anos atrás, com conceitos que seriam desenvolvidos apenas setenta anos mais tarde, a noção ampla que temos de família, é totalmente atual, e nem mesmo é aceita por todos, está cheio de ignorantes por ai defendendo que família é só pai, mãe e um casal de filhos loirinhos de olhos azuis. Mas ainda assim as pessoas criticam a psicanálise freudiana, pela ideia de núcleo família, inclusive, sem estudar para saber que os psicanalistas atuais seguem o entendimento de família amplo da psicologia atual, que a família nuclear é uma definição de um dado momento e período histórico.

       Eu sempre afirmo: “ninguém é obrigado a saber nada, mas todos são ética e moralmente obrigados a manter a boca fechada sobre aquilo que não sabem”. Infelizmente temos um grande número de pessoas falando sobre coisas que nunca estudaram ou leram. Com a psicanálise não é diferente, tem um monte de ignorantes, criticando-a por causa de uma frase solta que ouviram, nem sabem de onde veio, quem escreveu e em que contexto. Assim como temos pessoas que a estudam de maneira superficial, não se atualizam e acabam pronunciando coisas incoerentes ou desatualizadas que acabam descredibilizando a área.